O almoço que resultou na contratação de Sérgio Conceição
Não fora um almoço de Pinto da Costa com o velho amigo Luciano D"Onofrio no dia de comemoração do 30.º aniversário da conquista da primeira Taça dos Campeões Europeus pelo FC Porto, e Sérgio Conceição poderia não ter sido ontem o treinador a aparecer ao lado do presidente como sucessor de Nuno Espírito Santo. No dia em que o novo técnico foi oficialmente apresentado no Estádio do Dragão - e prometeu alegrias para os adeptos azuis e brancos no próximo mês de maio -, o líder portista explicou o processo que levou à escolha de Sérgio Conceição. E tudo terá começado, então, à mesa do Restaurante Lusíadas, ao almoço do passado dia 27 de maio.
A revelação, ontem, pela boca de Pinto da Costa, surgiu à boleia do nome de Marco Silva, treinador que entretanto assinou pelo Watford, da Premier League, mas que foi o primeiro nome a ser "badalado" para novo técnico dos dragões. Sem ligar a "badaladas, porque badaladas são nos campanários", o homem que apresentou o 23.º treinador dos seus 35 anos de presidência no FC Porto aproveitou para detalhar o processo da contratação de Sérgio Conceição.
Pinto da Costa admitiu que quando Nuno Espírito Santo, "por proposta do seu empresário Jorge Mendes", sugeriu a rescisão de contrato "porque já tinha outro clube pelo qual assinar [Wolverhampton]", pensou "em três ou quatro treinadores" para a sucessão e que Sérgio Conceição não estava entre eles, devido a ter "renovado pouco tempo antes com o Nantes". Marco Silva foi, portanto, contactado, anuiu sem o nomear diretamente, tal como foram outros técnicos. Mas Pinto da Costa garante que esses contactos pararam quando o tal almoço com Luciano D"Onofrio - o italiano que era diretor desportivo do FC Porto aquando da conquista de Viena, em 1987 - lhe reavivou a esperança de chegar a Sérgio Conceição.
"Quando lhe falei que quem realmente queria para treinador do FC Porto era o Sérgio Conceição, ele disse-me que curiosamente tinha estado com o Sérgio a jantar no dia anterior e que ele lhe dissera que o sonho dele era vir para o FC Porto. E que achava que ele podia libertar-se, até porque estava a viver problemas de saúde na família. E eu disse-lhe: esse é o meu sonho também. E telefonei ao Sérgio." Assim, ao pormenor, desfiou Pinto da Costa o enredo da contratação do novo técnico. E prosseguiu: "Isto passou-se no dia 27 de maio, no Restaurante Lusíadas, às 14.00. Às 16.30, o Sérgio estava no meu gabinete e fiz-lhe a pergunta direta: "Queres treinar o FC Porto?" "Sim!", respondeu-me. "E consegues libertar-te?" "Acho que sim." "Então vai resolver o problema." No dia seguinte ele foi para Paris com o Luciano D"Onofrio para se desvincular do Nantes."
O resto da história é o que já se sabe: Sérgio Conceição acabou por se libertar do Nantes, depois de alguma irritação inicial do presidente do clube francês, e foi ontem, 12 dias e algumas rondas negociais depois, apresentado como treinador para as próximas duas temporadas.
"Vim para ensinar, não para aprender"
Numa cerimónia com alguns momentos emotivos - como aquele em que Sérgio Conceição recordou quando o pai o levou para assinar contrato com o FC Porto, aos 16 anos, um dia antes de morrer -, o passado de sucesso no clube ("quatro títulos" de campeão, fez questão de lembrar, adicionando um de juniores aos três que conseguiu como sénior em 1997, 1998 e 2004) e a forte personalidade demonstrada de dragão ao peito enquanto jogador foram atributos sobejamente lembrados, mas Sérgio Conceição fez questão de não se deixar encerrar no estereótipo redutor do "técnico da casa, exemplo de raça e determinação".
Agora, aos 42 anos, e com sete de carreira nos bancos como treinador principal (começou no Olhanense, em 2011-12, e passou por Académica, Sp. Braga, V. Guimarães e Nantes), garante que é um treinador de corpo inteiro, que chega ao Dragão "para ensinar, não para aprender".
E se, por um lado, promete não abdicar da sua personalidade vincada ("não vou ter problemas em dizer aquilo que penso", prometeu, marcando uma diferença para o antecessor, acusado tantas vezes de não seguir a política de comunicação do clube), por outro também afasta a ideia de que se ganha "aos gritos". "Isso já não existe", frisou, contrapondo com "qualidade e inteligência no trabalho". "Nós temos qualidade e estamos preparadíssimos para este desafio", falou em nome de toda a equipa técnica - o adjunto Siramana Dembelé, o preparador físico Vítor Bruno, o treinador de guarda-redes Diamantino Figueiredo e o fisiologista Eduardo Oliveira.
Nem Messi nem Ronaldo
De resto, numa apresentação em que ficou de fora a recente bandeira de corrupção agitada contra o Benfica, Sérgio Conceição não se mostrou preocupado com a ameaça do penta encarnado nem quis comentar os quatro anos anteriores de insucesso que o deixaram "triste como portista". "Este é um FC Porto novo", frisou, convicto de que "no próximo mês de maio os portistas vão estar bem mais felizes", com o título de campeão nacional, que, assumiu, "é o grande objetivo".
Para isso, e apesar das "conhecidas dificuldades" financeiras que o FC Porto atravessa e que poderão levar "a algumas saídas", tem a certeza de que vai ter "um plantel muito competitivo".
Sobre o mesmo assunto, Pinto da Costa apenas lhe deixou uma certeza: "Não vai ter Messi nem Ronaldo." O resto, logo se verá.
O importante, mesmo, frisou o presidente, é ter Sérgio Conceição, um treinador sobre o qual já tinha a certeza de que em breve estaria no Dragão - "o teu estádio de sonho", disse-lhe -, mesmo antes de ele ir para Nantes, onde, exaltou Pinto da Costa, "fez um trabalho melhor do que o do Zidane no Real Madrid".