O álbum que mudou a música dos Beatles

Editado em dezembro de 1965, 'Rubber Soul' confirmava os sinais de mudança sugeridos em 'Help!' abrindo terreno a outras fontes de inspiração e mudando a forma de trabalhar em estúdio.
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Título: "Rubber Soul"

Data de edição: 3 de dezembro de 1965

Editora: Parlophone

Produtor: George Martin

É ao chegar de mais uma digressão - que incluiu o célebre concerto no Shea Stadium, em Nova Iorque, perante 55.600 pessoas - que os Beatles focam atenções na criação de um novo álbum. E desta vez os métodos de trabalho são diferentes. Não só concentram a criação do disco durante um período apenas (e sem interrupções) entre 12 de outubro e 15 de novembro de 1965, como mudam substancialmente os hábitos da sua ocupação de estúdio. Até então tinham essencialmente seguido as regras da casa. Ou seja, fazendo sessões matinais entre as 10.00 e as 13.00, as da tarde das 14.30 às 17.30 e as noturnas entre as 19.00 e 22.00... As sessões da manhã foram desaparecendo do seu mapa de trabalho e as da noite começaram a prolongar-se pela madrugada fora, muitas vezes até às primeiras horas da manhã.

Todo o alinhamento era feito de canções assinadas pelos Beatles, na sua maioria canções de Lennon e McCartney, duas de George Harrisson e, em What Goes On, pela primeira vez surgia a assinatura autoral de Ringo (ou seja, Richard Starkey). As novas canções mostravam a concretização clara dos sinais de mudança indiciados em alguns momentos de Help!, transportando a música para novas paisagens e desafios. Em Norwegian Wood (This Bird Has Flown) notava-se pela primeira vez a presença numa canção do sitar indiano (que na verdade já fora escutado no score instrumental de Help!), representando o ponto de partida para uma relação maior e mais profunda de George Harrison com a música indiana que teria novas projeções em criações futuras dos Beatles. Em Girl há referencias à música grega. E em The Word visitam-se ao mesmo espaços da soul norte-americana, ao mesmo tempo que se prenunciam texturas e soluções que (tal como em If I Needed Someone) prenunciam caminhos do seu futuro imediato. A única carta fora do baralho, mesmo assim bem integrada no alinhamento, é Wait, uma canção originalmente gravada para Help! que acabou por completar o alinhamento do novo disco.

Editado com o título Rubber Soul, o sexto álbum dos Beatles foi ainda o primeiro no qual no nome da banda não surge creditado na capa. A fotografia coube, uma vez mais, a Robert Freeman. O efeito "esticado" surgiu durante uma sessão de apresentação das imagens, que iam sendo projetadas sobre um cartão com a forma de uma capa. O cartão escorregou, ficou inclinado, e a distorção deu o efeito que conhecemos. Pois ficou essa a imagem que o disco celebrizou. Afastando-se do som merseybeat que caracterizara a primeira etapa da obra dos Beatles, Rubber Soul dava conta de novas ambições na visão musical de uma banda que então tinha consolidado o seu estatuto à escala global.

O álbum enceta uma nova fase de relacionamento com o estúdio como espaço central de trabalho criativo (não admirando portanto que tenha sido este disco um importante estímulo para o feito que Brian Wilson apresentaria poucos meses depois no álbum Pet Sounds, dos Beach Boys). As canções mudavam também o foco temático, afastando-se das pequenas narrativas de romance e felicidade que tinham caracterizado muitas das primeiras canções. Fala-se agora de memórias (In My Life), criam-se personagens (Nowhere Man), e vincam-se marcas autorais. A revolução tinha começado.

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