Oacordo para a formação de um "governo de mudança" em Israel já foi assinado, mas o voto de confiança no Knesset que o irá oficializar ainda não tem data marcada. E até lá o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, de 71 anos, fará de tudo para causar fraturas entre os oito partidos envolvidos na coligação ou conseguir que algum dos seus deputados deserte e vote contra. "Todos os deputados de direita do Knesset têm de se opor a este perigoso governo de esquerda", escreveu no Twitter..Diante da hipótese de ser afastado do cargo que ocupa há 12 anos - 15 se contarmos com o primeiro mandato entre 1996 e 1999 -, Netanyahu reuniu de emergência com os seus aliados. O objetivo era estudar estratégias para causar problemas na frágil coligação, incluindo apelos a manifestações contra o eventual governo, assim como chamar a atenção para as alegadas concessões que terão sido feitas ao partido árabe Ra"am para conseguir o apoio dos seus quatro deputados. O próprio Netanyahu tentou negociar com eles, para impedir que isso acontecesse..O anúncio de que Yair Lapid, líder do Yesh Atid (centro), tinha alcançado um acordo de governo foi feito a menos de uma hora do final do prazo, na quarta-feira. Isto após vários dias de negociações intensas desde domingo, quando Naftali Bennett (Yamina, direita) aceitou a aliança. Mas para que o novo executivo seja formalizado, é preciso ter a maioria no parlamento - ou seja, o voto de 61 dos 120 deputados. Juntos, os oito partidos têm esses 61 votos (na realidade somam 62 deputados, mas um eleito do Yamina já tinha anunciado que votaria contra). Ou seja, qualquer deserção pode ser importante..A convocação do voto de confiança ao futuro governo está nas mãos do presidente do parlamento, Yariv Levin, do Likud de Netanyahu. E este pode querer adiar ao máximo a votação, de forma a dar tempo ao primeiro-ministro de semear a discórdia na frágil coligação. Segundo o Jerusalem Post, há uma disputa legal sobre qual é a última data possível - se na próxima quarta-feira (9 de junho), uma semana depois do anúncio da formação da coligação, ou se na segunda-feira seguinte (14 de junho), sete dias depois de esta ser apresentada no Knesset..Para tentar apressar os prazos, o Yesh Atid deu início a um processo para poder eleger um novo líder do Parlamento, possibilitando que o voto de confiança possa ocorrer já na próxima segunda-feira (7 de junho). Contudo, essa jogada terá sido feita, segundo o Times of Israel, sem consultar o parceiro de coligação, o Yamina, sendo que pelo menos um dos deputados deste partido disse que não deu autorização para que a sua assinatura fosse usada. Sem isso, não haveria votos suficientes para a proposta seguir em frente. Contudo, a Lista Conjunta (aliança de partidos árabes que não faz parte da coligação) anunciou que iria apoiar a mudança de presidente do parlamento. Mas tanto o partido de Lapid como o de Bennett distanciaram-se dessa tomada de posição, dizendo não querer depender desse apoio para eleger um novo líder do Knesset..Na tentativa de causar fraturas na coligação, Netanyahu e os seus apoiantes têm aumentado a pressão sobre os seus antigos aliados - cinco dos oito líderes dos partidos do futuro governo foram seus ministros. Os alvos têm sido principalmente os sete deputados do Yamina, desde o logo o líder, Bennett, mas também Ayelet Shaked (a número dois do partido, que é apontada como futura ministra do Interior), que o primeiro-ministro acusa de traírem os seus valores..Protestos têm tido lugar frente à casa de Shaked e o Likud apelou a uma manifestação frente à residência de outro deputado do Yamina, Nir Orbach, depois de ter sido revelado que este também estaria a pensar votar contra a coligação - uma posição já tomada por Amichai Chikli. Os media israelitas indicavam que Orbach poderia optar por se demitir, para não votar contra, o que abriria caminho à entrada de outro deputado do Yamina que poderia votar a favor..Caso o voto de confiança falhe, Israel pode acabar por ir a novas eleições (seriam as quintas em dois anos). Esse seria o cenário mais positivo para Netanyahu, que continuaria no poder de forma interina até haver um novo governo - e poderia conseguir um resultado eleitoral que lhe garantisse uma nova maioria. Se as tentativas do primeiro-ministro de romper a coligação falharem, o líder do Likud poderá ficar como líder da oposição (já o foi entre 2006 e 2009) e tentar minar a cada momento o executivo. Um novo regresso ao poder não está fora da mesa, mas está sempre dependente de ser condenado ou não por corrupção nos julgamentos em curso..susana.f.salvador@dn.pt