"Hoje vinte homens que mergulharam o mundo na guerra compareceram perante o Tribunal Militar Internacional, sob a acusação de conspirarem para quebrar a paz, de crimes contra a paz, de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade. Trata-se dum caso único na história do mundo - o de impor responsabilidade criminal aos estadistas que provoquem a guerra e aos chefes militares procurando-se assim tornar a paz estável." .É assim que o Diário de Notícias inicia o texto sobre o começo do julgamento de Nuremberga. Um texto em que se explica que os vencedores da guerra - britânicos, americanos, franceses e russos - dividiram entre si as acusações, com o francês a ocupar-se das "contra a paz e humanidade" na Europa Ocidental e o russo das mesmas na Europa Oriental, e que a pretensão dos acusados de fazerem vingar a teoria de que os principais culpados - Hitler e Goebbels - estavam mortos deveria ser logo contraditada no libelo do acusador americano, Robert Jackson. A acusação deverá demorar cerca de cinco semanas, avisa o autor..O texto, que tem a curiosidade de usar aspas na palavra nazi, certifica que aos acusados que usavam óculos estes foram retirados, e que não lhes será permitido aproximarem-se de janelas. Narra também que à entrada da sala de audiências há revistas prolongadas e que por todo o lado há "guardas fortemente armados"..Neste primeiro julgamento (seguiram-se outros, a outras categorias de acusados), em que havia 24 arguidos, e que terminou em outubro de 1946, metade foram condenados à morte por enforcamento (entre os quais Hermann Göring, Hans Frank, governador geral da Polónia, e Wilhelm Frick. ministro do Interior), três a prisão perpétua, quatro a penas entre 10 e 20 anos, um - o industrial Krupp, acusado de beneficiar de mão de obra escrava - viu a acusação ser-lhe cancelada por saúde debilitada, e três foram absolvidos. Um dos acusados suicidou-se durante o julgamento..Paris sem estátuas mas com comunistas no governo.Também relacionada com a guerra, a notícia "Paris sem estátuas", com uma foto do Arco do Triunfo, explica que os ocupantes alemães retiraram as estátuas de bronze para o utilizar na indústria de guerra. entre elas, Victor Hugo, Voltaire e Lavoisier. O historiador e jornalista Albert Mousset, em exclusivo para o DN, carrega na ironia, ao fazer-se eco de uma dúvida sobre as três estátuas de Alexandre Dumas, pai e filho "não serão de mais", e ao contar a história de estátuas de cavalos que andaram a correr os impérios, roubadas daqui e dali..Igualmente divertida, mas não no sentido voluntário, é a notícia ao lado, a cujo título, "A homenagem das mulheres portuguesas a Salazar", se segue uma lista de nomes após o introito "assinaram o telegrama de homenagem das mulheres de Portugal ao Sr. Presidente do Conselho mais as seguintes senhoras de Lisboa" - o que pressupõe que no dia anterior se terá já publicado uma parte dos nomes..A entrada dos comunistas - que tinham conquistado 158 lugares na Assembleia nas eleições de outubro, sendo assim o partido mais votado - no governo francês apesar da resistência de De Gaulle é anunciada num notícia em que o facto não é chamado a título. este diz apenas "De Gaulle deve formar hoje governo com representantes dos três maiores partidos". Só no lead se lê: "No gabinete do general De Gaulle foi declarado esta noite [a 20, portanto], em resposta a uma pergunta, que os comunistas aceitaram a proposta do De Gaulle para tomarem parte no governo dos três partidos, sob a sua direção."