Noite de Jazz raro em Angra do Heroísmo

Reunião do Sexteto de Jazz de Lisboa fechou em alta segunda noite do Angrajazz. Para hoje estava prevista a atuação de Gregory Porter. Devido a mau tempo o norte-americano atuará apenas no domingo
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De boné bem encaixado, Lee Konitz começou a noite a assumir a felicidade por estar em Angra do Heroísmo. Depois, reconheceu que a felicidade é constante. "Estou muito feliz por estar em qualquer lado", disse o saxofonista nascido em 1927. E acompanhado pelo trio de Jeff Denson, o veterano de 88 anos continuou a provocar gargalhadas.

Indiferente às garantias que os companheiros de palco lhe davam de que tudo soava bem, embirrou com o microfone e o seu som "horrível" e exigiu que lhe baixassem o volume antes de assumir que "gosta de fazer cenas" e se sentar para o primeiro concerto da noite. Um divertido aperitivo para o prato que se seguia. Se é raro o concerto de Jazz em que as piadas fazem parte da ementa, mais raro ainda é poder ouvir o Sexteto de Jazz de Lisboa.

Em 1984, estrearam-se na primeira edição do Jazz em Agosto na Fundação Calouste Gulbenkian e em 1987 deixaram em vinil o único registo gravado, Ao Encontro. O tempo haveria de os separar em 1990 e de fazer do disco uma raridade: editado em vinil e sem direito a reedição em CD, hoje os exemplares são raros e os concertos nem por isso mais frequentes.

A reunião começou em maio, com dois concertos no ciclo das "Histórias do Jazz em Portugal", passou pelo Avante! e agora chegou às ilhas, ontem em Angra e hoje em Ponta Delgada, na recriação do percurso feito em 1987. No elenco, Ricardo Toscano assumiu o saxofone do falecido Jorge Reis, mas Mário Laginha manteve-se ao piano, Tomás Pimentel no trompete, Edgar Caramelo no saxofone enquanto Pedro e Mário Barreiros voltaram ao habitual posto, respetivamente, de contrabaixo e baterista do grupo.

Ontem, em Angra mais raro que as gargalhadas que Konitz provocou com a mesma naturalidade com que cantava e tocava saxofone, foi o nível do jazz que o próprio se sentou na plateia para ouvir. Laginha não procurou os holofotes, mas brilhou em Descolagem, Pimentel, Caramelo e Toscano encheram a sala e, lá atrás, o contrabaixo de Pedro Barreiros assegurou que nunca faltava embalo.

Konitz não ficou até ao final do concerto e perdeu o momento mais alto da noite - Laginha compôs um original para o grupo. Disco novo no horizonte ou um extra para a reedição da raridade quase a completar 30 anos? Graça tinha e essa escusava de ser tão rara.

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