Nova Iorque. Dezenas de corpos em decomposição amontoados em camiões de mudanças
O mau cheiro que vinha dos camiões parados em frente a uma funerária levou os vizinhos a dar o alerta às autoridades. Numa rua em Brooklyn, em Nova Iorque, dezenas de corpos em decomposição estavam amontoados em camiões não refrigerados da empresa U-Hual, que são usados para fazer mudanças. A descoberta foi feita na noite de quarta-feira e já foi iniciada uma investigação, escreve o The New York Times.
O estado de Nova Iorque, refira-se, é o mais afetado pela pandemia de covid-19 nos EUA. Pelo menos, 14 mil pessoas já morreram na cidade devido ao novo coronavírus, refere o jornal. O número elevado de doentes e de óbitos levou à saturação de vários serviços de saúde, mas também dos serviços que as funerárias prestam, tendo sido recorrente o recurso a camiões refrigerados para que os cadáveres sejam mantidos em condições apropriadas até que se possa proceder ao funeral.
Não terá sido isto o que aconteceu em frente à funerária de Andrew T. Cleckley, na Utica Avenue, zona de Flatland, em Brooklyn. Uma fonte policial, citada pelo The New York Times, refere que a casa funerária, por já não ter capacidade, alugou os veículos, onde estariam cerca de 50 corpos. Presume-se que os cadáveres estariam nos camiões há mais de uma semana. As autoridades não conseguiram determinar, para já, quantos destes corpos são de vítimas da pandemia de covid-19.
Eric Adams, o presidente do bairro de Brooklyn, considerou a situação "inaceitável". "O caso está a ser investigado, mas isto não devia estar a acontecer, com camiões estacionados nas ruas cheios de corpos", disse Adams ao Daily News.
"Parece que o semi-reboque estava cheio e começaram a usar um camião como reforço. É traumático para os familiares", acrescentou o responsável ao The New York Times.
John DePietro, proprietário do prédio ao lado da agência funerária, disse ao jornal norte-americano que, na terça-feira, deu conta de cinco veículos estacionados na rua de Brooklyn. "Tinham cadáveres em carrinhas e camiões", disse DePietro. "Estavam em cima uns dos outros e em sacos de cadáveres."
Perante esta situação, Eric Adam fez saber que já tinha alertado as autoridades para este problema. "Exigimos tratamento decente para os nossos mortos", escreveu na rede social Twitter.
O departamento de Saúde do Estado de Nova Iorque foi chamado ao local para averiguar as condições de funcionamento da funerária, alvo agora de uma investigação. Um funcionário terá afirmado que o recurso aos camiões deveu-se a uma falha na refrigeração da funerária.
Este grave episódio reflete bem a situação dramática em que vivem os cidadãos de Nova Iorque, cidade onde algumas funerárias, por já terem excedido os seus limites, transformaram capelas em morgues temporárias e recorreram a reboques. Também hospitais, assim como as funerárias, recorreram a camiões com refrigeração para armazenar os corpos.