Nazismo vs comunismo. Só o voto do PS foi aprovado
A resolução do Parlamento Europeu que condena em termos iguais o nazismo e o comunismo extremou esta sexta-feira as posições na Assembleia da República, com a direita a acusar a esquerda de ter duas medidas para avaliar as violações dos direitos humanos, consoante a cor política dos regimes, e as bancadas da esquerda a devolverem a acusação e a colarem PSD e CDS aos "reacionários" da Iniciativa Liberal e do Chega,.
Feitas as votações, dos cinco votos em cima da mesa (da IL, CDS, Chega, PS e PCP) apenas o dos socialistas foi aprovado, com o voto das bancadas da direita, do BE e do PAN, além do próprio PS. PCP, PEV e Chega votaram contra.
Apesar de a primeira iniciativa sobre esta matéria ter sido apresentada pela Iniciativa Liberal, o facto de o partido ter apenas um deputado não lhe permite ter tempo de intervenção nestes debates, pelo que foi o CDS a abrir as hostilidades, com Telmo Correia a afirmar que os centristas têm um "critério único" sobre direitos humanos, que não se altera "consoante se trate de tiranetes amigos ou de governantes de direita ou centro direita". Classificando Hitler, Mussolini, Mao Tse Tung ou Pol Pot como um "conjunto de assassinos", o deputado do CDS defendeu que "todo o totalitarismo é inaceitável". Já o deputado do PSD Maló de Abreu referiu que "não há bons e maus" regimes totalitários e que "não é escondendo o passado que se enfrentam ou resolvem os problemas do presente".
Depois, foi a vez do PCP que, pela voz do líder parlamentar, João Oliveira, defendeu que está a tornar-se "cada vez mais claro que PSD e CDS estão a cobrir por cima" as iniciativas "reacionárias" da Iniciativa Liberal e do Chega. E, dirigindo-se às bancadas da direita, afirmou que estas "não contam nas suas fileiras com gente que tenha lutado contra o antifascismo", ao contrário do que sucede no PCP. Com PSD e CDS a protestar sonoramente, e com o presidente do Parlamento, Ferro Rodrigues, a pedir aos deputados para deixarem o orador falar, João Oliveira rematou assim: "Durante 48 anos não nos deixámos atrapalhar pela agressividade dos fascistas, não é agora que nos vamos deixar atrapalhar por esta gente."
Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE, também visou diretamente o CDS, afirmando que o deputado Telmo Correia "começou por reconhecer que quem guia agora o CDS é a Iniciativa Liberal". "Pobrezinho CDS, o que foi e o que é", atirou o bloquista, defendendo que ao Bloco nunca faltou a voz para condenar regimes totalitários, ao contrário dos centristas, a quem acusou de nunca terem proferido uma palavra sobre Angola.
"Lembramo-nos de quem é que não se levantou para votar a Constituição da Democracia", disse ainda o deputado do BE, sublinhando também o papel dos comunistas na luta contra a ditadura em Portugal. A "picardia" com o CDS haveria, aliás, de estender-se ao debate sobre outras matérias, com Pedro Filipe Soares a dirigir-se, a determinada altura, ao deputado "Telmo Ventura... perdão, Telmo Correia", novamente tentando "colar" o CDS ao Chega.
Pelo PS, Constança Urbano de Sousa defendeu que "é nosso dever não entrar em equiparações simplistas, que possam conduzir a um revisionismo histórico e ao branqueamento do nazismo". A deputada socialista fez questão de condenar o "totalitarismo de inspiração comunista e as suas atrocidades" (uma especificação que não é feita no voto do PS, hoje aprovado, que nunca fala expressamente em comunismo), mas sublinhando a singularidade do nazismo, que "não pode ser branqueada com equiparações simplistas".
Entre os votos que foram chumbados, o da Iniciativa Liberal (IL) contou com a oposição de toda a esquerda, a abstenção do PAN e o voto favorável de PSD, CDS, IL e Chega. O texto do CDS teve uma votação semelhante, mas desta vez com o PAN a votar a favor.
O documento do Chega teve os votos favoráveis das bancadas da direita e o voto contrário da esquerda e do PAN.
Já o voto do PCP teve a aprovação, além da bancada comunista, do Bloco de Esquerda, a abstenção do Livre e o voto contra dos restantes partidos.