À 29.ª ronda da época 2004-2005, o Benfica também liderava o campeonato com mais um ponto, então à frente de Sporting e Sp. Braga. Acabou por sagrar-se campeão nacional, isto depois de nas derradeiras jornadas ter chegado a ser ultrapassado pelos leões. Recuperou a desvantagem e festejou o título na última jornada sob o comando do italiano Giovanni Trapattoni. Em conversa telefónica com o DN, a velha raposa, como era conhecido, revelou alguns dos segredos do sucesso, apontando o fator psicológico como o mais determinante.."Foi um campeonato muito forte, muito duro. Quando faltavam poucos jogos para o fim era cada vez mais complicado trazer ideias novas e passá-las aos jogadores. Limitei-me a escutá-los e a fazer que eles próprios acreditassem que era possível. Era uma equipa muito boa, que recebeu muitas críticas e que a imprensa estava sempre a bater pela forma que jogávamos. Isso também ajudou a fazê-los acreditar. Importante nos últimos jogos é fazer que acreditem, já não podemos ensinar nada", disse o treinador ao DN, revelando que não foi fácil lidar com a derrota com o Penafiel, na antepenúltima jornada, que permitiu então ao Sporting ascender à liderança do campeonato.."Lembro-me de que tínhamos alguns jogadores lesionados e que não podiam jogar, casos do Luisão e do Nuno Gomes, não me lembro se mais um ou outro, e não conseguimos fazer um bom jogo. Os dias seguintes foram complicados, mas felizmente o jogo a seguir foi logo contra o Sporting e isso foi muito importante. Provavelmente seria mais fácil não nos conseguirmos concentrar tão bem no próximo jogo se fosse com outro tipo de adversário, sem grandes ambições. Faltavam duas ou três jornadas e tínhamos caído para o segundo lugar", salientou o antigo treinador italiano..Após a derrota inesperada em Penafiel (1-0), o Benfica recebia na ronda seguinte em casa o Sporting, jogo da penúltima jornada do campeonato. Uma vitória permitia passar de novo o rival, algo que acabou por acontecer. Trapattoni contou ao DN como preparou este embate diante dos leões.."Foram muitas conversas especiais com alguns jogadores também especiais. Sabia que eles conseguiam passar a mensagem. Não interessava mudar estratégias, pensar numa nova jogada, num novo canto, nessa semana ninguém iria assimilar nada. Era necessário entrar na cabeça de todos, fazê-los acreditar e foi isso que aconteceu", salientou Trapattoni, que não mais esqueceu o golo de Luisão nos últimos minutos. "Ele era um desses jogadores especiais. Fiquei muito contente, foi um momento bravo, especial, ver o estádio do Benfica cheio a gritar campeões, ainda que faltasse mais uma jornada", disse..A liderança de Luisão.Se há jogador que Trapattoni não se esquece dos seus tempos no Benfica, há 12 anos, é de Luisão, o único daquele plantel que ainda se mantém na equipa. Naquela equipa que se sagrou campeã atuavam jogadores carismáticos como Petit, Simão Sabrosa, Nuno Gomes ou Mantorras, mas foi no central que o italiano já via um autêntico líder.."Ainda era muito novo [24 anos] na altura, mas já era um dos líderes da equipa. O Luisão foi muito importante nesse ano, não só pelo golo ao Sporting mas também por tudo o que transmitiu durante a época ao grupo. Era uma voz de comando dentro de campo, como o Simão, e acredito que ainda hoje o seja", referiu o técnico italiano..Apesar de ter saído da Luz logo nessa época, após ter reconquistado um campeonato que fugia há 11 anos [1993-94], Giovanni Trapattoni nunca deixou de acompanhar a carreira das águias. "Têm dominado nos últimos anos em Portugal e isso deixa-me satisfeito. O presidente tem feito um grande trabalho. Quando estive em Portugal o FC Porto dominava, era a Juventus de Portugal, mas agora tudo mudou e até na Europa o Benfica tem feito boas campanhas. Fico muito satisfeito e espero que consigam voltar a conquistar o título", salientou o italiano, que desconhecia a curta vantagem dos encarnados nesta altura do campeonato.."Sigo o que posso e consigo, mas sinceramente não sabia que só tinham um ponto de vantagem. Vi alguns jogos, gostei, estão fortes, e acredito que consigam segurar a vantagem até ao final", atirou a velha raposa, que pede um Benfica forte para atacar a reta final da Liga que tem como maior dificuldade uma deslocação a Alvalade. "Um final de época muito bravo. O Benfica tem de ser muito forte, sobretudo mentalmente. É o único conselho que posso dar, mas o treinador Rui Vitória saberá a melhor forma de lhes transmitir confiança. São campeões há três temporadas consecutivas e isso também é prova de que têm uma grande estrutura mental", afirmou o italiano de 78 anos.