O aeroporto do medo: de viajar e de decidir

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Quando chegamos ao verão há um assunto recorrente no país. Os congestionamentos aeroportuários.

No que à situação dos aeroportos diz respeito, Portugal continua a adiar a resolução de um problema crónico, discutindo a espaços qual a melhor solução para resolver o congestionamento do Aeroporto Humberto Delgado (Lisboa), com o Montijo como escolha para um aeroporto provisório e Alcochete para um aeroporto que venha a substituir ambos daqui a mais de uma década. Pelo caminho, aparecem outras opiniões que encontram solução na OTA. Há ainda uma solução, que resolveria os anseios da região centro, ficando a 1.30 horas de Lisboa, com uma autoestrada e uma linha ferroviária ao lado, Monte Real... dizem que é impensável por impossibilidade de mover a base aérea ali residente. Tanto "im" num mundo de oportunidades.

Em todas estas hipóteses nunca é equação a distribuição de serviço para os aeroportos do Porto ou de Faro e muito menos para o aeroporto de Beja que, supostamente, poderia resolver no imediato a atual incapacidade de receber mais passageiros em Lisboa. Beja está a menos de 2 horas de Lisboa (mais perto do que o cidadão que viaja da Guarda ou para o turista que vem para a Serra da Estrela), da mesma forma que pela Europa fora encontramos aeroportos secundários utilizados pelas companhias low cost, que ficam a distâncias temporais semelhantes.

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Numa análise racional precisamos de decisões que respondam às necessidades do país do ponto de vista da imagem enquanto destino turístico, porta de entrada no espaço Europeu e interessado em receber pessoas, fundamentalmente porque estes visitantes alimentam, e muito, a nossa economia. Portugal não pode destruir a sua imagem com milhares de pessoas amontoadas no seu principal aeroporto, retidas maioritariamente pela sua companhia de bandeira. Não pode continuar a perder um número assustador de bagagens. O aeroporto de Lisboa que usa o nome do "General sem medo" não pode ser o aeroporto do medo de viajar.

Não é honesto a gestão do espaço ou as direções das empresas de aviação virem justificar que é assim por toda a Europa. O mal dos outros nunca pode ser uma justificação para o nosso, mas antes uma oportunidade para nos fazermos melhores, mais capazes e daí retirarmos os devidos dividendos.

São demasiados anos de indefinição na procura de uma solução que tem servido de alimento ao debate político. Portugal precisa urgentemente de outro aeroporto. A Região Centro em franco desenvolvimento turístico, com Fátima à cabeça, precisa de um impulso aeroportuário para as ofertas que foi criando. Não querendo atear mais a fogueira, numa análise a partir de Coimbra, o que pareceria lógico seria pensar em Monte Real ou, mal por mal, na OTA, como a solução para um segundo aeroporto de Lisboa, servindo melhor o centro e mantendo a Portela. E até lá operacionalizar Beja.

Ainda que não aprove a solução proposta por Pedro Nuno Santos, esteve bem o ministro quando decidiu. Falhou na forma e por isso se retratou, mas sejamos realistas, estamos fartos de estudos, de comissões, de opiniões, de conversas e da procura de consensos.

Decidam de uma vez, mas com a consciência de que somos um país pobre e endividado que tem soluções (mais) baratas à mão.

Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra

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