Novas palavras e novas realidades

A opinião da escritora canadiana Rosemary Sullivan sobre o festival literário Folio.
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Fui generosamente convidada pelo Montreal"s Blue Metropolis International Festival para vir ao Folio. O que é que um escritor pode esperar de um festival literário? Para mim, o Folio elevou a fasquia ao máximo. Imaginem um festival de 11 dias numa aldeia medieval cercada por muralhas. E nessas ruas labirínticas há um hotel chamado The Literary Man. Há 11 livrarias nesta pequena vila. Ficamos numa casa particular com outros escritores e tornamo-nos parte da vida da vila. Há provas de vinho, um sítio de encontros chamado Praça da Criatividade, uma cantina onde todos os escritores se encontram para refeições deliciosas de dia e de noite. O volume das vozes aumenta à medida da intensidade das conversas, e enquanto isto o vinho flui. Há entrevistas para as televisões, para blogs e concertos todas as noites. Em cada um deles a música declama poesia e tornam-se irmãs gémeas na nossa imaginação. A imaginação é tão necessária para a sobrevivência humana como a comida, isto é algo que antigamente se percebia. Óbidos é lindo. Sacrificamos demasiado em prol da utilidade e do comércio. Como é que nos esquecemos de que devemos viver em beleza? As conversas escaldantes à mesa, por parte de artistas de tantos países lembram-me as palavras do escritor Julio Cortázar, que conheci em 1982 na Nicarágua. Ele disse que todos os escritores são revolucionários a trabalhar na fronteira da imaginação humana, lançando novas palavras e novas realidades. Em Óbidos conseguimos acreditar que é o respeito por todas as culturas, neste mundo tão global, que nos irá salvar daquela que parece ser uma era muito negra. O calor, a facilidade e a abertura das pessoas que conheci e que nos tornam imediatamente seus amigos significa que eu regressarei a Portugal o mais depressa que conseguir.

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