No change, ma'am
O governo de Modi retirou de circulação as notas de mil e de 500 rupias. Contra a corrupção. Os indianos têm até dia 30 para se desfazerem destas notas. Compreendem as razões. Mas admitem que a medida se revelou um verdadeiro pesadelo. E não só para eles. Para os turistas também. Chegada ao aeroporto de Mumbai, em meados de novembro, fui trocar euros por rupias e prontamente me confirmaram: disponíveis só notas de 2000 rupias e pouco mais. Ao tentar comprar cafés e águas, dizem: "No change, ma"am" (senhora, não tenho troco). Solução: pagar com o cartão. Rumo a Goa e a seguir Gokarna, no estado de Karnataka. São três horas e meia de carro, por entre buzinadelas constantes e travagens para deixar passar vacas sagradas. A meio do caminho uma paragem para almoçar num restaurante vegetariano onde um cartaz lembra que não se aceita mais notas de mil e de 500 rupias. Paguei com uma de 2000, numa tentativa de obter troco. E consegui. Mas poucas mais vezes repetiria a proeza. "No change, ma"am" foi das frases que mais ouvi, fosse do rececionista do hotel ou do vendedor da praia. Este último até aceitava vender fiado acreditando que eu no dia seguinte teria arranjado troco para lhe pagar. "Sou pobre e vivo disto", dizia-me, a sorrir. O mesmo cenário em Goa. Na capital do estado, Panjim, o melhor também era o cartão. Mas e o que fazer com as várias notas de 2000 rupias que trouxera do aeroporto? Solução encontrada em Mumbai, no Maharashtra, onde terminei a viagem: comprar tudo nos mercados de rua, pois aí o dinheiro está sempre a rodar e os vendedores ambulantes são dos poucos a ter troco. Quando as rupias acabam, vou com uma amiga a um multibanco. Filas intermináveis e guardas à porta a ver quem repete levantamentos. Chega a vez. As notas pequenas acabaram. Agora só de 2000 rupias. E eis que começa de novo a odisseia de conseguir troco.