Está a acontecer muita coisa na Europa neste momento: o reaparecimento da divisão entre o leste e o ocidente, o pânico em relação à situação orçamental da Itália e, claro, o brexit. As mudanças mais subtis na política alemã não são, à primeira vista, tão espetaculares, mas podem, a longo prazo, ter um impacto profundo na maneira como funciona a União Europeia..As eleições da semana passada na Baviera deram-nos uma ideia da dupla natureza da mudança. Uma é do centro-direita para a extrema-direita, a outra do centro-esquerda para Os Verdes. A União Social Cristã, o partido bávaro irmão de Ângela Merkel, perdeu cerca de dez pontos percentuais. Foi um mau resultado, embora não tão mau quanto o previsto..A Alternativa para a Alemanha, um partido de extrema-direita, obteve cerca de 10%, o mesmo que outro partido de centro-direita. A soma global das forças da direita não mudou muito, só que a CSU está agora muito enfraquecida..O segundo efeito, e mais dramático, foi a mudança do Partido Social Democrata para Os Verdes. O SPD perdeu metade dos seus eleitores na Baviera. Os Verdes já não são apenas o novo partido da moda à esquerda, passaram agora também a ser o maior..A sondagem nacional mais recente deixou a CDU/CSU com 27%, Os Verdes com 20% e o SPD com 14%. Para os observadores da política alemã, estes números são surpreendentes. Os Verdes também se tornaram a maior força política em muitas áreas metropolitanas, incluindo Munique..Porque é que a política alemã se está a afastar dos dois partidos do centro? Há razões cíclicas e estruturais que se sobrepõem. A razão cíclica é que o SPD cometeu um erro estratégico ao entrar numa grande coligação, a terceira desde 2005. Se, ou melhor quando, o SPD decidir sair, penso que a sua posição irá melhorar..O que torna a situação mais perigosa é a tendência demográfica subjacente. O SPD não é apenas o partido político mais antigo da Alemanha. Os seus membros são os mais antigos também. O SPD costumava ser o partido das classes trabalhadoras, professores e intelectuais de esquerda. Uma de suas principais bases de apoio tem sido a chamada "geração de 68", os estudantes de esquerda que protestavam nas ruas de Berlim e Frankfurt no final dos anos 60 contra a situação política estabelecida..De acordo com uma recente análise demográfica dos partidos políticos da Alemanha, o SPD tem a maior percentagem de membros com idade superior a 60 anos - 54% do total. E tem também a menor percentagem de eleitores jovens..O envelhecimento dos eleitores e membros prendeu o SPD a políticas económicas e sociais com as quais os jovens têm dificuldade em se identificar. O partido apoiou fortemente a lei constitucional que impede o país de incorrer em défices orçamentais. Uma consequência importante e previsível disso tem sido a diminuição do investimento no setor público, o que, por sua vez, diminui as taxas futuras de crescimento económico..As evidências das infraestruturas em ruínas estão por todo o lado. A Alemanha tem uma das piores redes de telemóvel da Europa. Uma recente averiguação oficial sobre o estado das pontes das autoestradas do país mostrou que 11% não são consideradas seguras..Isto é o que acontece se o objetivo obsessivo de uma política orçamental for gerar excedentes anuais. Ao adotar políticas que deprimem as taxas futuras de crescimento económico, a coligação no poder está a pôr os interesses dos idosos acima dos interesses dos jovens..Muitos países da UE também estão a viver o afastamento dos partidos tradicionais do centro. Em Espanha, o Ciudadanos, um partido liberal, criou um grande nicho no centro. Emmanuel Macron e o seu partido La République en Marche! fizeram o mesmo em França. Os socialistas franceses cederam o seu domínio da esquerda à La France Insoumise, um partido da esquerda radical liderado por Jean-Luc Mélenchon. A Itália é governada por dois partidos: o Movimento Cinco Estrelas, um partido que desafia a habitual classificação esquerda/direita, e a Liga que é de extrema-direita. O centro antigo está em retirada em todo o lado..Não creio que as atuais sondagens para as eleições europeias de 2019 façam justiça às múltiplas mudanças que estão a ocorrer atualmente na política europeia. As sondagens sugerem que os partidos tradicionais conseguirão manter o poder nessas eleições. Mas o cenário está constantemente em mudança, e em direções diferentes. Os resultados eleitorais podem mudá-lo ainda mais..O Partido Popular Europeu de centro-direita ainda emergirá provavelmente como a maior família do Parlamento Europeu. Mas poderá deixar de estar em posição de formar coligações efetivas..O fim iminente do reflexo da grande coligação, em Berlim e Bruxelas, poderia, em teoria, tornar a política europeia mais diversificada. Mas num sistema que requer maiorias qualificadas para fazer qualquer coisa, pode igualmente acabar por causar um impasse..© The Financial Times Limited, 2018.