Olhando para os dias de hoje, parece que tudo se passou em tempos há muito idos, mas foi apenas há uns escassos 41 dias antes da "reviravolta" governamental, que o ministro da Economia anunciava, em Albufeira, no Dia Mundial do Turismo, um pacote de medidas de 100 milhões de euros..Foram então anunciados mecanismos de financiamento para 3 Linhas distintas. Turismo +Sustentável com a maior fatia, de 50 milhões, seguida da Linha +Algarve, com 30 milhões, e por fim a 2.ª edição da Call Turismo +Crescimento, com 20 milhões..Sabíamos que as coisas não estavam como gostaríamos, mas tudo parecia bem encaminhado. Hoje, o sentimento não é, nem pode ser, o mesmo, dado o elevadíssimo nível de incerteza em que o país mergulhou, arrastando também os agentes económicos..Não quero com isto dizer que os anúncios não tenham sido animadores, enquanto sinais evidentes de que o Turismo continua a ter de ser levado muito em conta, nas contas da economia nacional, mas quando penso em fazer um balanço de 2023 e projetar o bissexto 2024, o que antevejo é uma balança muito desnivelada..Quando olho para os resultados do ano que ainda corre, não posso deixar de ficar orgulhosa com os números do Turismo. Foram 23,5 milhões de hóspedes e 61,1 milhões de dormidas, entre janeiro e setembro de 2023. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, estes números ultrapassam em 14,3% e 11,3%, respetivamente, os valores de 2022. E, no mesmo prato da balança, falta colocar ainda o peso das receitas turísticas internacionais que, no acumulado até setembro, ascenderam a 20 mil milhões de euros, mostrando claramente a excelência e relevância do nosso destino..E o que podemos dizer quanto a 2024? Teremos tréguas nas taxas de juro, essas que são incomportáveis para a maioria dos comuns mortais? Teremos tréguas na escalada da inflação, que, apesar de estar a desacelerar (2,1% em outubro), continua a revelar um enorme desequilíbrio em relação à classe Restaurantes, Cafés e Estabelecimentos Similares (7,2%) e de matérias-primas tão essenciais como a fruta (10,8%)? As possíveis respostas inquietam-me, não só pelo que eu própria antevejo, mas por todos os indicadores que vamos tendo..Mas o que até aqui, para mim, seriam dúvidas, tendem agora a transformar-se cada vez mais em certezas, especialmente depois de ter ouvido a economista alemã e membro da Comissão Executiva do Banco Central Europeu, Isabel Schnabel, por ocasião do 35º aniversário da Porto Business School, afirmar, com toda a convicção, que "ainda não podemos declarar vitória contra a inflação", e que a "política monetária precisa de ser vigilante", porque, apesar de se achar que podemos estar no caminho certo, não só as previsões podem não estar corretas, como a last mile - a fase final da descida da inflação - é bem provável que ainda demore algum tempo..Perante este cenário, o conselho não podia ser outro senão "prudência". Numa audição na Comissão dos Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, em Bruxelas, Christine Lagarde afinou também pelo mesmo diapasão e avisou que "não é altura de começar a declarar vitórias" e que "temos de permanecer atentos às diferentes forças que afetam a inflação"..E de incerteza em incerteza, chego ao nosso "reino", que se prepara para enfrentar umas eleições prematuras, envoltas em grande indefinição quanto ao seu resultado, o que indicia fortes movimentações pós-eleitorais..E o que dizer do Orçamento do Estado para 2024? Outra incerteza. O que vai ser do documento (e do país) após as eleições de março próximo? Alguém se atreve a dizer que tem as certezas para responder a estas perguntas? Ninguém no seu perfeito juízo ousará fazê-lo. Mas mesmo com todas estas incertezas continuo a acreditar na resiliência das empresas turísticas que ao longo dos tempos têm dado provas únicas dessa capacidade e vão continuar a dar. No reino da incerteza, quero continuar a ter essa certeza..Secretária-geral da AHRESP - Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal