"Nós decidimos quando jogam." Fãs do Man. Utd afrontam proprietários

Centenas de adeptos juntaram-se em Old Trafford a exigir a saída da família Glazer. Uma parte entrou no relvado antes do jogo com o Liverpool, que acabou por ser adiado.
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A revolta dos adeptos do Manchester United não foi aplacada com o projeto fracassado da superliga europeia e ontem decidiram marcar posição, ao invadir o relvado do estádio Old Trafford entre cânticos e cartazes a exigir o afastamento dos atuais proprietários, a família Glazer. A iniciativa, que acabou por se saldar em confrontos com a polícia e várias detenções, teve como consequência o adiamento da partida com o Liverpool, deixando o rival City à espera mais umas horas para poder comemorar o título de campeão inglês.

"Queremos os Glazers fora", cantaram largas centenas de adeptos do Manchester United. Uma parte forçou a entrada no estádio, entrou no terreno de jogo e alguns inclusive subiram aos postes das balizas. Lá fora, um grande número de adeptos continuava a manifestação, no dia em que o Manchester City poderia ser coroado campeão da Premier League se o United, segundo classificado da Premier League, a 13 pontos do líder, perdesse frente ao ainda campeão.

O jogo deveria ter começado às 16.30, mas a única equipa presente no estádio era a de arbitragem. Por volta dessa hora as forças de segurança já haviam retirado os adeptos do estádio, mas ficara um rasto de lixo. Não é claro se houve danos materiais. O protesto foi pacífico até ao momento em que os fãs responderam à chegada das forças de segurança com o lançamento de garrafas e de barreiras de segurança, tendo havido alguns confrontos e detenções. Segundo a Sky Sports, alguns adeptos terão entrado nos balneários, o que explicará a decisão tomada: o adiamento do jogo, para data a determinar.

"Os nossos fãs são apaixonados pelo Manchester United, e reconhecemos completamente o direito à livre expressão e ao protesto pacífico. Contudo, lamentamos a perturbação causada à equipa e as ações que colocam outros adeptos, pessoal e a polícia em perigo", lia-se num comunicado dos red devils.

"Compreendemos e respeitamos a intensidade dos sentimentos, mas condenamos todos os atos de violência, danos criminosos e invasões, especialmente tendo em conta as infrações associadas à covid-19. Os fãs têm muitos meios para dar a conhecer as suas opiniões, mas as atitudes observadas hoje de uma minoria não têm qualquer justificação", lamentou por sua vez a Premier League.

Nas imediações, junto ao hotel Lowry, onde fica hospedada a equipa da casa, os adeptos festejaram o adiamento do jogo. "Nós decidimos quando podem jogar", cantaram. Para Roy Keane, o dia do protesto não foi escolhido ao acaso. "Hoje havia um jogo enorme, há um enorme interesse de todo o mundo e houve uma oportunidade para os adeptos do United emitirem uma mensagem de peso", disse o ex-jogador do clube.

E que mensagem é essa? Os adeptos suspiraram de alívio quando o magnata Rupert Murdoch acabou por não tomar conta do clube em 1998 , mas em 2005 viram com desgosto a família norte-americana Glazer tornar-se proprietária através de um negócio em que o clube ficou com centenas de milhões de libras em dívida e os Glazers têm recebido milhões e milhões em juros, dividendos e honorários. Uma parte dos adeptos cindiu e criou o United of Manchester, associação em que todos os sócios têm a mesma quota-parte, e que milita nas divisões secundárias.

Neste domingo, em sinal de protesto, muitos dos adeptos do United voltaram a usar as cores verdes e douradas de Newton Heath, o clube fundado em 1878 que acabou por se tornar no Manchester United 24 anos mais tarde. De verde e dourado ou de vermelho, todos marcaram posição contra os Glazers.

O facto de o clube ter feito parte do núcleo de equipas (como o City ou o Liverpool) fundadoras da superliga europeia foi a gota de água. O projeto que procurava garantir a 15 membros fundadores uma competição de alto nível e elevadas receitas sem a necessidade de se qualificar em campo fracassou, mas isso não apaziguou os fãs. Tal como a declaração do copresidente do United, Joel Glazer, que pediu desculpa aos adeptos por ter inscrito o clube na superliga.

cesar.avo@dn.pt

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