A investigação ao assalto ao Capitólio em janeiro do ano passado, por uma multidão de apoiantes de Donald Trump entra hoje numa nova fase, com duas semanas de audiências televisivas que prometem cativar a América e mundo..Os sete democratas e dois republicanos, que constituem a comissão da Câmara dos Representantes que está a investigar o ataque, vão tentar estabelecer o que aconteceu exatamente a 6 de janeiro de 2021 e quem ajudou os assaltantes..Uma audiência final em setembro deverá revelar o relatório completo da comissão, divulgando as suas conclusões e recomendações para evitar que tal situação se repita..Alguns republicanos, incluindo o líder da minoria na Câmara, Kevin McCarthy, acusam a comissão de ser partidária e "não conduzir uma investigação legítima" - um argumento que tem sido rejeitado por um juiz federal nomeado por Donald Trump..O painel já emitiu mais de cem intimações e realizou cerca de mil entrevistas, com testemunhas-estrela, como dois dos filhos de Trump - Ivanka e Donald Jr. -, bem como o seu genro e conselheiro, Jared Kushner. Os investigadores recolheram mais de cem mil documentos, incluindo e-mails, mensagens e fotografias oficiais da Casa Branca que permitiram à comissão mergulhar nas idas e vindas em torno da Sala Oval..Quatro dos principais colaboradores de Trump recusaram obedecer à intimações e cinco eleitos republicanos - entre os quais Mc-Carthy - consideraram as intimações para testemunhar como ilegítimas..Revelações sobre quem sabia o quê e quando vieram a público sobretudo através de arquivamentos judiciais de casos civis envolvendo potenciais testemunhas da comissão e casos criminais separados contra os atacantes..Entre as mais explosivas está uma série de mensagens trocadas entre o chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, e congressistas, personalidades dos media e membros da família do milionário a apelar ao presidente para que ele travasse os seus apoiantes e interviesse para que parassem o ataque..Outras mensagens de entre as mais de duas mil entregues por Meadows mostram Ginni Thomas, mulher do juiz do Supremo Tribunal Clarence Thomas, a fazer pressão para que os resultados das presidenciais fossem anulados..Meadows queimou documentos no seu gabinete depois de uma reunião com o congressista republicano Scott Perry, que estava a contestar os resultados das eleições de 2020, segundo o testemunho de um ex-assistente de Meadows..A comissão vai tentar deslindar uma investigação que se estendeu por mais de um ano e transformá-la numa narrativa que "trace um cenário tão claro quanto possível daquilo que aconteceu", afirmou o se presidente, Bennie Thompson, aos jornalistas. Os investigadores esperam estabelecer, através dos testemunhos públicos, o papel que a Casa Branca de Trump teve na campanha para reverter a sua derrota frente a Joe Biden nas presidenciais de 2020..Esses esforços incluíram, alegadamente, um esquema ilegal para enviar para o Congresso falsos "grandes eleitores" - as pessoas apontadas para votar para o presidente no Colégio Eleitoral. Abrangeriam ainda um plano para apreender as máquinas de voto e um complô para adiar a certificação da vitória de Biden através da violência no Capitólio..Os investigadores querem averiguar o que levou ao um adiamento de 187 minutos antes do envio de reforços policiais para proteger o Capitólio e perceber por que há um intervalo de quase oito horas nos registos da Casa Branca das chamadas de Trump enquanto a violência acontecia..Em março, um juiz federal concluiu que é provável que Trump tenha cometido um crime a 6 de janeiro de 2021. Enquanto o Departamento de Justiça está a investigar mais de 800 suspeitos de violarem a lei no Capitólio, a comissão, em si, não tem poderes para acusar alguém. O painel deverá entregar as provas aos procuradores federais, mas ainda não esclareceu se irá recomendar alguma acusação - um gesto largamente simbólico..A comissão vai realizar audiências em horário nobre: às 20.00 horas (mais cinco em Lisboa) desta quinta-feira e no dia 23, e de manhã, às 10.00, nos dias 13, 15, 16 e 21..Os testemunhos deverão ser acompanhados por provas como SMS, fotografias ou vídeos. A audiência de hoje deverá incluir o testemunho da agente da polícia do Capitólio Caroline Edwards, a primeira a ser ferida pelos atacantes, e do realizador Nick Quested, que filmou os primeiros momentos da violência. Deverão também testemunhar J. Michael Luttig, antigo juiz federal que foi conselheiro do vice-presidente Mike Pence, Marc Short, chefe de gabinete de Pence, Richard Donoghue, responsável do Departamento de Justiça, e Jeffrey Rosen, último procurador-geral de Trump..A comissão não se tem mostrado muito entusiasmada em levar o próprio Trump a testemunhar, argumentando que a sua presença dificilmente levaria a um melhor entendimento dos factos..Os seus defensores garantem que o trabalho da comissão é vital para esclarecer um dos episódios mais negros da história da democracia americana e assegurar que nunca se repita. Mas os democratas temem que as audiências sejam vistas como um ataque partidário contra Trump, pondo em causa esforços de reforma bipartidários.."Para a maior parte dos eleitores americanos, as questões principais nada têm a ver com o ataque de 6 de janeiro, infelizmente", afirmou à AFP Mike Hernandez, analista democrata, quando se está a cinco meses de umas eleições intercalares que podem custar a maioria ao seu partido pelo menos numa das câmaras do Congresso. "A inflação, o preço dos combustíveis, os tiroteios nas escolas e os direitos reprodutivos são todas questões que preocupam mais os americanos".