O adeus às "Girls" de Dunham que "deviam representar tudo e nada"

Quando forem 03.00 da madrugada de segunda-feira, começa o fim da série escrita e protagonizada por Lena Dunham. Ao longo de seis temporadas, a história de um grupo de raparigas sem papas na língua quis ajudar a entender as mulheres. Bastante aplaudida, mas também duramente criticada, a trama da HBO encontrará no cinema o seu futuro
Publicado a
Atualizado a

O objetivo foi definido há pouco mais de um ano: quando celebrasse 30 de vida, Lena Dunham queria dizer adeus a Girls. A série que criou, escreveu e protagoniza desde 2012 não ultrapassaria a meia dúzia de temporadas. E assim será. A estreia da sexta época, na madrugada de segunda-feira a nível mundial - em Portugal no TVSéries às 03.00 - é o adeus à história de um grupo de raparigas acabadas de entrar na idade adulta. Mas será um adeus no pequeno ecrã com a promessa de um regresso ao grande. "Só quero deixar passar tempo suficiente [entre o final desta série e o lançamento do filme] para que elas voltem num momento diferente", explicou Dunham. "Se a HBO pagou dois filmes de Sexo e a Cidade, espero que também pague este."

A despedida foi planeada, mas nem por isso deixou de causar "dor". "É a nossa vida, os nossos amigos, a nossa identidade - são imensas coisas embrulhadas numa só. É como deixar o colégio, a universidade e divorciarmo-nos. É muita coisa junta", desabafa Dunham em declarações a que o DN teve acesso sobre ter pensado Girls desde os seus 24 anos.

As raparigas do título são Hannan (Dunham), Marnie (Allisson Williams), Jessa (Jemima Kirke) e Shoshanna (Zosia Mamet). Quatro personagens que falam sem tabus de sexualidade, drogas, desilusões profissionais e problemas amorosos, o que levou a crítica a aplaudir o facto de a história ter sido narrada de uma forma mais realista do que a maioria das séries. Tão realista que, se fosse hoje - e dado o clima político nos Estados Unidos desde a eleição de Donald Trump como presidente -, a criadora não repetiria a aventura. "Teria muito medo de a escrever agora", admite.

Ainda assim, a atriz norte-americana salienta que o importante é "continuar a fazer arte" e esta nem sempre "precisa ser política ou assumir uma posição". "Não é necessário estar tudo alinhado para destruir Donald Trump. Será ótimo se isso for um efeito secundário, mas o importante é fazermos o que gostamos", completa.

As saudades da Hannah que interpretou ao longo das seis temporadas resumem-se ao que aprendeu: lutar pelo que quer, "mesmo que por vezes o faça de forma menos graciosa". O que não lhe deixa boas recordações é "o barulho e a massa crítica" em torno da série. "Não me sinto triste por deixar isso para trás. Ninguém precisa de viver com isso durante anos", justifica.

Girls foi apelidada de classista, racista e transfóbica desde que se estreou. "Aconteceu imensa coisa nessa altura. Era suposto ser uma série que representa tudo e nada. Todos tiveram uma opinião, mesmo que nunca a tivessem visto, e isso é demasiada energia a vir na nossa direção."

"Destruí o meu corpo"

"Muito cansada." São ainda as palavras que acabam por se sobrepor a outras quando Lena Dunham fala do final da produção galardoada ao longo dos últimos cinco anos com 16 prémios, entre eles Emmys e Globos de Ouro. "Destruí o meu corpo a fazê-la. Mas tenho 30 anos, vou conseguir recuperar", acrescenta. Na mais recente edição da revista Glamour, para a qual se deixou fotografar ao lado das outras Girls de pernas despidas, elogiou o facto de a publicação não ter recorrido a programas de tratamento de imagem e deixado "a celulite à mostra". "Foi muito importante para mim. Mesmo tendo 30 anos, teve um impacto gigante na minha autoestima olhar para esta capa da revista e ver que é o meu corpo que ali está, que sou eu quem ali está, sem edição."

Despedida com convidados

Chelsea Peretti, Joy Bryant, Matthew Rhys e Riz Ahmed são alguns dos atores convidados a participar na última temporada da série. Os convites partiram de Dunham. "O Riz é um ator incrível e acho que conseguimos que ele aceitasse mesmo antes da sua explosão mediática. Se tivéssemos gravado duas semanas mais tarde, a agenda dele já não lhe permitiria aceitar o convite", relatou a argumentista. "Ele é uma parte muito importante desta temporada. O episódio em que entra foi o último que fizemos", frisou.

Já o capítulo com Matthew Rhys é "um orgulho". "O que adoro é que imensos artistas querem estar no papel do herói. Querem interpretar o rapaz bom e bonito. O Matthew foi o único que ouvi dizer: "Por favor, faz-me parecer mais careca." Ele quis abraçar a personagem na sua forma mais profunda. Hoje, não consigo imaginar-me a ter feito Girls sem ele."

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt