Não era fria, mas era uma pessoa pouco afetuosa. Os filhos consideravam-na boa mãe mas pouco expansiva no contacto físico. Aos 73 anos, teve um AVC. E mudou radicalmente. Passou a ter uma muito maior capacidade de empatizar, exprimir afeto. É assim que a realizadora Graça Castanheira, 55 anos, conta a metamorfose verificada por ela e irmãos na sua mãe naquele ano de 2004.."Os meus irmãos acharam que tinha sido da experiência de quase morte, mas eu não, parecia-me que tinha sido outra coisa. Ela ficou sobretudo muito afetada na fala; mantinha o pensamento inalterado mas não conseguia verbalizar. E falando com neurologistas e outros médicos percebemos que tinha havido uma recomposição do cérebro, que para compensar o que tinha sucedido numa determinada área, que tinha a ver com o discurso, houve uma comparticipação de outras. O João Lobo Antunes mapeou o cérebro dela e explicou-me que a plasticidade do cérebro permite estas alterações, e a Isabel Pavão, também neurologista, ajudou-me a perceber que a destruição do cérebro da minha mãe fez que ela pudesse expressar melhor as emoções. Não havia outra explicação para aquela modificação do comportamento senão a utilização de outras zonas do cérebro para compensar as danificadas.".Graça não sentiu que a mãe era outra, mas uma pessoa diferente da que tinha sido. "Era a mesma pessoa, exatamente a mesma mãe mas com uma porta mais fechada por causa da dificuldade em comunicar verbalmente e outra mais aberta permitindo-lhe empatizar mais. E senti que ela gostava de estar mais capaz de se entregar." A ponto de após o segundo AVC, que a deixou de tal modo incapacitada que foi preciso pô-la num lar, ter acontecido algo que ainda hoje, quase 14 anos depois, enrouquece a voz da filha. "Costumo dizer que há esperança para todas as pessoas que estão sozinhas porque a minha mãe apaixonou-se no lar. Conheceu lá um senhor com quem passava o dia todo de mão dada." Faz silêncio, hesita. "Na verdade acho que não se apaixonou, estabeleceu uma relação de afeto com aquele homem. Estavam os dois numa situação semelhante, num lugar que não era a casa deles, e valeram-se um ao outro passando o dia de mão dada. Não creio que ela o desejasse - acho que paixão pressupõe desejo -, que tenha sido esse tipo de relação. Mas foi uma descoberta de afinidade.".Por causa dessa experiência, Graça acabou por fazer um documentário, Logo Existo (2006) - ecoando a frase clássica de Descartes "Eu penso, logo, existo" -, sobre pessoas que tinham tido um AVC. "A minha questão no documentário, e que tem a ver com o título, é a divisão cartesiana entre cultura e biologia. Queria perceber onde o corpo terminava e a vontade começava, o que são em nós forças determinadas biologicamente e a personalidade." A pergunta de partida não foi exatamente a deste texto, mas é uma questão conexa. "Estamos no escuro em relação à forma como funcionamos. Tão completamente perdidos. Mas a capacidade que temos de funcionar com os outros, em rede, de cooperarmos, de empatizar e estabelecer afinidades, de nos constituirmos em família, não necessariamente a do sangue, é uma coisa sem a qual não seríamos o que somos.".Trabalho amoroso.A ponto de não sobrevivermos como espécie. Nas espécies sociais, em oposição às espécies associais - aquelas em que os indivíduos podem obter por si mesmos tudo o que necessitam para sobreviver -, o afeto pode ser visto como um mecanismo que visa garantir a colaboração e, portanto, a sobrevivência. Num ensaio de 1998, "O que é o afeto?", os investigadores espanhóis Maria Pilar González, Esteban Barrull et alli definem-no como tal - e como uma espécie de "trabalho" em prol do outro e do seu bem-estar que se manifesta também em sinais e manifestações estereotipadas que visam garantir ao recetor disponibilidade afetiva no devir, como carinho, sorrisos, etc. Mas, advertem - ou não o soubéssemos por experiência própria -, "nem sempre quem exterioriza estes sinais pode proporcionar a ajuda necessária (). Esta divergência entre intenção afetiva e capacidade afetiva real causa frequentes e variados conflitos nas relações humanas". Por outro lado, os sinais afetivos são também "um modo de incentivar a reciprocidade no intercâmbio afetivo, pois o recetor deles sente a obrigação de corresponder ao afeto (potencial) recebido. Se um organismo que realiza um trabalho em benefício de outro, ou seja, que proporciona afeto real ao outro, não emite sinais afetivos, corre o risco de não ser compensado pelo outro." A ideia é que quando ajudamos os outros lhes façamos saber para que "os mecanismos sociais (genéticos e culturais) responsáveis pelo estabelecer de um compromisso e intercâmbio recíproco atuem." Tudo muito interesseiro e egoísta visto deste prisma - mas somos bastante mais, aliás, até os animais são, complexos do que isto..Por outro lado sabemos, através de experiências "naturais" em pessoas - aquelas que ocorrem sem condução científica - e de outras induzidas (em animais) o quanto o afeto "real" e/ou os sinais afetivos são fundamentais para um desenvolvimento "são". O caso tristemente famoso dos órfãos romenos, cuja condição foi descoberta pelo mundo em 1989, após a queda de Ceausescu, é testemunho do quanto a privação de estímulo interpessoal e carinho é lesiva. Deixadas sozinhas dias inteiros nos seus berços, às vezes amarradas, muitas vezes nuas, as crianças armazenadas nos orfanatos daquele país não tinham ninguém com quem interagir fisicamente, ninguém que falasse com elas, lhes desse atenção mesmo quando choravam - e parece haver provas de que eram muitas vezes sujeitas a violência física. As atrozes imagens divulgadas em reportagens televisivas davam testemunho da devastação infligida: crianças emaciadas, de olhar vazio, alheadas, sem sorrisos, evidenciando comportamentos repetitivos, muitas aparentando deficiências mentais e físicas. E estudos posteriores demonstraram que 10% das que foram adotadas após os seis meses tinham dificuldades de socialização e comportamentos descritos como de "quase-autismo"..Um dos cientistas que investigaram o desenvolvimento destas crianças - Charles Nelson, professor de Pediatria e Neurociência em Harvard - refere que, se uma parte dos órfãos manifestava sintomas típicos do autismo, a maioria dos que seguiu manifestavam o seu aparente oposto, a exibição de comportamentos afetivos e sociais "sem critério", ou "indiscriminados", como abraçar e saltar ao pescoço de absolutos estranhos. E conclui, num artigo publicado em abril de 2017: "As crianças que deixaram o orfanato antes dos 2 anos tendem a demonstrar dificuldades sociais menos óbvias do que as que foram adotadas mais tarde ou permaneceram na instituição. Mas o facto de manterem algumas dificuldades sugere que há um período crítico para o desenvolvimento emocional e social. Se as crianças não recebem o estímulo necessário para permitir um desenvolvimento saudável, podem nunca recuperar.".Se muito daquilo que se sabe da relação entre o afeto e o seu efeito no cérebro em crianças se deve a esta experiência de horror, investigação em animais aponta no mesmo sentido. "Os investigadores que estudam ratos perceberam que nem todos os progenitores têm comportamentos adequados em relação às crias. Decidiram que procedimentos maternais adequados eram lambê-las mais, estar sempre a ver onde estavam, proporcionar conforto, etc. E descobriu-se que os ratos assim criados lidavam melhor com situações de tensão e tinham mais recetores de glucocorticoides no cérebro." A explicação é dada por Pedro Rodrigues, 31 anos, psiquiatra, assistente de Neurociências na Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, que prossegue: "Os glucocorticoides são hormonas que funcionam também como neurotransmissores e são o principal sistema de resposta do cérebro, permitindo lidar melhor com a adversidade, de forma mais adaptativa. Neste tipo de estudos também se demonstra que os roedores fêmeas criados por fêmeas com mais comportamentos maternais adequados tinham mais comportamentos maternais adequados - e isto com troca de crias para despistar a genética.".Uma história do afeto.O afeto como algo de essencial à vida - aquilo que a mera intuição nos garantia, que séculos de literatura nos asseverava, provado cientificamente. A escritora Dulce Maria Cardoso, 53 anos, autora do romance Os Meus Sentimentos e da coletânea de contos Tudo São Histórias de Amor, sorri. "O afeto tem a ver com a completude. Somos famintos, temos uma penúria. Temos necessidade de sairmos de nós para chegar ao outro. Tem a ver com a solidão a que estamos condenados. O afeto é o que nos protege, é um superpoder, o que nos tende a tornar invencíveis.".Engraçado, porque ao mesmo tempo temos a ideia de que se pode, por exemplo, "estragar crianças com mimos". De que há um certo nível de dureza necessário para crescer "direito", para ser autónomo. O que será a quantidade "certa" de afeto, então? E como evoluiu essa noção no tempo? Uma ideia romantizada do passado permite por exemplo a noção de que "antes" as relações era mais "verdadeiras", mais "compensadoras", "profundas" - afetivamente mais intensas e felizes, portanto. Que algures - "antigamente" - houve uma idade do ouro em que, por exemplo, as crianças eram muito mais amadas e bem tratadas e a família muito mais presente no seu desenvolvimento..Bastaria talvez olhar para a mortalidade infantil em Portugal até ao final dos anos 70 do século passado para perceber que essa noção é muito pouco consistente. E, recuando um pouco, encontramos o panorama descrito por Norberta Amorim, 74 anos, professora catedrática aposentada da Universidade do Minho e investigadora do Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória da Faculdade de Letras do Porto. "A minha tese de doutoramento, apresentada em 1985, foi sobre Guimarães de 1580 a 1819. Uma das coisas que acompanhei foi o evoluir do registo dos filhos ilegítimos, que até certa altura eram registados, e dos expostos [as crianças abandonadas na chamada "roda"]. Em 1810, 55% das crianças registadas na cidade eram expostos." A taxa de mortalidade dos expostos, que chegavam, de acordo com uma outra investigação sobre o século XIX no Minho, a 90% em algumas zonas (também porque, comenta Norberta Amorim, muitas vezes entregar os filhos à roda era uma forma de as mães receberem algo para os sustentar, indo depois buscá-los para os criar como amas), era altíssima e o seu destino dickensiano: a partir de tenríssima idade, 6 ou 7 anos, eram entregues para "aprender um ofício". Mas este uso como força de trabalho não era apenas reservado aos enjeitados; atualmente a investigar a tecelagem no ex-distrito açoriano da Horta, Norberta Amorim descobriu que a idade corrente para se ser registado como "profissional" naquele mister variava, em 1838, entre 11 a 14 anos no Pico e 10 anos nas Flores. "E numa das freguesias era oito. Não temos indicações sobre os afetos, mas temos estes dados. Em alguns relatos de listas de residentes os padres escreviam coisas como: "Os filhos começam a ser úteis aos pais a partir dos x anos." E os pastores era a partir dos 8." Outro facto impressionante é a emigração de crianças sozinhas. "Iam aos 10 anos, com passaportes coletivos. Metiam-nos no porão do barco com um balde com comida e água. E ali iam, no escuro." Talvez para dissolver o nó que esta imagem impõe na garganta, a investigadora graceja: "E hoje os pais têm dificuldade em deixar um filho de 13 anos atravessar a rua ou ir para a escola sozinho.".Na "fotografia" de várias freguesias do ex-distrito em 1838, na qual está a trabalhar, ressalta, além de diferenças surpreendentes entre realidades geográficas tão próximas - nas Flores a idade média de casamento era aos 14, no Pico aos 26/27 - "uma liberdade efetiva e afetiva muito limitada". "A rapariga que não se casasse segundo a vontade do pai era deserdada, e nas zonas com terras mais produtivas, para não dispersar a propriedade familiar, casava-se pouco e por conveniência. Muitos rapazes iam para padres e muitas raparigas ficavam "para tias" porque tinham de ter um dote e casar com alguém de estatuto mais elevado. Aliás, na documentação das Misericórdias encontra-se testemunho disso, com beneméritos a deixar dinheiro para prover de dotes algumas meninas. Porque muitas raparigas ficavam solteiras para evitar a miséria.".Sabemos muito pouco sobre este passado tão recente, conclui Norberta Amorim, e sobretudo sobre a realidade das relações humanas nele, quanto mais sobre o efeito que a penúria - para usar a expressão de Dulce Maria Cardoso - descrita pela historiadora terá tido nas crianças e nos adultos, nos seus cérebros e comportamentos..Nós, o urso e o medo.Altura então de voltar ao início e aos misteriosos mecanismos do afeto, do ponto de vista neurológico. Pedro Rodrigues complexifica: "É das definições menos consensuais que há. É um tema complexo, com muita confusão conceptual." Se, diz, se tende, na linguagem comum, a confundir afetos com emoções e sentimentos, são coisas diferentes. "Comecemos pelas emoções: são programas complexos de ações. O medo é o melhor exemplo. Se formos a andar numa savana e virmos um leão o coração acelera, arrepiamo-nos, ficamos com suores frios, podemos empalidecer. São reações comandadas pelo sistema nervoso autónomo. Já os sentimentos são perceções: quando vemos o leão temos o sentimento associado às reações, de que algo se alterou..Fundamental para se perceber a distinção entre emoção e sentimento foi o médico e filósofo William James (1842--1910), irmão do escritor Henry James. O exemplo do urso é o mais conhecido. "Fugimos de um urso porque temos medo ou temos medo porque fugimos?", perguntou James, num artigo publicado em 1884, "O que é a emoção?". A resposta óbvia - de que sentimos medo e por isso fugimos - está, defendeu, errada: "Sentimos medo porque fugimos." A reação, ou seja, a ação perante a presença do urso - a fuga - é assim anterior ao sentimento de medo. "Antes de James a teoria era de que tremíamos porque sentíamos medo; mas sentimos medo porque trememos. Só quando o cérebro capta as alterações periféricas é que percebemos que estamos com medo.".Havendo, explica Pedro Rodrigues, seis tipos de emoções - raiva, surpresa, alegria, tristeza, medo, repulsa - presentes em todas as culturas humanas, estas estão geralmente associadas a expressões faciais genericamente semelhantes, se bem que em certas culturas haja variações. Na Papua-Nova Guiné, por exemplo, não há diferença entre as expressões de medo e de surpresa. Por outro lado, as emoções estão também presentes nos animais - Darwin foi o primeiro a propor que estes manifestam as mesmas emoções básicas que os humanos. "Há também as emoções sociais, como a vergonha, a culpa, a inveja, o ciúme - algumas das quais parecem ser exclusivamente humanas e crê-se formarem a base dos nossos sistemas éticos.".Os afetos serão então, para a maioria dos cientistas de neurociências, "um termo lato onde são colocados emoções e sentimentos." Uma área da neurociência na qual o português António Damásio é um dos grandes nomes e na qual grande parte das descobertas e dos avanços têm 20 a 30 anos. Mesmo se a experiência "natural" - mais uma - ocorrida com um trabalhador dos caminhos-de-ferro britânicos, Phineas Gage, e considerada muito relevante para essas descobertas (Damásio descreve-a em O Erro de Descartes), data do final do século XIX. "Ele sofreu um acidente em que uma barra de ferro lhe entrou pelo olho esquerdo e saiu pelo topo da cabeça. E contra todas as expectativas sobreviveu, e sem alteração da visão e audição. Mas houve uma alteração drástica: era bom pai, bom marido, bom empregado, e passou a insultar pessoas na rua, a roubar, a beber álcool, etc. Modificou completamente a sua personalidade.".A região afetada pelo acidente foi o córtex pré-frontal - o que permitiu perceber que, contrariando a visão cartesiana clássica do corpo como máquina submetida ao espírito, todos os fenómenos mentais, incluindo as emoções e os sentimentos, têm origem no cérebro e dependem de mecanismos "físicos" e de zonas específicas do mesmo. "O hipotálamo, a amígdala, o estriado central e o córtex pré-frontal estão ligados às emoções e a ínsula (córtex insular), o córtex cingulado anterior e o núcleo do trato solitário ao processamento dos sentimentos", enumera Pedro Rodrigues. A complexidade destes fenómenos é no entanto tal que, como Damásio descreve no livro citado, há experiências, conduzidas pelo psicólogo Paul Elkman, nas quais, sendo instruídas para assumir expressões emocionais específicas - de irritação ou de alegria -, as pessoas experimentavam os sentimentos associados, ou seja, a movimentação dos músculos faciais "enganava" o cérebro (algo que, como Damásio comenta, pode ser muito útil para atores, políticos ou, diremos nós, qualquer tipo de aldrabões)..Ainda assim, adverte Damásio, "nem todas as partes do cérebro são enganadas"; imagens eletrofísiológicas das ondas cerebrais demonstram que os sorrisos "forçados" geram padrões diversos dos "verdadeiros". Parece contraditório com as conclusões de Elkman, diz Damásio, mas não é: apesar de reportarem o sentimento associado à expressão, os sujeitos da experiência sabiam muito bem que não estavam irritados nem felizes por algum motivo. "Este pode ser o motivo", conclui o cientista português, "pelo qual grandes atores, cantores de ópera e o outros conseguem sobreviver à regular simulação de emoções exaltadas sem perder o controlo.".A energia do afeto.Atores, cantores, bailarinos, performers. Ana Pais, 43 anos, investigadora em Artes Performativas, fez o seu doutoramento em Estudos Teatrais sobre o afeto em espetáculos - mas não apenas do ponto de vista daquilo que circula de quem atua para quem vê/ouve/assiste. "Cheguei lá fazendo uma pergunta: se o público é tão importante nos espetáculos deve estar lá a fazer alguma coisa de fundamental. E a verdade é que o ator ou performer sente o público - aliás o público sente o público. Há ali uma qualidade sensível que quis tentar compreender e descrever - como o público participa no acontecimento e muda a qualidade do objeto artístico, algo que obviamente não sucede no cinema ou na pintura. Tratava-se de virar ao contrário a teoria do teatro que diz que os atores influem nas emoções da plateia, quis repensar a passividade do espectador. Aquelas pessoas estarem ali todas a dar atenção amplia e intensifica aquilo que está a ser produzido. E pensei que se trata de uma troca de afetos recíproca. É um grande poder, o do olhar, o de dar atenção." Claro, diz Ana Pais, que esse fenómeno não ocorre só no teatro: "Quando estava a investigar dei-me conta da existência de um campo teórico, o da affect theory [teoria da afecção]. E encontrei uma filósofa, Teresa Brennan, que fala da transmissão dos afetos como um processo social que nos afeta, que diz que as emoções não são só nossas e não afetam só a nossa identidade." Para exemplificar aquilo de que fala, Brennan refere, no seu livro The Transmission of Affect o que se sente ao entrar numa sala com pessoas: "Sentimos a atmosfera." E essa sensibilidade não vem, diz Brennan, através da visão mas do olfato, de um "olfato inconsciente". A transmissão do afeto será então o processo de "alinhar o nosso sistema nervoso e hormonal com os dos outros". A coisa mais característica dos afetos, diz esta autora desaparecida em 2003, é que são transmitidos, necessariamente experienciados numa situação social. E que as emoções e energias de alguém ou de um grupo podem ser absorvidos ou entrar "diretamente" noutro grupo ou pessoa. Ou seja, resume Ana Pais, "não somos fechados em nós mesmos, afetamos os outros. E o facto de ser incomensurável a forma como isso funciona não significa que não seja nomeável. Tudo o que acontece com os outros corpos no mundo nos afeta, estamos sempre a criar realidades com os afetos."