Novo Congresso: recorde de mulheres e horas extra por causa da pandemia

O 117.º Congresso reúne-se neste domingo para eleger o líder da Câmara, com as regras sanitárias a condicionar os trabalhos. Nancy Pelosi, de 80 anos, recandidata-se ao cargo.
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Cada Congresso dos Estados Unidos tem uma duração de dois anos, pelo que faz parte da sua história, em grau variável, uma constante renovação. No dia em que se apresentam 60 representantes (entre os quais um ou outro de regresso) e seis senadores novos na primeira sessão (ano um) do 117.º Congresso, dois factos saltam à vista: as mulheres continuam a ganhar terreno, desta vez graças às republicanas; e a pandemia marca de forma transversal o Congresso. O representante republicano eleito pelo Luisiana Luke Letlow, de 41 anos, morreu de covid-19 a cinco dias de se estrear no Congresso. Pelo menos outros dois representantes estão infetados e não podem rumar a Washington: a democrata Gwen Moore, do Wisconsin, e a republicana Maria Elvira Salazar, da Florida, uma das 60 estreias na Câmara.

Além das perdas e impedimentos, o cerimonial foi também afetado. É certo que os trabalhos se iniciam ao meio-dia de dia 3, como escrito na Constituição, mas o resto foi sujeito a adaptações. A chamada dos congressistas para assegurar que há quorum, o seu juramento, e a eleição do presidente da Câmara vão ser passos muito mais demorados do que é costume. Espera-se que a demora seja de tal forma que a votação do regimento da Câmara ficou para segunda-feira. Por razões sanitárias, os congressistas foram divididos em sete grupos que não podem exceder os 72 eleitos. Quanto a público, só os novos congressistas é que poderão encaminhar um convidado para a galeria. Todos foram "fortemente desaconselhados" a organizar ajuntamentos, receções ou festas nos seus gabinetes.

Em relação ao Congresso anterior os democratas perderam lugares e a sua maioria encolheu para 11 assentos entre os 433 (o lugar do falecido Letlow será preenchido após uma eleição especial e os resultados do 22.º distrito de Nova Iorque, com uma diferença favorável em 12 votos para a republicana Claudia Tenney em detrimento do atual representante, o democrata Anthony Brindisi, estão nas mãos de um juiz).

Os representantes democratas Cedric Richmond (Louisiana), Marcia Fudge (Ohio) e Deb Haaland (Novo México) são chamados para o governo, pelo que estarão no cargo durante pouco mais de duas semanas. Eleições especiais serão convocadas.

Outra disputa diz respeito à corrida no Iowa, na qual a democrata Rita Hart, que perdeu por 12 votos num universo de 400 mil, alega irregularidades e apresentou um recurso na Câmara depois de a vitória de Mariannette Miller-Meeks ter sido certificada a nível estatal. A republicana teve luz verde para tomar o assento, ainda que de forma provisória. A última vez que um resultado de uma eleição de um representante foi alterado pelos colegas aconteceu em 1985 e causou bastante controvérsia.

Contas feitas, a margem dos democratas na Câmara é estreita e a eleição do presidente será o momento em que se vê se os democratas conseguem marcar presença em maior número. O presidente da Comissão do Regimento, Jim McGovern, alerta que vários colegas pensam ser possível votar de forma remota, o que é impossível antes de se tomar posse e aprovar o regimento. E à distração de uns quantos somam-se os casos de Alcee Hastings, 84 anos e a lutar contra um cancro no pâncreas, e de Mark DeSaulnier, 68, convalescente de uma pneumonia que o deixou hospitalizado durante dois meses. Nancy Pelosi, de 80 anos, recandidata-se ao cargo. Há dois anos, 15 democratas não votaram na representante californiana, um cenário que, a repetir-se, deixa Pelosi e os democratas em maus lençóis. "Penso que ela terá os votos", disse o líder da maioria da Câmara, Steny Hoyer. "Não trabalhámos tanto como trabalhámos para manter a maioria de modo a podermos estabelecer uma política para depois desistirmos."

Enquanto na câmara baixa os números estão, ainda assim, do lado democrata, no Senado o cenário é mais pessimista: só com a dupla vitória nas eleições especiais do dia 5 na Geórgia é que empatariam em número de senadores. Nesse caso Kamala Harris, que deixa o Senado para o cargo de vice-presidente, teria o voto de qualidade e seria chamada a desempatar.

É num Congresso com níveis de popularidade negativos (só 15% dos norte-americanos se dizem satisfeitos com o seu desempenho, segundo a Gallup) que as mulheres fazem história. Em 1916 Jeannette Rankin foi a primeira mulher eleita para a Câmara. Agora, apesar de ainda estar longe da paridade, atinge-se a marca de 26,9% de mulheres nas duas câmaras do Congresso, ou 144 mulheres. Também o número de congressistas não brancas chega a novo patamar, agora com 52.

Este impulso deve-se aos resultados nas fileiras republicanas, que de 13 representantes mulheres passa para 29, entre as quais Lauren Boebert (Colorado), que promove o porte de arma, ou Marjorie Greene (Geórgia), adepta de teorias da conspiração.

O resultado no Partido Republicano deve-se ao trabalho da republicana Elise Stefanik, que desde 2018 recrutou mais de cem mulheres a candidatarem-se, o que levou o presidente do Comité do Congresso Nacional Republicano a chamar "um erro" na altura.

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