Neto moderado de Khomeini faz a sua entrada na política

Aos 43 anos, Hassan Khomeini vai ser candidato em fevereiro à Assembleia de Peritos que escolhe o Guia Supremo. Fã de futebol, é popular entre os jovens e a esperança dos reformistas
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Os iranianos lembram-se dele como a criança loira ao lado do ayatollah Khomeini. Agora, aos 43 anos, Hassan Khomeini parece disposto a seguir as pisadas do avô e entrar na política iraniana. Candidato à Assembleia de Peritos nas legislativas de fevereiro, este fã de futebol, bastante popular entre os jovens, poderá ter um papel decisivo na escolha do novo Guia Supremo, a mais alta autoridade da República Islâmica.

Primeiro membro da família Khomeini a assumir um papel político de relevo desde a Revolução Islâmica de 1979, quando o seu avô regressou do exílio após a queda do regime do xá Reza Pahlavi, Hassan conta com o apoio de figuras de peso da ala reformista, como os ex-presidentes Mohammad Khatami e Akbar Hashemi Rafsanjani. "Ele decidiu avançar devido aos apelos de vários grupos políticos e na sequência de consultas com líderes políticos e intelectuais", afirmou aos media iranianos Ali Khomeini, irmão de Hassan, citado pelo Financial Times (FT).

Conhecido até agora sobretudo pelos discursos que faz anualmente no aniversário da morte do avô, Hassan Khomeini é a esperança dos moderados para se impor nas próximas eleições, que além da Assembleia de Peritos, escolhem ainda os 290 membros da Assembleia Islâmica Consultiva do Parlamento iraniano. A sua composição será determinante não só para garantir a implementação do acordo sobre o nuclear assinado por Teerão este ano, mas também para garantir a reeleição do presidente Hassan Rouhani, ele próprio visto como moderado.

Mas para isso, os candidatos têm de passar pela aprovação do Conselho dos Guardiães, dominado pelos ultraconservadores. E no passado estes notabilizaram-se por invalidar várias candidaturas de reformistas, inclusive o ex-presidente Khatami. Mas a ala moderada espera agora que o apelido mantenha Hassan Khomeini a salvo.

Empenhado em repor o legado do avô, que diz ter sido adulterado pelos ultraconservadores, Hassan Khomeini defende "o regresso aos princípios da revolução que são o primado da lei e evitar que o Irão caia nas mãos da oligarquia financeiro-militar [os Guardas da Revolução]", explicou ao FT Saeed Laylaz, um analista reformista.

Jovem e pouco experiente, Hassan Khomeini a barba castanho clara de Hassan Khomeini irá com certeza contrastar com as barbas cinzentas dos outros membros da Assembleia de Peritos, caso seja aleito. Mas mesmo que o consiga, a sua influência só será decisiva se os moderados se tornarem dominantes, elegendo por exemplo também Rafsanjani e o sogro de Khomeini, o ayatollah Bojnourdi. Eleita por oito anos, tudo indica que caberá a esta Assembleia de Peritos escolher o próximo Guia Supremo, sucessor de um ayatollah Khamenei de 76 anos e fisicamente muito debilitado.

Assunto de família

Um dos 15 netos do ayatollah Khomeini - que morreu em 1989 -, Hassan estudou, tal como o avô, no seminário de Qom. Clérigo xiita de nível intermédio - um hojatoleslam -, tem, nos últimos meses, reforçando a sua presença nos media iranianos. E nas redes sociais também. É que se foi capa da revista Toloue Sobh, próxima de Rafsanjani, com o título "A Nostalgia de Khomeini", foi no Instagram do filho Ahmad que surgiu em várias fotografado ao lado de Khatami, ignorando a proibição imposta em fevereiro de divulgar imagens ou declarações do ex-presidente.

Aos 18 anos, Ahmad Khomeini pode ser a arma secreta para o sucesso político do pai. Com uma conta de Instagram que conta já com 149 mil seguidores, o jovem é símbolo dessa geração de iranianos que cresceu com os protestos populares que se seguiram às presidenciais de 2009 e exigiram uma mudança no regime do país. Foram eles, o que já tinham idade para votar, que em 2013 preferiram expressar a sua posição nas urnas em vez de boicotar as eleições, tendo contribuído para a vitória de Rouhani.

Em julho, Ahmad participou pela primeira vez nas cerimónias que assinalaram os 26 anos da morte do avô, no mausoléu de que o seu pai é o guardião. Ahmad surgiu vestido com as vestes de clérigo - num claro contraste com as T-shirts e ténis de marcas ocidentais que costuma usar nas fotografias que coloca no Instagram - e foi nas redes sociais que explicou que se ainda não está oficialmente no seminários, já iniciou a tradição dos missionários de visitar aldeias durante o ramadão. A sucessão parece garantida.

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