Nem homem, nem mulher. Criaram a primeira voz sem género
Pela primeira vez, será lançado um assistente de voz sem género com o objetivo de combater os estereótipos existentes e tornar o mundo da inteligência artificial mais inclusivo. O projeto foi apelidado de Q, pela empresa de marketing dinamarquesa Virtue Nordics e a associação Copenhagen Pride quer melhorar a tecnologia de voz e contrariar o cenário de que um assistente de voz tem de estar sempre associado a um homem ou a uma mulher, como as assistentes Alexa e Siri.
"Chamar Alexa a uma assistente que ajuda nas tarefas domésticas, um nome que soa feminino, pode ser problemático para algumas pessoas, pois reforça o estereótipo de que as mulheres ajudam e apoiam as pessoas nas tarefas" afirma uma das colaboradoras do projeto, Julie Carpenter, à Wired.
Segundo a empresa Virtue, as empresas de tecnologia escolhem se a voz deve ser feminina ou masculina, consoante o tipo de produto e exemplifica que as vozes masculinas são mais utilizadas em funções autoritárias, como aplicações bancárias e uma voz feminina, para funções de orientação como a Siri, citado no The Campaign.
A equipa de criação da Virtue Nordics, composta por Ryan Sherman e Emil Asmussen, defende que "a tecnologia deve estar enraizada em novas verdades culturais, em vez de antiquadas. O Q representa não a voz de um, mas a voz de muitos que estão a lutar por um futuro inclusivo para todos".
Para concretizar o Q, os investigadores gravaram cinco vozes diferentes que não se encaixavam nos binários do género feminino ou masculino, transformadas depois através de um software da modulação de voz. Para decidir quais as vozes mais indicadas a misturar, os investigadores questionaram 4.600 pessoas, que ouviram gravações e avaliaram as vozes com uma pontuação de um (masculino) a cinco (feminino).
O próximo passo para o projeto é a construção da estrutura de Inteligência Artificial para utilizar a voz Q. Será no entanto posível vir a usar esta voz em aplicações já existentes, como o Google Home e a Amazon Echo, além de vozes utilizadas em cinemas e estacões de comboio.
Uma linguista que não esteve envolvida na pesquisa, Kristina Hultgren, elogia o Q e afirma que o projeto "brinca com o desejo da população em colocar as pessoas em caixas e, portanto, tem o potencial de puxar as pessoas e as suas fronteiras e ampliar os seus horizontes", citada na Wired.
Já Ask Stig Kistvad, uma das vozes que participa no projeto, confessa não acreditar que as vozes sem género se tornem "um padrão nos próximos cinco anos" e chama o cenário de utópico.