Ninguém acredita que Falcao festeje se marcar ao FC Porto

Colombiano defronta amanhã, pela primeira vez, o clube que lhe abriu as portas da Europa. Mas desengane-se quem pensar que os primeiros tempos foram fáceis. Jesualdo, o mestre, foi providencial em 2009
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Há oito anos, sensivelmente, chegou à cidade do Porto um avançado colombiano que atuava no River Plate da Argentina e que tinha motivado uma guerra sem quartel entre Benfica e FC Porto, com Rui Costa, recém-empossado nas funções de homem forte para o futebol encarnado, a fazer finca-pé na contratação do futebolista que acabaria por assinar pelos dragões.

Em pouco mais de duas temporadas, Radamel Falcao fez as delícias dos adeptos do clube azul e branco ao apontar 72 golos em 87 encontros (ainda é detentor do recorde de golos na Liga Europa, com 18 na época 2010/11). Para além disso ajudou a preencher o Museu do clube com dois campeonatos, duas Taças de Portugal, três Supertaças e a prestigiante Liga Europa, em cuja final foi decisivo ao marcar o único golo da final de Dublin diante do Sporting de Braga.

Dois anos depois de Dragão ao peito, Falcao rumou ao Mónaco, que o emprestou, sem grande sucesso ao Chelsea e ao Manchester United. E, para vermos as voltas que a vida dá, o já trintão Falcao parece estar agora a viver uma segunda vida depois da lesão que o afastou do Mundial 2014 e que o impediu de brilhar na Premier League. É em plena forma que vai defrontar o "seu" FC Porto pela primeira vez, já amanhã, no Principado do Mónaco.

O DN tentou rebobinar a cassete e percebeu que os primeiros tempos em Portugal foram tudo menos fáceis para o colombiano. E houve um homem muito importante para a sua adaptação.

"Não estava lá quando ele chegou mas era comentado que ao início tinha revelado muitas dificuldades para se impor, pois vinha de um país e de um campeonato diferentes. Ele ficou muito a dever ao professor Jesualdo, que ficava com ele depois dos treinos a ensinar-lhe todos os movimentos", revela Sereno, internacional português que coincidiu com Falcao em 2010/11, ano do pleno com André Villas-Boas.

Esta situação é confirmada por José Gomes, atual treinador dos sauditas do Al Taawon e à época adjunto de Jesualdo Ferreira. "Tive oportunidade de o ver ainda no River Plate antes de ir para o FC Porto e ele manifestava condições para ter sucesso na Europa. Notava-se ali um movimento, uma corrida, uma técnica diferente. Em relação ao jogo em si, aquele espírito do futebol sul-americano, por si, não era suficiente para ter sucesso. Era preciso aprimorar as receções, estar colocado no sítio certo em função do local da bola para depois utilizar a sua qualidade. O mestre Jesualdo, que o é na arte de ensinar futebol, foi fundamental com muito trabalho extra", explica o técnico, que não tem pejo em elogiar a disponibilidade do avançado em melhorar.

"É sempre difícil um jogador da qualidade dele, e estamos a falar de um goleador que era uma estrela na sua equipa anterior, aceitar que o corrijam. Mas ele aceitou. E isso explica-se pela sua humildade e inteligência. Ao reunir essas características abraçou a ideia e o trabalho. Foi muito importante esse querer da parte dele. Reforço que estamos a falar de um futebolista que nada tem de vedeta, mas é muito humilde e muito inteligente e com uma vontade incrível de melhorar. Quando percebeu que havia movimentos que não estava a fazer bem e que podia tirar partido se os fizesse melhor, teve um crescimento exponencial", sintetiza José Gomes.

O golo de Paços

Rolando, atual central do Marselha e também figura de proa do FC Porto nos consulados de Jesualdo e Villas-Boas, não tem problema em revelar o momento em que o plantel azul e branco afastou por completo as dúvidas que havia sobre as qualidades do colombiano.

"Há um jogo, na primeira jornada, em Paços de Ferreira, em que ele fez um golo que me ficou na retina, porque ele não cabeceou na vertical, mas sim quase na horizontal. Essa é a grande imagem que tenho do início dele porque mostrou toda a sua capacidade", sustenta o defesa.

José Gomes vai ainda mais longe dando ênfase a esse jogo em que Falcao salvou o FC Porto da derrota: "É engraçado o Rolando relembrar esse golo em que ele cabeceia paralelo ao chão à altura dos ombros do defesa. Olhe, nunca vi um golo daqueles e esse foi "o" momento. No início havia uma dúvida, porque ele não mostrava o que mais tarde revelou. Digamos que em Paços deu-se o "clic" para a aceitação do grupo de que estava ali um grande jogador para ajudar. O sucesso de um futebolista passa muito pela aceitação do grupo e esse foi o momento do Falcao."

Do futebolista "introvertido, calado e muito reservado, mas sempre cumpridor de todas as tarefas", como o descreve José Gomes, podemos esperar golos e isso pode bem acontecer amanhã, ficando por saber qual será a sua reação, pois nunca defrontou o clube que lhe abriu o palco europeu.

"Ver o Falcao marcar golos é normal e é o que ele sabe fazer de melhor. Festejar... já não acredito. Às vezes no calor do momento sai alguma coisa... mas sendo o FC Porto... sabe que quando jogamos um contra o outro aqui em França falamos muito sobre o FC Porto e eu sei que ele ficou com a veia portista. Por isso, eu acredito que mesmo sendo um jogo da Champions não o vejo a festejar. E diria mais, para além de ser um jogo especial para ele, será também um dos mais complicados da sua carreira", confidencia Rolando.

Sereno, por seu turno, é mais taxativo. "Festejar um golo é uma coisa normal, mas ele não o vai fazer se marcar ao FC Porto. Sei que ele gosta muito do FC Porto", diz o futebolista dos indianos do Chennaiyin que tem uma boa recordação do avançado - "calmo, ponderado, uma boa pessoa e um bom colega".

Agora dá-se o confronto entre duas equipas que precisam de vencer, depois de na primeira jornada não terem conseguido somar os três pontos. "Espero que o FC Porto ganhe porque seria importante, mas vai ser complicadíssimo. O Mónaco é uma equipa excelente, não foi por acaso que foram campeões e chegaram às meias-finais da Champions, mas eu ficarei a torcer para que os meus amigos do Mónaco façam um bom jogo e que a minha equipa, o FC Porto, consiga a vitória", refere Rolando, que, desafiado pelo DN a revelar se já comentou com Falcao um possível regresso de ambos ao Dragão, retira expectativas aos adeptos do vice-campeão nacional.

"Como já disse, falamos muito sobre o FC Porto; do momento, dos resultados recentes, mas não de um regresso. Já passou muito tempo e já fizemos o que tínhamos a fazer no FC Porto", sublinha o atleta de 32 anos.

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