O atacante de Christchurch, que matou pelo menos 49 pessoas em duas mesquitas na terceira maior cidade da Nova Zelândia, explicou no manifesto de 73 páginas que escreveu que um dos seus objetivo é criar uma "atmosfera de medo" contra os muçulmanos e "reduzir diretamente a imigração para terras europeias". Reagindo de imediato, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, apontaram o dedo à islamofobia no Ocidente..O australiano Brenton Tarrant, de 28 anos, definiu-se no texto como "um homem branco normal" que decidiu "tomar uma posição para garantir o futuro para o meu povo". Contudo, para o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, ele é apenas um "terrorista violento, extremista, de extrema-direita". Será presente neste sábado a tribunal, para responder por homicídio..Tarrant diz no manifesto que se inspirou noutro extremista: o norueguês Anders Breivik, que a 22 de julho de 2011 matou 77 pessoas em Oslo e na ilha de Utoya, onde se reuniam os jovens do Partido Trabalhista (que acusava de conluio com os países árabes para inundar a Europa de muçulmanos). Tarrant alega até que obteve a bênção de Breivik - que foi condenado a 21 anos de prisão, numa pena que pode ser prolongada para sempre, sendo todos os seus contactos com o exterior controlados..Os eventos de Christhchurch recordaram ainda o ataque de 29 de janeiro de 2017 contra o Centro Cultural Islâmico do Quebeque, no Canadá. Alexandre Bissonette, de 27 anos, matou seis pessoas e deixou 19 feridos. Ou o ataque de Finsbury Park, a 19 de junho de 2017, quando Darren Osborne lançou uma carrinha contra a multidão que saída das orações na mesquita de Londres, matando uma pessoa..Os nomes de Bissonette e Osborne estavam escritos nas armas semiautomáticas e nos carregadores que Tarrant usou nos ataques contra as mesquitas de Masjid al Noor e Linwood. Havia ainda referência a confrontos entre europeus e muçulmanos, até às cruzadas, assim como símbolos de supremacistas brancos, como o sol negro..Na Europa, o número de vítimas causadas por extremistas islâmicos é superior ao dos extremistas de extrema-direita, mas os crimes de ódio contra muçulmanos estão a aumentar. Já nos EUA, um estudo da Liga Anti-Difamação mostrou que, na última década, 73,3% de todas s mortes ligadas a extremismos eram de extrema-direita, contra 23,4% atribuídos a islamitas. Analistas alertam para o risco de as forças de segurança estarem contudo mais atentas a estes últimos do que aos primeiros, apesar de a radicalização poder, em ambos os casos, ocorrer de forma semelhante..Dois anos de preparação.O atentado de Christchurch estaria a ser preparado há dois anos, com Tarrant a escrever que o que o despertou para a violência foi o ataque de um usbeque com um camião em Estocolmo, na Suécia, a 7 de abril de 2017, que matou cinco pessoas - incluindo uma criança de 11 anos..Mas a terceira maior cidade do país só há três meses se tornou um alvo. "Um ataque na Nova Zelândia iria chamar a atenção para a verdade do ataque à nossa civilização, de que nenhum lado do mundo é seguro, os invasores estão em todas as nossas terras, até nas mais remotas áreas do mundo, e que não há nenhum lado para ir que seja seguro e livre da imigração em massa", escreveu no manifesto..Líderes de países onde o islão é a religião dominante reagiram condenando a islamofobia do Ocidente: "Atribuo o número crescente de ataques terroristas à atual islamofobia pós-11 de Setembro, na qual 1,3 mil milhões de muçulmanos foram coletivamente considerados culpados por qualquer ato de terror", escreveu o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, no Twitter, numa referência aos atentados de 2001 nos EUA. "O terrorismo não tem religião", disse.."Parece claro que a perceção representada pelos assassinos começou a dominar rapidamente as sociedades ocidentais como um cancro", disse o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. Já o seu chefe da diplomacia, Mevlut Cavusoglu, disse que o ataque é o resultado da demonização dos muçulmanos. "Não apenas os perpetradores, mas também os políticos e os media que alimentam a crescente islamofobia e o ódio no Ocidente são igualmente responsáveis por este ataque horrível", escreveu no Twitter..Reagindo também ao ataque de Christchurch, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu que o mundo deve "unir-se contra o ódio antimuçulmano e todas as formas de fanatismo e terror"..A violência contra muçulmanos não é exclusiva de supremacistas brancos e extremistas de direita ocidentais. Na última década, mesquitas xiitas ou sufistas no Paquistão, Irão, Iémen ou Egito já foram alvo de atentados perpetrados por grupos como o Estado Islâmico ou outros de ideologia salafistas (a mais fundamentalista dentro do sunismo e do islão). Atentados indiscriminados matam também sunitas.