Encerrado o período em que as candidaturas dos históricos predominaram e foram quase obrigatórias (Mário Soares e Almeida Santos), todos os líderes que o PS preparou para serem candidatos a um primeiro mandato de primeiro-ministro tinham - ou teriam - entre 44 e 54 anos no ano em que se realizaram ou eram esperadas eleições: Vitor Constâncio (44), Jorge Sampaio (52), António Guterres (46), Eduardo Ferro Rodrigues (53), José Sócrates (48), António José Seguro (53), António Costa (54). Pode ser coincidência ou pode ser regra não-escrita de ciclo geracional observada há mais de 35 anos. Quem achar que é coincidência também o achará a propósito da circunstância de a esmagadora maioria dos candidatos de quem os analistas e observadores falam com maior insistência para a sucessão de António Costa estarem justamente dentro desse limiar: Fernando Medina, Pedro Nuno Santos, José Luís Carneiro, Ana Catarina Mendes, Mariana Vieira da Silva, Duarte Cordeiro, se olharmos apenas para o grupo dos identificados pelo Diário de Notícias há uns dias atrás (mas há mais, como mostrou Ascenso Simões no Expresso). Claro que há exceções. Mas essas são incontornáveis, como sucede com quem já foi candidato a líder ou líder, sem oportunidade de disputar Eleições Legislativas, como Francisco Assis e António José Seguro..Se não for uma simples coincidência, mas uma regra não-escrita, disciplinadamente interiorizada e cumprida (e porventura também válida, mutatis mutandis, para o PSD), ela constitui uma péssima notícia para muitos dos que constam destas listas de candidatos: hoje todos estão dentro desse limiar, mas possivelmente nem todos o estarão quando a hipótese da sucessão se colocar..Quando é que isso vai ocorrer? Depende daquilo que o melhor candidato à sucessão de António Costa decidir. O melhor candidato à sucessão de António Costa, como líder do PS e, muito possivelmente, como primeiro-ministro, é António Costa. Por isso, os calendários políticos dependem em grande medida dele: sai em 2024 para um cargo europeu? Em 2026, por já ter o seu lugar na História? No fim da legislatura seguinte, se vencedor de eleições, batendo largamente Cavaco Silva como o primeiro-ministro mais resiliente da democracia? Só ele sabe (se é que já sabe)..O problema para muitos dos putativos candidatos é que, a ser verdade que existe a tal regra de ciclos geracionais políticos, há decisões de António Costa que os deixam definitivamente impossibilitados de caber nela, designadamente decisões que atirem para bastante depois de 2026 o calendário da sucessão. Interessantemente, não é o caso do candidato de quem mais se fala, Pedro Nuno Santos. Um dos seus grandes trunfos, à luz da referida regra, é que em 2026 ainda terá idade que lhe permite escolher o que fazer em todos os cenários; e até pelo menos 2030 continuará a poder fazê-lo. Pode apoiar António Costa, se este se recandidatar, manter-se afastado ou candidatar-se contra ele, mesmo arriscando perder, para ganhar depois. Se António Costa sair até 2026, pode candidatar-se para lhe suceder ou decidir não arriscar uma derrota em Legislativas e subsequente travessia no deserto (que quase nunca os líderes derrotados do PS fazem), esperando antes pela legislatura seguinte. Em qualquer desses cenários, Pedro Nuno Santos ainda se pode apresentar a eleições para ser primeiro-ministro dentro da idade em que o PS apresenta há mais de 35 anos candidatos a primeiros-ministros: entre os 44 e os 54 anos. Algumas das outras hipóteses apresentadas pelo DN há umas semanas ou recentemente por Ascenso Simões, no Expresso, ainda estariam nas mesmas condições em 2026, mas não em 2030. E alguns nem em 2030 nem em 2026..É claro que se pode defender que tudo é especulação e que essa coisa dos ciclos geracionais políticos não existe. Mas se assim for, a história muda: teremos de começar a olhar seriamente para alguns nomes que não aparecem nos principais elencos, por não pertencerem à next generation, seja por serem mais velhos, seja por ainda estarem na casa dos 30 anos. Aliás, as principais lacunas desses elencos residem na preocupante ausência destes..Presidente da associação sem fins lucrativos Fórum de Integração Brasil Europa - FIBE, doutor em Direito e especialista em Direito Constitucional.