Nova plataforma na Estação de Alcântara-Terra ficou alta e não está adaptada a pessoas com mobilidade reduzida

CP recusa-se a utilizar plataforma mais larga da gestora da rede ferroviária porque é demasiado alta para a entrada e saída de passageiros. Situação ficará resolvida até ao final de janeiro.
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A Estação de Alcântara-Terra tem uma nova plataforma para os passageiros, depois de um investimento de cerca de 220 mil euros da Infraestruturas de Portugal (IP), mas ficou demasiado alta e não permite a utilização a pessoas com mobilidade reduzida ou a carrinhos de criança, por exemplo. Os passageiros têm agora mais espaço para entrar e sair dos comboios da CP, o que devia facilitar a vida a pessoas com mobilidade reduzida e invisuais, mas a plataforma ficou demasiado alta para ser utilizada, com mais 20 centímetros do que está definido para as estações de Sintra, Azambuja e de Cintura - a exceção é a Gare do Oriente.

Nas carruagens da frente é possível entrar e sair dos comboios sem problema; quem utilizar a última carruagem depara-se com um autêntico degrau. Só na passada quarta-feira é que a CP se apercebeu desta situação, depois das primeiras viagens entre Castanheira do Ribatejo e Alcântara-Terra, estação de destino.

A CP foi apanhada de surpresa, conforme apurou o DN/Dinheiro Vivo. Durante quarta-feira, os passageiros entraram e saíram dos comboios do lado da plataforma nova, acompanhando a instrução dos serviços da gestora da rede ferroviária nacional. A CP acabaria por recusar utilizar a plataforma logo no dia seguinte.

O vice-presidente da Infraestruturas de Portugal, responsável pela obra, Carlos Fernandes, afasta o cenário de erro. "Das oito portas do comboio, cinco não têm qualquer ressalto", aponta. Reconhece, contudo, que a terceira porta a contar do fim "está a 4,5 centímetros da bordadura da plataforma; a segunda porta está a cerca de 8,5 centímetros; a terceira está a 4,5 centímetros". Isto acontece porque "há uma parte da linha mais baixa", por estar assente numa camada de pedra britada (designado de balastro) e não em betão.

O gestor alega que oito centímetros são uma "coisa pequenina". Só que esta diferença é suficiente para que as pessoas com mobilidade reduzida ou com carrinhos de bebé não possam usar a plataforma nova.

A CP apenas vai utilizar a plataforma antiga. Mesmo com 2,5 metros de largura, permite que qualquer passageiro possa sair e entrar de qualquer porta do comboio. A título pessoal, Carlos Fernandes entende: "Se estivesse no lugar da CP, preferia ter as portas abertas dos dois lados. As cadeiras de rodas podem sair na plataforma antiga."

A situação deverá ficar resolvida até ao final de janeiro, com obras na via. "Está planeada uma renovação integral, com a instalação de travessas novas e de carril novo, para a linha ficar certinha face à plataforma." Uma eventual redução da altura da plataforma não consta dos planos, porque "poderia gerar poças de água".

Esta será a terceira e última fase da renovação da Estação de Alcântara-Terra, que começou em 2018, com a substituição da cobertura. Utilizada por mais de um milhão de passageiros por ano, esta infraestrutura deverá ser "enterrada" até ao final desta década, por causa do projeto para ligar a linha de Cascais à restante rede ferroviária nacional.

O caso da plataforma de Alcântara-Terra mostra as dificuldades existentes na relação entre a principal operadora ferroviária (CP) e a gestora da rede, a IP. Na madrugada de 12 de dezembro, a CP testou um comboio suburbano na linha de Cascais, para verificar se as especificações técnicas batiam certo para as características das estações.

Só que o comboio não passou os testes de gabarito - medida a que o canal ferroviário tem de obedecer para os comboios circularem sem incidentes. A unidade vinda dos serviços urbanos do Porto não coube na estação de São João do Estoril e o ensaio foi interrompido logo aí, segundo o jornal Público.

A informação oficial da IP indicava que as estações da linha de Cascais poderiam receber qualquer tipo de comboio - esta indicação apenas foi corrigida dois dias antes do ensaio. Ou seja, se a CP não tivesse realizado os testes e confiado nos documentos, corria o risco de comprar dezenas de novos comboios que depois não caberiam nas estações.

Diogo Ferreira Nunes é jornalista do Dinheiro Vivo

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