No novo Uncharted, elas são o maior tesouro
Tom Raider sem Laura Croft não existe. Halo não seria o mesmo sem a inteligência artificial Cortana. Resident Evil precisa de Sherry Birkin para funcionar. Não são muitos mais os exemplos dos grandes jogos de vídeo que têm personagens femininas como protagonistas icónicas, mulheres capazes de rivalizar com os maiores heróis do entretenimento. A partir de agora, juntamos-lhes mais duas: Chloe Frazer e Nadine Ross.
As duas protagonistas de Uncharted: The Lost Legacy/O Legado Perdido (PS4), a mais recente aventura da famosa saga de videojogos exclusiva da PlayStation, são mais do que capazes de tomar o lugar do herói Nathan Drake, sem que este verdadeiramente deixe saudades. Pelo contrário.
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Podemos mesmo afirmar que as duas heroínas - uma ladra/arqueóloga indo-australiana e uma militar sul-africana - e a relação entre elas é o elemento mais bem conseguido do jogo, que esta quarta-feira chegou às prateleiras das lojas e à PlayStation Store. Nesse aspeto, a decisão dos estúdios Naughty Dog de "promover" ao papel principal estas personagens já conhecidas dos jogos anteriores foi mais do que feliz.
A história passa-se na Índia e prende-se com a descoberta (como não podia deixar de ser) de um tesouro perdido. Começamos nas ruas de uma sobrepopulada cidade em guerra e passamos para os caminhos de terra e rios (e cascatas) da floresta subtropical indiana, com puzzles para resolver, inimigos para abater e muitos quilómetros para andar. Felizmente, o nosso jipe consegue passar por cima de quase qualquer coisa...
Jogamos com Chloe, sendo Nadine sempre controlada pelo computador. Mas ao contrário do que acontece com muitas soluções deste género, aplicadas noutros jogos, a inteligência artificial raramente incomoda. Quase nunca acontece termos uma tarefa dificultada porque o companheiro virtual não nos segue, ou se coloca na linha de fogo ou, simplesmente, não sai da frente. Nadine, pelo contrário, revela-se destra no combate com o inimigo, é capaz de agir ou esperar nos momentos certos e até ajuda a descobrir alguns elementos necessários para prosseguir com o jogo. E, acima de tudo, tem com a "nossa" Chloe uma relação de "antipática amizade" que funciona bem e é divertida.
Chloe, de resto, não é em nada menos capaz do que Nathan Drake, pelo que a jogabilidade - mesmo para quem está habituado aos títulos anteriores da saga - continua a ser excelente.
Visualmente, Uncharted: The Lost Legacy é, numa palavra, soberbo. Chega a ser um prazer passear pelo mundo aberto do jogo só para "ver a paisagem". E não faltam momentos na história em que se aproveita, de forma incrivelmente eficaz, essa característica. Levar Chloe ao cimo de um monumento no alto de uma montanha é um prazer, não apenas pelos movimentos que temos à disposição para ultrapassar os obstáculos como pela beleza que, sabemos de antemão, vamos poder observar quando chegarmos lá a cima.
Neste cenário espetacular, só é pena que... não haja muito mais para fazer. Este é o maior defeito de Uncharted: The Lost Legacy: o mundo aberto é lindo e grande, mas na realidade não existem muitos segredos escondidos na paisagem. A história do jogo acaba por ser um pouco linear. Podemos escolher livremente para que destino seguir a qualquer momento, é um facto, mas quando lá chegamos deparamo-nos sempre com o mesmo tipo de problemas - uma horda de inimigos para abater, puzzles para resolver. E ainda que estes variem no tipo e complexidade, facilmente se sente que as "missões" se estão a tornar repetitivas.
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Uma palavra de elogio, de qualquer forma, para a mecânica de combate. Uncharted: The Lost Legacy vai buscar os princípios de Uncharted 4, permitindo eliminar os inimigos com estratégias sub-reptícias - até que o som de uma explosão ou um movimento em falso lança o alarme. Nessa altura vêm os reforços, em grande número, e o tiroteio que se segue é intenso, mas de muito boa jogabilidade.
Feitas as contas, sente-se um pouquinho que este é um jogo que nasce como uma expansão de um jogo "principal" (quem possui a Expansão Pack Triplo de Uncharted 4, a Edição Digital de Luxo do mesmo ou o Pack de Explorador pode transferi-lo de graça). Ao contrário do que acontece com os outros jogos da saga, toda a ação se passa num único país - a Índia - e perde-se um pouco a noção de "grande aventura" tipo Indiana Jones que os outros encerram.
Mas pela beleza da paisagem e, sim!, das duas personagens principais, este é um título que merece fazer parte da biblioteca de quem gosta de aproveitar o potencial da sua PlayStation 4.