O brasileiro Everton tem demorado a afirmar-se no Benfica de forma consistente e a justificar o investimento (20 milhões de euros) feito pelo clube da Luz no verão de 2020. Mas o treinador que o lançou como profissional, no Grêmio, acredita que o extremo canarinho de 25 anos ainda vai dar muitas alegrias aos benfiquistas e garante que o verdadeiro Cebolinha (nome pelo qual é tratado) é aquele que se mostrou no domingo frente ao Sp. Braga, na goleada por 6-1, para a qual contribuiu com dois golos e duas assistências.."É um jogador de enorme potencial. E acredito que em breve o Benfica ainda vai vender o Everton por muito mais de 20 milhões de euros. O Benfica vai ter um bom retorno financeiro, como também terá dentro do campo. Vai dar muitas alegrias ao clube e aos adeptos", disse Marcelo Mabilia ao DN, o treinador que o lançou na equipa principal do Grêmio em 2014, com apenas 17 anos, e que atualmente é empresário de jogadores..YouTubeyoutubekaudh8kOMGc.YouTubeyoutubeF2lvsdeJM-U.Marcelo puxou a cassete atrás e recordou o miúdo que chegou do Ceará e em poucos anos tornou-se num ídolo do Grêmio. "O clube passava por uma crise financeira e na altura foi adotada uma política de contratação de jovens que já se destacavam em outros clubes, para jogarem nos sub-20 do Grêmio e para rapidamente passarem à equipa principal com o objetivo de serem vendidos. O Everton foi um deles, chegou ainda juvenil, para os sub-16", contou.."Vi logo que estávamos perante um talento. Destacava-se sobretudo em dois aspetos: no um contra um ofensivo, próximo da área, a driblar os adversários, e pela enorme capacidade técnica na finalização. Trabalhámos muito essas características com ele, para as aperfeiçoar. Era um jogador moderno, que fazia como ninguém as transições defensivas graças à sua velocidade. E no dia em que peguei na equipa para começar o campeonato Estadual, porque a principal treinada pelo Vanderlei Luxemburgo estava a preparar a Libertadores, apostei nele. A aposta foi claramente ganha", prosseguiu..Marcelo Mabilia não tem dúvidas sobre a posição no campo onde o brasileiro rende mais. "Ele destacou-se sempre mais a jogar como extremo sobre a esquerda. Essa é a posição em que se sente mais à vontade. Gosta de jogar aberto pela esquerda e se o tiram dessa posição não rende a mesma coisa. Tem uma capacidade técnica, tática e individual para decidir jogos", descreveu..O antigo treinador reconhece que na altura, apesar do grande talento, não acreditava que o jogador pudesse chegar tão cedo à seleção brasileira. "Não pelo seu talento, que isso era inegável, mas pelo facto de o Brasil ter grandes jogadores para aquela posição do campo. A começar pelo Neymar", atirou, recordando que Everton fez "uma grande Copa América" e que em breve, caso se dê bem no Benfica, pode voltar a ser chamado pelo selecionador Tite..Marcelo reforça que os adeptos do Benfica só agora contra o Sp. Braga viram a melhor versão de Everton. E acha que esta demora em mostrar-se pode ter explicação na adaptação. "Há sempre um período de adaptação. O futebol praticado no Brasil e na Europa é diferente, a mudança para Portugal com filhos pequenos e família não é tão simples como parece. Mas o Jorge Jesus conhece-o muito bem, pois ao serviço do Flamengo defrontou-o dezenas de vezes. Sabe que ele é jogador para decidir jogos, como agora com o Sp. Braga. Depois há outra questão: uma coisa é ser craque no Brasil, outra é ser craque na Europa. No período em que ele esteve no Grêmio era o craque da equipa. Fez muitos jogos e foi decisivo tanto no campeonato como na Libertadores", lembrou..O antigo treinador não se recorda de nenhum episódio em especial que tenha vivido com o Cebolinha (alcunha dada por um colega por ter semelhanças com a famosa personagem da Turma da Mônica, por causa do corte de cabelo). "Era um menino quieto, trabalhador e bem comportado. Recordo-me apenas que fazia tatuagens pelo corpo todo", referiu, admitindo que não tem grande contacto com o jogador: "Passaram tantos pelas minhas mãos, que fica difícil continuar a falar com todos. Não temos contacto, mas sou muito amigo do empresário dele, o Márcio Cruz. E, claro, como no caso de tantos outros miúdos que treinei, acompanho a carreira dele em Portugal e no Benfica. Torço muito pelo sucesso do Everton.".Longe vão os tempos em que o jogador, nascido numa família humilde numa das regiões mais problemáticas do Brasil, na zona metropolitana da cidade de Fortaleza, no estado do Ceará, e que jogava futebol na rua com bolas feitas de meias, fazia quase 20 quilómetros por dia de bicicleta para poder treinar no Fortaleza Esporte Clube. Agora falta afirmar-se de vez na Luz, para regressar à seleção brasileira e sonhar com voos mais altos, como prevê o treinador que o lançou..nuno.fernandes@dn.pt