A história da vida é - contam os botânicos - protagonizada por plantas. No início, existia a pequenina alga, que, da água, olhava para o alto e ambicionava ser flor. Depois, a alga fez-se musgo, o musgo feto, o feto pinha e a pinha transformou- -se, finalmente, em flor. E assim a alga concretizou o seu sonho. .Considerado por muitos um dos mais belos da Europa, o Jardim Botânico de Coimbra, onde vivem plantas de todo o mundo, esconde em cada recanto histórias de sobrevivência. Como a da célebre centenária "figueira estranguladora", cujas raízes, para se poderem expandir, abraçaram mortiferamente a "vizinha" palmeira, que acabou por sucumbir à árvore com a maior copa do jardim. .São histórias que mostram que a existência das plantas é muito semelhante à do ser humano, que, tal como elas, compete com os restantes por um espaço. O pequenino Daniel, de olhos esbugalhados, ouve com atenção a história dos habitantes do jardim. Veio com mais quatro dezenas de colegas da escola da Amadora, para descobrir este mundo novo e nem a chuva, que vai interrompendo com alguma teimosia o passeio pela Alameda das Tílias, consegue abalar o entusiasmo do menino de quatro anos. .Sempre que o Sol se esconde e vem chuva, o Botânico dá aos visitantes uma aliciante alternativa uma viagem pelo exotismo dos climas tropicais. Pelas plantas de café, mangueiras, bananeiras, abacateiros, antúrios "rabinho-de-porco", inúmeras espécies de orquídeas, "sapatinhos da Madeira", arbustos e/ou fetos arbóreos. À Joana, de sete anos, as estufas parecem "uma selva"..Nos ramos da árvore baloiçam flores de três cores - roxo-escuro, roxo-claro e lilás - que, quando envelhecem, se tornam brancas e caem. "Ah! Ficam brancas como os nossos cabelos quando somos velhinhos", diz uma menina. "Pois. São como nós", conclui..ANIMAIS. No passeio pelos monumentos botânicos do jardim visita--se ainda Borboletas eInsectosdeMileUmaCores - a mais recente exposição do Botânico, onde estão incluídas espécies de borboletas portuguesas em diferentes fases do seu ciclo de vida. É que, prossegue a bióloga Ana Cristina Tavares, "as plantas são amigas dos animais, que se escondem dos predadores nas suas folhas". "Oh! Está aqui um desenho de uma borboleta que parece uma folha", constata a atenta Cíntia, de cinco anos, enquanto gesticula e recapitula o ciclo de vida das borboletas "ovos, lagartas, crisálidas e imagos". .Refugiadas numa minúscula estufa estão as plantas que não gostam dos animais as carnívoras, que, por viverem em habitats pobres, atraem insectos para se alimentarem. "E têm dentes?", pergunta Catarina. Não, mas têm uma espécie de "pêlos colantes" com que "caçam" os insectos. A "papa- -moscas" intriga os meninos. Esta planta insectívora - Nepenthes - tem autênticos estômagos, chamados reservatórios digestivos, para onde as moscas são atraídas e presas para, depois, serem lenta e progressivamente digeridas. .Após hora e meia de visita guiada, as plantas que "comem os pobres animais" conseguem finalmente reconquistar a atenção das crianças, que, desta vez, não puderam ver os esquilos, que, desde 1994, fazem parte do ecossistema do jardim. Fica para a próxima.