Neto de Bob Marley, Nico segue em busca do sonho da NFL
O desporto está-lhe nos genes, tanto como o espírito "let"s get together and feel all right" que exibe fora de campo. Nico, neto de Bob, é a prolongamento das ambições desportivas do pai e do avô: mais um Marley que excede as expectativas, em busca de um sonho. O seu, de chegar à NFL, liga de futebol americano dos EUA, pode começar a concretizar-se caso seja escolhido no draft da competição, que decorre entre amanhã e sábado, em Filadélfia.
Bob Marley, ícone jamaicano da música reggae e do movimento rastafári (falecido em 1981), era apaixonado por futebol. Mas, mais do que soccer, os seus descendentes crescidos nos EUA preferiram a versão norte-americana do football: Rohan, um dos 11 filhos oficialmente reconhecidos por Bob Marley, fez carreira universitária na modalidade e chegou a jogar na liga canadiana, antes de se dedicar à vida empresarial. Agora, o seu filho, Nico, tenta levar o protagonismo desportivo da família para outro nível.
Nico Marley, de 21 anos, é visto como o principal outsider do draft, onde as equipas da NFL escolhem que jogadores vindos dos campeonatos universitários querem contratar para os seus plantéis da próxima época. Considerado demasiado franzino para singrar no futebol americano (tem "só" 1,78 metros e 93 quilos), o linebacker formado na Universidade de Tulane (Nova Orleães) tem, no entanto, excedido as expectativas mais pessimistas.
"Quando terminei o ensino secundário [Cypress Bay High School, Florida], ouvia as pessoas dizerem "ele é apenas um jogador de escola secundária, não tem perfil para a universidade", por isso seria estranho se não me vissem como um underdog e fosse um grande candidato [ao draft]. Sempre fui subvalorizado", diz Nico Marley.
Essa fama não lhe facilitou a afirmação nos Tulane Green Wave. "Ao chegar a Tulane, era apenas aquele tipo que tinha uma bolsa de estudo. Estou muito grato por terem sido os únicos a dar-me uma oportunidade na Division 1 [da American Athletic Conference], mas sabia que tinham algumas dúvidas acerca de mim: não pensaram que me podia tornar aquilo que fui", recorda o linebacker [posição defensiva].
Ora, com um registo de 319 tackles, sendo 50,5 para perda de jardas - recordes absolutos na história da Universidade de Tulane -, Nico foi uma das vedetas dos Green Wave nos últimos quatro anos, surpreendendo todos - do mesmo jeito com que, contra todas as expectativas, nos anos 1970, um rapaz exótico nascido num pequeno país caribenho conseguiu tornar-se uma popstar de nível mundial. De 2013 para cá, o neto de Bob Marley apenas falhou um jogo como titular e foi sendo progressivamente incluído na seleção dos melhores da competição.
Tão frenético e vistoso em campo como calmo e discreto fora dele, Nico recolhe agora os elogios dos já saudosistas responsáveis dos Green Wave. "Ele não se destaca apenas pela capacidade de jogo, mas também pela sua liderança em campo. Ele está à frente do jogo. Investiu muito tempo e esforço para chegar onde chegou e conseguiu superar--se de muitas formas, devido à sua falta de tamanho [físico]. Vamos sentir falta dele em tudo", explica Jack Curtis, coordenador defensivo da equipa de Tulane.
Essa abnegação é resultado da paixão de Nico pelo futebol americano ("gosto tanto deste desporto, por isso é que não tenho namorada", brinca), herdada do pai, também ele um linebacker algo franzino (1,73 metros, 93 quilos). Rohan Marley terminou a carreira desportiva poucos meses depois do nascimento do filho (1995), juntou-se com a cantora Lauryn Hill no ano seguinte e acabou por regressar à Jamaica, onde produz café. Contudo, o filho cresceu como jogador à sua imagem (garantem os especialistas).
"Jogo com uma paixão que não se pode treinar. O meu pai talvez a tenha instigado em mim, e o seu pai talvez a tenha instigado nele... mas é algo que também herdei da minha mãe, que não consegue parar de trabalhar. Sou a combinação de tudo isso", explica Nico, sobre a herança familiar. Afinal, mesmo estando a milhas de ser como o avô, também ele professa a filosofia do "vamos lá juntar-nos e sentir-nos bem", sem ressentimentos sequer para com quem o desvaloriza.
"Não me sinto amargo nem nada do género. Vou apenas continuar [a pensar] positivo, na esperança de que alguém esteja disposto a dar--me uma oportunidade. Consegui surpreender em todos os lugares por onde passei e julgo que não será diferente no próximo nível", conclui Nico. Bastará ser um dos 253 contemplados com um contrato no draft dos próximos dias?