O álbum que chegou depois de anunciado o fim

Editado em maio de 1970, mas em grande parte gravado antes de 'Abbey Road', o álbum 'Let It Be' chegava às lojas já depois de conhecida a separação dos Beatles.
Publicado a
Atualizado a

Título: 'Let It Be'

Data de lançamento: 8 de maio de 1970

Produtor: Phil Spector

Editora: Apple

Foi o último? Não foi o último? Não é bem um caso da galinha e do ovo... Mas a verdade é que na sua maior extensão, o alinhamento de Let It Be foi criado antes de Abbey Road, se bem que houve sessões posteriores e, claro, a data de edição fez deste, cronologicamente, o último álbum dos Beatles. Foi, aí sem margem para dúvidas, um álbum de gestação difícil. Na sua origem está o desejo, lançado por Paul McCartney, de projetar em volta de um novo disco dos Beatles um sentido de regresso às origens na sua forma de trabalhar. Ou seja, em lugar da progressiva autonomização das contribuições de cada elemento do grupo, que tinham ganho forma nos seus últimos discos, muitas vezes cada qual trabalhando as suas partes sem a presença dos outros em estúdio, o desafio era o de os juntar, de novo, num mesmo espaço, no mesmo momento. E assim, pouco depois de terem concluído os trabalhos no "álbum branco", lançado em finais de 1968, davam por si, juntos, a trabalhar em novas canções.

Além desta ideia (que bem que poderia ser uma variação sobre o conceito "all together now", que é como quem diz, "todos juntos agora"), houve ainda vontade em acompanhar as sessões de criação de um novo álbum dos Beatles por uma equipa de rodagem, que assim captaria imagens para um novo filme sobre os Beatles. E por isso, em vez de se juntarem num estúdio de gravação habitual, os quatro músicos estavam, em janeiro de 1969, num dos grandes e frios estúdios de cinema em Twickenham... Como as imagens do filme (lançado em 1970, com o mesmo título do álbum) bem mostram, o ambiente de trabalho era longe de ser coisa pacífica. Paul McCartney parece tomar aqui a condução do rumo dos acontecimentos, mas as fricções - que se tinham agudizado durante a criação do "álbum branco" e eram de certa forma expressão de um afastamento entre os músicos que se aprofundara quando deixaram de tocar ao vivo - deixavam no ar um tom crispado. George Harrison chegou mesmo a abandonar a banda a meio das gravações, regressando alguns dias depois após novo entendimento nas suas condições.

Em finais de janeiro, perante um cenário de rutura iminente, deixaram os estúdios de cinema e continuaram a gravar no seu próprio estúdio na sede da Apple. E ao cabo de alguns dias de trabalho, a 30 de janeiro, sobem ao telhado onde dão um concerto inesperado, que foi gravado e do qual alguns momentos acabariam por ser usados em disco. O álbum no qual então trabalhavam recebeu como título de trabalho Get Back (e chegou mesmo a ter capa prevista). Mas a sua conclusão foi sucessivamente adiada até que, pelo caminho, gravaram e editaram Abbey Road, deixando estas gravações na gaveta.

Em 1970 as sessões de Get Back ganham nova vida, a dada altura o produtor Phil Spector sendo chamado para as concluir, conferindo ao som tonalidades diferentes, que se evidenciam sobretudo na sumptuosa versão orquestral de The Long And Winding Road, que mereceria críticas de McCartney. Let It Be chegaria à lojas já depois de anunciada a separação dos Beatles, revelando um alinhamento sem um foco específico, mas onde não faltam momentos dignos de figurar entre os melhores da obra dos fab four como um Across the Universe, For Your Blue ou Get Back, além dos clássicos Let It Be e The Long And Winding Road.Apesar de ter dividido opiniões, convenhamos que é um belo ponto final.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt