NATO vai ter forças permanentes nas fronteiras com a Rússia

Varsóvia recebe cimeira da Aliança Atlântica a 8 e 9 de julho. Reforço militar visa neutralizar ameaças de Moscovo
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Cimeira histórica. Momento de viragem para a Polónia. Novas responsabilidades para enfrentar novos desafios à segurança regional e internacional. Estas são algumas das formu- lações do governo de Varsóvia para classificar a reunião da NATO a 8 e 9 de julho em Varsóvia, onde será confirmada a criação de forças permanentes da Aliança Atlântica a estacionar neste país e na Estónia, Letónia e Lituânia, o que sucede pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria.

A chave para a decisão está nas palavras do chefe de Estado-Maior das forças armadas polacas, general Mieczyslaw Gocul, na quinta-feira no final de exercícios da NATO nos arredores de Szcezecin. "Estamos a assistir a um novo ambiente de conflito, em que predomina uma enorme rapidez, grande capacidade de mobilização e transporte", elementos que, "associados a uma vontade política determinada, são essenciais para se obterem sucessos no terreno". Sem o especificar explicitamente, o general referia-se aos movimentos das forças armadas russas que, entre finais de fevereiro e início de março de 2014, passaram a controlar militarmente a Crimeia, até então parte da Ucrânia e que viria, pouco depois a ser anexada à Rússia.

No mesmo quadro temporal, a presença de forças militares russas com uniformes descaracterizados no Leste da Ucrânia para apoiar milícias separatistas tornou claro que se tornava indispensável criar um fator de dissuasão para os três Estados do Báltico, sem profundidade estratégica para resistirem a ações de desestabilização de Moscovo, e outros países da região com fronteiras diretas com a Rússia. No caso polaco, com o enclave de Kaliningrado, onde Moscovo possui forte dispositivo militar, no qual se destacam mísseis balísticos com alcance médio de 500 km. O que torna praticamente todo o país, e outros nas proximidades, um alvo potencial de ataques russos, como lembrou o ministro da Defesa polaco, Antoni Macierewicz, num encontro em Varsóvia com jornalistas internacionais, entre os quais o DN, onde o tema central foi a próxima cimeira da NATO. Para o ministro é "histórica" a reunião de 8 e 9 de julho em que será formalizada a criação e estacionamento permanente de "batalhões reforçados" da NATO neste país e nos Estados bálticos. A composição e dimensão exata das unidades será decidida na reunião dos 28 ministros da Defesa da Aliança, a 14 e 15 deste mês em Bruxelas.

Macierewicz realça que, pela primeira vez desde a adesão da Polónia à NATO, em 1999, este país tem "a oportunidade de ser membro de pleno direito"da Aliança, assim como os Estados bálticos, com a presença constante de efetivos no seu território.

Para o chefe da diplomacia polaca, Witold Waszczykowski, a presença de forças da Aliança na região "é necessário para deter qualquer ameaça" que possa surgir e não viola, necessariamente, os Acordos de 1997, assinados em Paris, em que se previa a não existência de forças da NATO em países com fronteiras com a Rússia. Para Waszczykowski, a dimensão dos "batalhões reforçados" não põe em causa os acordos, mas não deixa de notar que a "realidade mudou. A Rússia está diferente do que era há quase duas décadas" e que, com Vladimir Putin no poder, se tornou uma ameaça à estabilidade regional. E esta é posta em causa, segundo o governante, pela tentativa de Moscovo em redefinir o equilíbrio nas relações internacionais.

O governante polaco nota que "a Rússia quer um outro equilíbrio, à maneira do século XIX na gestão da Europa, pelo menos, em que lida isoladamente com cada nação" nesta parte do mundo enquanto, no plano global, procura ressuscitar o modelo bipolar, discutindo e partilhando as decisões com os EUA. Uma estratégia que, na sua perspetiva, agrega ainda um elemento de desestabilização da Europa, cultivando relações com grupos políticos de extrema-direita ou os eurocéticos radicais. Neste plano, pensa o MNE, uma vitória do campo do não à permanência do Reino Unido na UE no referendo de 23 de junho, seria um presente para a estratégia do Kremlin. Uma estratégia que "não vai mudar" enquanto "não houver mudanças" no pessoal no poder em Moscovo.

O ministro polaco, citando o secretário-geral da Aliança, Jens Stoltenberg, que esteve em Varsóvia esta semana, garantiu que, perante a intransigência russa, a NATO e o seu país estão prontos "para uma escalada", se a resposta de Moscovo ao dispositivo militar a ser consagrado na cimeira de julho for de "ameaça e retaliação". Recordando o exemplo da guerra na Ucrânia e a anexação da Crimeia, o dirigente polaco estabelece uma distinção entre a ameaça no flanco Leste da NATO e o fenómeno terrorista: "um ataque terrorista pode causar muitas vítimas, mas não destrói um país. Iniciar uma guerra na Geórgia ou na Ucrânia, pode destruir esses países".

Nesta conjuntura, como notou o general Gocul em Szcezecin, é fundamental "aumentar o nível de resposta das forças da NATO" numa área que corresponde ao "centro de gravidade" de toda a região. E é isso que a cimeira de Varsóvia irá consagrar.

Na Polónia

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