À falta de melhor termo, Philippe Garrel é um cineasta em contramão. A chegada de um novo filme seu às salas, é cada vez mais motivo para acreditar que a desmesurada evolução tecnológica do cinema ainda não dizimou a consciência intimista da câmara. Essa câmara nostálgica, que persegue com subtil obstinação a fotogenia do amor.
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Constante no seu território "fora de moda" - apetece dizer, irresistível e graciosamente démodé - Garrel volta, neste À Sombra das Mulheres, ao preto e branco (a que já regressara em Ciúme) para registar, plano a plano, os movimentos de um casal visitado pelo fantasma da traição. Desta vez, não se trata de um verdadeiro fantasma, como n"A Fronteira do Amanhecer (2008), mas de um discurso em voz off (dito pelo filho, Louis Garrel) que paira sobre o casal Clotilde Courau e Stanislas Merhar, pontuando de ironia a fenda que se abriu na relação. Esse travo irónico, sendo novidade em Garrel, deve-se a Jean-Claude Carrière, conhecido pelas colaborações com Buñuel, que aqui põe um dedo no argumento... Tudo o resto se mantém na especificidade e sedução cinéfila garreliana.
Classificação: ****