Nuno Melo quer construir pontes e não escavar trincheiras
O candidato à liderança do CDS-PP Nuno Melo foi este sábado recebido com palmas no exterior do Pavilhão Multiusos de Guimarães, à chegada ao 29.º Congresso do partido, afirmando que vem para "construir pontes" e não "escavar trincheiras".
"Eu quero construir pontes. Acho que temos que dar um sinal ao país e não venho aqui escavar ainda mais trincheiras, conto realmente com todas as pessoas que tenham disponibilidade, talento e que estejam de boa-fé", afirmou o único eurodeputado eleito pelo CDS-PP.
Nuno Melo sublinhou que o que o motiva é "para o futuro e para fora" e não "para dentro e em ajuste de contas".
Questionado se ficaria surpreendido se o ex-líder Manuel Monteiro apresentasse uma candidatura à liderança, Nuno Melo admitiu que sim: "Eu diria talvez que sim, dadas as circunstâncias, diria que sim".
"Eu tenho consideração pelo professor Manuel Monteiro e o facto de ele vir é, para mim, um sinal importante em relação ao futuro do partido. O que me interessa é perceber que quando o partido vive um momento tão mau muitas pessoas com responsabilidades passadas e responsabilidades presentes vêm cá e dão esse sinal para fora, isso é que me interessa", referiu.
Para Nuno Melo, o "sinal mais importante" é o facto de as pessoas quererem "resgatar o CDS-PP".
Perante as circunstâncias, o centrista mostrou-se disponível para "falar com todos" e assinalou que "dá a cara" pela sua moção de estratégia que não é "uma barriga de aluguer".
"Uma coisa eu digo, a minha moção não é uma barriga de aluguer, eu sou o primeiro subscritor da minha moção, dou a cara por ela e vou a votos por ela. Tudo em cima da mesa às claras e sem truques", sustentou.
Na intervenção de apresentação da sua moção "Tempo de Construir", Nuno Melo manifestou confiança de que "o CDS vai dar a volta aos momentos tão difíceis do presente". "Mas o CDS terá de o fazer a falar sobre o futuro e para fora e não sobre passado e para dentro.", avisou o antigo deputado, que foi aplaudido de pé pela maioria do Congresso no arranque da sua intervenção.
Nuno Melo justificou a sua candidatura "no momento mais difícil" dos 47 anos do partido, quando perdeu a representação parlamentar, para devolver ao CDS o que o partilho lhe deu. "Estou aqui porque é tempo de salvar o CDS", sublinhou.
O candidato à liderança do CDS-PP Nuno Melo assegurou que, se for eleito, acabará com "processos autofágicos e pouco inteligentes de purificação doutrinária", apelando ao regresso ao partido de militantes como António Pires de Lima ou Adolfo Mesquita Nunes. "Ninguém cresce subtraindo. E neste partido fazemos todos falta", afirmou o eurodeputado.
Nuno Melo salientou que "o CDS foi um partido onde democratas-cristãos, conservadores e liberais se sentiam bem, porque complementares" e deixou uma garantia. "Se for presidente do CDS, podem ter a certeza, acabarei com tendências artificiais, barricadas em processos autofágicos e pouco inteligentes de purificação doutrinária", disse.
O candidato à liderança deixou uma palavra especial para alguns militantes ilustres que deixaram recentemente o CDS-PP. "Uma palavra para António Pires de Lima, para o Adolfo Mesquita Nunes, para o Francisco Mendes da Silva, para o João Condeixa e para tantos outros, que neste momento não estão aqui, mas que pretendo que voltem. Esta é a vossa casa e durante dois anos farei tudo para que o percebam", afirmou.
Na sua intervenção, Nuno Melo prometeu ainda que, se for eleito, promoverá um Congresso de revisão estatutária que permita que todos os presidentes de Câmara do partido tenham assento nas reuniões da comissão política nacional e um seu representante nas reuniões da comissão executiva, órgão restrito da direção onde quer também o presidente da Juventude Popular.
"Agora que não estamos na Assembleia da República, os nossos governantes regionais e os nossos autarcas, das assembleias de freguesia às presidências de câmara e assembleias municipais são o nosso maior ativo. Aproveitá-los e potenciá-los, beneficiar do seu trabalho e exemplo será crucial", disse.
Nuno Melo defendeu que, para recuperar a representação parlamentar perdida nas últimas legislativas, o CDS terá de ser visto como útil. "Isso implica ideias nítidas, identificar problemas, mas também a capacidade de apontar as soluções. Quero resgatar para o CDS ideias identitárias de sempre, que outros hoje tratam como suas, porque deixaram DE ser suficientemente nítidas cá dentro", disse.
Nessa linha, assegurou que, se for eleito líder, o CDS voltará a ser "a voz dos professores, dos contribuintes, dos pensionistas, das forças de segurança, dos ex-combatentes, dos agricultores, do mar como setor estratégico".
"Mas também estarmos na primeira linha das 'novas agendas', que estão no epicentro das decisões europeias, casos da sustentabilidade, da energia, da economia verde, ou da transição digital", assegurou.
Nuno Melo agradeceu aos independentes que ajudaram a construir a sua moção e prometeu ainda trazer "as mulheres do CDS para a linha da frente" das decisões do partido, dando como exemplo máximo a antiga deputada Cecília Meireles. "Queria trazer muitas das Cecílias Meireles que estão no partido e só não se notam (...) Não me comprometo com paridades, mas com mulheres de talento e a darem a cara por este partido".
À chegada ao Congresso, o candidato Miguel Mattos Chaves defendeu que este congresso representará a "refundação" do partido mais do que a "ressurreição".
"Cometemos desde 2011 vários erros em termos ideológicos e em termos de mensagem ao eleitorado, resulta que com isso afastamos bastante do nosso eleitorado em favor de outros partidos ou da abstenção", considerou, frisando que "o partido não morreu", tem a vice-presidência do Governo Regional do Açores, a presidência da Assembleia Regional da Madeira, e cerca de 1400 autarcas.
Francisco Rodrigues dos Santos, líder cessante do CDS-PP, afirmou que quer "hastear a bandeira da união", rejeitando "ajustes de contas", no início do seu discurso no 29.º Congresso do partido, que decorre em Guimarães.
"Na minha militância no CDS, nunca houve nem haverá lugar para ajustes de contas. A vingança é sempre o prazer de um espírito mesquinho e amedrontado", declarou, considerando que o momento do partido convoca a urgência de "mobilizar todo o partido para superar a dura realidade" do último ato eleitoral - em que perdeu representação na Assembleia da República.
Francisco Rodrigues dos Santos considerou que será "um ato de amor" qualquer "sacríficio pessoal" que faça e que "permita hoje hastear a bandeira da união", mesmo "com aqueles que nunca estiveram na disposição de o fazer" com a sua direção.
Durante o discurso de despedida, que durou quase 20 minutos, estava visivelmente emocionado e disse que vai "continuar por aqui". "O CDS não se salva sozinho e precisa de todos. Quero garantir ao congresso que o CDS continuará a ser a casa dos meus valores a morada política do meu coração", afirmou.
Rodrigues dos Santos afirmou que nunca foi "de nenhum presidente" e sempre foi "do CDS". "Não vou andar por aí porque sempre estive aqui e vou continuar por aqui, acordado para o meu partido e com a esperança de que daremos a volta por cima", salientou.
O líder do CDS-PP chegou ao Pavilhão Multiusos de Guimarães cerca das 12.15 horas, sendo aplaudido e saudado com gritos "Francisco, Francisco".
O secretário-geral do CDS-PP, Francisco Tavares, alertou no Congresso, que esta poderá ser a "última vida" do partido e defendeu que os centristas têm a responsabilidade de não o "ferir de morte".
"Todos temos uma grande responsabilidade de unir o partido e garantir que não voltamos a ferir-nos de morte", defendeu Francisco Tavares, que subiu ao palco para apresentar o relatório de atividades da secretaria-geral. E avisou que "esta poderá ser a última vida" do CDS-PP.
Na intervenção, que segundo o dirigente foi a uma única vez que conta dirigir-se aos congressistas, o secretário-geral disse estar orgulhoso do trabalho do presidente Francisco Rodrigues dos Santos, que apresentou a demissão na sequência do resultado nas eleições legislativas de janeiro, o pior da história do CDS-PP.
Apesar de o líder cessante ainda não estar na sala, Tavares dirigiu-se-lhe, deixando um "até já" e mostrou-se convicto de que Rodrigues dos Santos terá pela frente um caminho de sucesso.
E lamentou que a pandemia tenha sido "o primeiro fator" que impediu o presidente do CDS-PP (desde 2020) a fazer da rua o seu escritório, como tinha prometido no congresso no qual foi eleito, destacando ainda assim os resultados eleitorais nas regionais dos Açores e autárquicas.
Na sua intervenção, o secretário-geral apresentou as contas do partido afirmou que a subvenção nacional "sofreu uma brutal redução" após as eleições legislativas de 2019, quando o grupo parlamentar desceu de 18 para cinco deputados, passando de "112 mil euros" para "cerca de 53 mil euros".
Quanto às eleições autárquicas, estimou um "resultado extremamente positivo" em termos das contas e apontou como dificuldade "controlar os gastos das concelhias".
Já as legislativas, disse que os resultados financeiros preliminares apontam para um "prejuízo inferior a menos de metade" face a 2019, sob a liderança de Assunção Cristas.
Francisco Tavares afirmou que o CDS-PP teve "70 mil euros em donativos" mas não recorreu a "um único cêntimo de financiamento bancário" e que "todos os custos passaram a ser passivo partido".
No que toca ao passivo, foi "largamente diminuído neste segundo ano" de mandato (2021).
Quanto ao congresso, o secretário-geral indicou que poderá ser "o mais barato da história do CDS e que se pague a si próprio".
Após a intervenção do secretário-geral, o presidente da mesa suspendeu os trabalhos até às 12:15, hora a que está prevista a intervenção do presidente cessante, Francisco Rodrigues dos Santos.
Após o discurso do líder, segue-se a apresentação das 10 moções de estratégia global.
O 29.º Congresso do CDS-PP reúne-se até domingo em Guimarães (distrito de Braga) para eleger o próximo presidente do partido.
Esta reunião magna acontece dois meses depois das eleições legislativas de 30 de janeiro, nas quais o CDS-PP teve o pior resultado de sempre (1,6%) e perdeu pela primeira vez a representação na Assembleia da República.
O atual líder, Francisco Rodrigues dos Santos, que tinha sido eleito em janeiro de 2020, demitiu-se na noite eleitoral depois de conhecidos os resultados.
São quatro os candidatos assumidos na corrida à liderança: Nuno Melo (eurodeputado e líder da distrital de Braga), Miguel Mattos Chaves, Nuno Correia da Silva (ambos vogais da Comissão Política Nacional) e o militante e ex-dirigente concelhio Bruno Filipe Costa.