Bertrand Piccard.Impulso solar para mudar o mundo.Jacques, o pai, foi o primeiro homem a descer (em 1960) ao ponto mais profundo dos oceanos do mundo - a depressão Deep, na mítica fossa das Marianas, no Pacífico - a bordo do Trieste, juntamente com um tenente da Marinha dos EUA, Dan Walsh. Quase trinta anos antes (em 1931), o avô Auguste, engenheiro e explorador como o filho Jacques, entrou pela primeira vez na estratosfera em balão. Bertrand, filho e neto de pioneiros, tinha de se superar, algo que fez em 1999 ao dar a primeira volta ao mundo em balão com o britânico Brian Jones, sem escalas, somando mais de 45 mil quilómetros em vinte dias. Auguste e Jacques exultaram com a façanha do Piccard mais novo, que além de aviador é médico psiquiatra. "Se eu voltasse das minhas expedições a dizer que a única coisa que me motiva é bater recordes, qualquer pessoa à minha volta iria entender", supõe Bertrand, contente com o orgulho da família mas não deslumbrado por ele. A verdade é que não é isso que mais motiva o explorador, empenhado em que as suas aventuras chamem a atenção para outros assuntos sérios como o da Winds of Hope, por exemplo, a organização que fundou para combater doenças negligenciadas em crianças. Ou em quanto o ambiente podia ganhar (e nós com ele) se nos agarrássemos apenas a energias limpas e soluções ecológicas, com um impacto transversal na economia.."Apesar de a volta ao mundo em balão ter sido um sonho tornado realidade, a Solar Impulse (à letra impulso solar) é o meu projeto de vida", revela Piccard, referindo-se à aeronave não convencional, alimentada a energia solar, construída por uma equipa de cientistas e engenheiros que o próprio liderou. Neste protótipo, que pesa tanto como um automóvel embora com a envergadura de um Airbus, o explorador circum-navegou a Terra com êxito dia e noite (até mesmo quando não havia sol), voando 64 mil quilómetros para provar que a energia limpa deve, sim, ser aproveitada para revolucionar a economia global, ao mesmo tempo que reduz as emissões de gases com efeito estufa. "Em última análise, vejo na Solar Impulse todos os aspetos da minha herança familiar: espírito pioneiro, curiosidade, perseverança, aventura científica, tecnologia de ponta, o questionar do que outros consideram impossível", diz. E, claro, a proteção ambiental..Zita Martins.Há muito mais vida além da que existe na Terra.A história da primeira astrobióloga portuguesa, que passa os dias a tentar descobrir como surgiu a vida na Terra e se há vida fora dela, dava um ótimo argumento de ficção científica. "A vida terrestre surgiu há cerca de 3,5 a quatro mil milhões de anos, através de fósseis que funcionam como amostras reais e nos ajudam a fazer os cálculos. Já o sistema solar formou-se antes, há 4,6 mil milhões de anos", revela a investigadora de Astrobiologia e Cosmoquímica no Centro de Química-Física Molecular, no Instituto Superior Técnico. Foi ela quem criou esta área de investigação em Portugal, em 2018, o que por si só indica os anos-luz a que está de qualquer outra pessoa.."Os cientistas detetavam bases nitrogenadas em meteoritos, mas não sabiam se essas moléculas do nosso código genético eram extraterrestres ou simples contaminação terrestre", recorda a astrobióloga, especialista no estudo da origem, da evolução e da distribuição da vida no universo. Em 2005, a trabalhar como cientista convidada na NASA enquanto terminava o doutoramento em Leiden, na Holanda, fez análises que provam que são extraterrestres, sem sombra de dúvidas, e acabou com a discussão de uma vez por todas..De resto, foi a ver Cosmos na televisão - a série que o cosmólogo Carl Sagan escrevia e apresentava nos anos 1980 dando a ideia de que a ciência, afinal, era fixe e acessível - que Zita Martins passou a andar com a cabeça nas nuvens. Perdia-se uma potencial bailarina clássica de renome, nascia uma cientista brilhante, que já foi investigadora no Imperial College London e professora convidada na Universidade Nice Sophia Antipolis, em Nice, França..Pelo caminho, Zita colaborou com a missão ExoMars para detetar sinais de vida extraterrestre em Marte. Participa em missões da Agência Espacial Europeia e da Agência Espacial do Japão. Integra o Comité Executivo da Associação Europeia de Astrobiologia. Em 2015 recebeu a comenda da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada pelas suas pesquisas..Só lhe faltava mesmo regressar a Portugal para pôr o país no mapa da astrobiologia ao nível internacional, algo de que está a tratar como professora e investigadora no Técnico e, desde março deste ano, também como codiretora nacional do programa MIT Portugal, dirigido pelo professor catedrático da Universidade do Minho Pedro Arezes. É mais uma missão impossível das que ela gosta..Dafydd Williams.Um astronauta canadiano na cimeira de Lisboa.Se há momento que define um antes e um depois na vida dos astronautas, é aquele em que veem pela primeira vez a Terra a partir do espaço, como um oásis improvável em que conseguem apontar as cidades reluzentes, os desertos, as cordilheiras e as florestas. Como partilhar esse sentimento com quem nunca vai estar lá em cima para vê-la assim também, tão perfeita e azul?."Em agosto de 2007, quando estava fora da nave Endeavour na minha segunda ida ao espaço, percebi o poeta Ted Rosenthal ao dizer que podemos viver uma vida inteira num momento. Senti-o ali. Foi um instante que nunca vou esquecer", diz o médico de Saskatoon, Canadá, no seu livro Defying Limits: Lessons from the Edge of the Universe (Desafiar os Limites: Lições dos Confins do Universo em tradução livre). "Muito antes disso, sonhei que seria astronauta desde que vi o Alan Shepard ser lançado no primeiro voo suborbital americano a 5 de maio de 1961, onze dias antes do meu sétimo aniversário.".Em junho de 1992, Williams deixou de sonhar ao ser efetivamente integrado na Agência Espacial Canadiana, onde completou o treino básico e foi nomeado responsável operacional do grupo médico de missões no espaço, graças à formação exaustiva em cirurgia e medicina de emergência. Os seus conhecimentos ao nível do sistema nervoso - e em particular de como a ausência de gravidade o afeta - fazem dele um dos peritos mais requisitados pela NASA, que integra desde janeiro de 1995 após ter sido selecionado para se juntar à equipa internacional de astronautas candidatos a especialistas de missão (uma categoria de tripulantes que desempenham funções médicas, técnicas ou científicas sem estarem ligados ao voo da nave em si)..Em abril de 1998, Dafydd Williams estreou-se no espaço na missão STS-90, a bordo da Columbia, para 16 dias em órbita junto ao Spacelab, um laboratório para investigar a microgravidade. Em 2001, tornava-se o primeiro canadiano a viver e a trabalhar quer no espaço quer no oceano, ao participar na também primeira missão subaquática da NASA, NEEMO. Aí, astronautas, engenheiros e cientistas são enviados a passar temporadas de mais de três semanas na Aquarius, única estação de pesquisa do mundo debaixo do mar, que simula as condições de exploração do espaço. Em 2007, era ele quem comandava a missão NEEMO 9. Hoje vive reformado e feliz, com os pés na terra e olhos postos na Lua..Fabien Cousteau.O protetor dos mares que se tornou tão famoso como o avô.Filho de peixe sabe nadar, o que no caso de Fabien Cousteau - o neto mais velho de Jacques-Yves Cousteau, famoso explorador dos mares do século XX -, equivale a dizer que tinha tudo para seguir as pisadas do avô. "Podia ter sido pressionado a seguir o negócio da família, o legado é poderoso na vida de um homem", admitiu o explorador numa entrevista à Wilderness Magazine. No seu caso, porém, foi natural. Tornou-se aquanauta, ambientalista dos oceanos e realizador de documentários como Jacques-Yves. Porque quis, não porque o tenham obrigado a nada. "Cresci a ouvir o meu avô repetir que as pessoas protegem o que amam, amam o que compreendem e compreendem o que lhes ensinam, é aqui que tudo começa", explica Fabien, que entende perfeitamente a lógica, já que ele próprio foi apanhado em cheio por este amor pelo mar. Aprendeu a mergulhar aos 4 anos, quando a maioria das crianças ainda nem largou as rodinhas da bicicleta. Passou boa parte da infância a bordo dos míticos navios do avô, Calypso e Alcyone.."Acho que foi algo que sempre fez parte de mim e me vicia, esta vontade de conhecer o desconhecido", diz. Tão importante como perceber o mundo natural para trabalhar na sua preservação é a noção de que o mar lhe dá a sua humanidade, de que às vezes se esquece um pouco quando passa dias lá em baixo, no meio dos peixes. Como daquela vez em que ficou um mês consecutivo num laboratório submerso na Florida, a cerca de vinte metros de profundidade, a estudar os efeitos das mudanças climáticas na vida marinha..Trepidante foi também colaborar num especial de televisão chamado Attack of the Mystery Shark (Ataque do Tubarão Misterioso), destinado a mudar os preconceitos do público sobre os tubarões, e nadar com tubarões brancos para a série televisiva Mind of the Demon, exibida pela CBS entre 2003 e 2006..A irmã, Céline, chamou-lhe louco por ter construído um submarino-tubarão chamado Troy, mas foi o que lhe permitiu registar o comportamento natural dos predadores sem os espantar..No início de 2009, Fabien começou a trabalhar com comunidades locais e crianças em todo o mundo para ajudar a restaurar os ecossistemas aquáticos locais. Continua envolvido nessa missão através do Fabien Cousteau Ocean Learning Centre, a organização sem fins lucrativos que fundou em 2016 para educar e envolver as pessoas. É a tal história de proteger o que amamos que lhe ficou do avô..George Kourounis.O caçador de tempestades.Vai a correr de câmara na mão para lugares de onde a maioria das pessoas foge, seja um tornado no Kansas ou vulcões em erupção. Os seus feitos foram apresentados no Discovery Channel, na National Geographic, na BBC, na CNN e no seu próprio programa, Angry Planet, transmitido em mais de cem países..GLEX Lisboa 2019, a cimeira dos exploradores.Novas fronteiras no espaço. Achados arqueológicos que reescrevem a história da humanidade. Alterações climáticas. Profundezas oceânicas. Extinção dos dinossauros. Os segredos das múmias. No 500º aniversário da primeira viagem de circum-navegação da Terra, realizada pelo português Fernão de Magalhães, que coincide com o 50º aniversário do desembarque na Lua, exploradores do mundo inteiro reúnem-se em Lisboa entre 3 e 5 de julho para a Global Exploration Summit - GLEX Lisboa 2019, organizada pelo The Explorers Club (uma sociedade internacional fundada em 1904, com sede em Nova Iorque, que promove missões científicas de exploração em terra, no mar, no ar e no espaço). Em três dias os exploradores vão partilhar as suas histórias inspiradoras, descobertas recentes e planos para expedições futuras rumo a novas fronteiras na exploração. No final do encontro - que decorre entre o Centro Champalimaud para o Desconhecido, a Aula Magna e o Oceanário -, os líderes e as autoridades internacionais do The Explorers Club vão assinar a Declaração de Lisboa, em que se comprometem, num esforço conjunto, a motivar o público para a preservação do planeta. Uma segunda e última cimeira está prevista para daqui a dois anos..Ingresso de uma manhã ou uma tarde: 30 euros (estudantes: 12). Pack de cinco bilhetes de meio dia: 135 euros. Dia completo: 50 euros (estudantes: 20). Pack de cinco bilhetes: 225 euros. .E são estes os outros 26 aventureiros de quem se vai ouvir falar.Liv Arnesen. Em 1994, a exploradora polar norueguesa foi a primeira mulher a esquiar sozinha e sem apoio até ao Polo Sul, numa expedição de 50 dias e 1200 quilómetros..James Garvin. Cientista-chefe do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA, é especialista na ciência por detrás do programa de exploração de Marte..Felicity Aston. Exploradora polar britânica, tornou-se em 2012 a primeira mulher a esquiar sozinha na Antártida..Don Walsh. Oceanógrafo americano e um dos cinco Famosos Pioneiros do Explorers Club em exploração, foi o primeiro (com Jacques Piccard) a alcançar o ponto mais profundo do oceano, em 1960..Madison Stewart. Filma e mergulha com tubarões desde os 12 anos. Mudou para o universo da conservação devido a um grave declínio de tubarões nos seus recifes locais na Austrália..Salima Ikram. Reputada professora universitária de egiptologia na Universidade Americana do Cairo, trabalhou como arqueóloga na Turquia, no Sudão, na Grécia e nos EUA..José Manuel Núñez de la Fuente. Antropólogo da Universidade de Sevilha, produziu vários documentários históricos, incluindo a série El Testamento de Adán, que cobre a primeira circum-navegação de Magalhães e Elcano..Alan Stern. Cientista planetário e consultor aeroespacial, lidera a missão New Horizons, da NASA, que explorou o sistema de Plutão e está a explorar a cintura de Kuiper..Beverly Goodman. Arqueóloga, geóloga e antropóloga, estuda as causas e os efeitos de acontecimentos ambientais como tsunamis e inundações para entender quais os riscos atuais..Joakim Odelberg. É um dos mais respeitados (e contratados) fotógrafos de conservação e cineastas subaquáticos na Suécia, além de conhecido palestrante além-fronteiras..Alexander More. Cientista do clima, historiador, fotógrafo e explorador, usa ferramentas de ponta para envolver o público na realidade das alterações climáticas e na procura de soluções para elas..Samantha Joye. Especialista em biogeoquímica e ecologia microbiana, professora na Universidade da Geórgia, EUA, trabalha em ecossistemas oceânicos e costeiros abertos..Richard Wiese. Desde que escalou o monte Kilimanjaro aos 11 anos, vive uma aventura atrás de outra pelo mundo. Em 2002 tornou-se o presidente mais jovem do The Explorers Club, cargo que ocupa atualmente..Tim Jarvis. Cientista ambiental, autor e aventureiro sediado na Austrália, realizou expedições não apoiadas às regiões mais remotas do mundo..Christine Spiten. É cofundadora da Blueye Robotics, que desenvolveu o drone subaquático Blueye Pioneer, permitindo a qualquer pessoa explorar o oceano até 150 metros de profundidade a partir de um smartphone..Lindy Elkins-Tanton. Líder de quatro expedições de campo à Sibéria, é investigadora principal da Missão Psyche da NASA e especialista na evolução planetária terrestre..Ken Lacovara. Fundador do Edelman Fossil Park da Universidade de Rowan, EUA, descobriu alguns dos maiores dinossauros que já percorreram a Terra e como terão morrido..Lee Rogers Berger. Graças às suas explorações sobre a origem do homem na Ásia, África e Micronésia, descobriu duas novas espécies dos nossos primeiros parentes: Australopithecus sediba e Homo naledi..Bran Ferren. Engenheiro e inventor prolífico, designer de veículos, luzes e som, foi responsável de pesquisa e desenvolvimento na Walt Disney e animou filmes de Hollywood, espetáculos da Broadway e feiras mundiais..Laurence Bergreen. Premiado biógrafo e cronista de explorações norte-americano, os seus livros foram traduzidos em mais de 25 idiomas no mundo inteiro..Anish Andheria. Fotógrafo da vida selvagem e especialista em grandes carnívoros, é o presidente da Wildlife Conservation Trust, com a qual realiza trabalhos de conservação inovadores em toda a Índia..Ian Saunders. Presidente e cofundador do Tsavo Conservation Group, no Quénia, tem trabalhado ativamente no apoio à vida selvagem, habitats e comunidades na região..Laurie Marker. Fundadora do Cheetah Conservation Fund, ajudou a desenvolver o programa cativo norte-americano e internacional, estabelecendo o programa de criação de chitas em cativeiro de maior sucesso na América do Norte..Damien Leloup. Arqueólogo marítimo, começou a sua vida profissional com Jacques Cousteau, a bordo do Calypso e do Alcyone..Victor Vescovo. Antigo oficial da Marinha, tornou-se a primeira pessoa a atingir o ponto mais profundo do oceano Atlântico em 2018. Em 2019 foi ainda o primeiro a chegar ao fundo do Antártico.