Neste baile popular há harpa, solo de bateria e modinhas alentejanas
Ainda o baile não começou e já um grupo de umas dezenas de pessoas ondula pela sala. Não resistem ao ritmo gravado que sai das colunas de som, numa espécie de aquecimento (como se o que aí vinha precisasse de aquecimento, mas isso ainda ninguém podia saber). Dançam algo de palaciano com uma cumplicidade deste - o Entrudanças - e outros festivais, numa alegria tranquila de estar ali, no salão do Clube Recreativo de Entradas, Castro Verde, atrás e à frente, vénia para este vizinho e depois para a outra menina do lado. Sem ensaio nem ponto. No palco, destaca-se uma harpa, também a bateria e a azáfama dos músicos antes de A Dança Portuguesa a Gostar Dela Própria começar a tocar.
Quando a coluna pré-gravada se cala, os bailarinos param. Tiago Pereira sobe ao palco, apresenta a banda que pela primeira vez toca em público - cinco músicos e uma vocalista, todos de origens diferentes: da clássica ao rock. Nasceram para tocar e fazer dançar música tradicional portuguesa, numa empreitada PédeXumbo, associação apostada em promover as danças tradicionais e que organiza festivais como este e o Andanças, que se realiza em agosto. Estreia absoluta, sábado à noite, após uma semana de residência artística em Castro Verde.
Tiago Pereira, o mentor da Música Portuguesa a Gostar Dela Própria - parceiro da PédeXumbo neste projeto -, persistente recoletor dos sons tradicionais (o programa O Povo Que ainda Canta é exibido às quintas-feiras na RTP2) abre o baile. Passa das 22.30. Senta-se numa cadeira com um Mac ao colo. A maçã ilumina-se, escuta-se uma das vozes femininas a que carinhosamente uma imensa minoria já chama de "velhinhas" do Tiago. É Mariana Maria, de Ourique Gare. À voz intensa, misturada, junta-se a banda. Está aberto o baile.