Não tomem o povo por parvo

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Mais uma vez, a PSP foi desautorizada. Depois dos festejos do Sporting, em Lisboa, as celebrações da final da Champions, no Porto, provaram que a lei não é mesmo igual para todos. A juntar a este facto grave, as forças de segurança foram, de novo, desautorizadas quando, alegadamente, lhes é pedido para ficarem quietas e sem poder usar a força numa intervenção, mais ou menos musculada, para pôr ordem nas ruas.

Seja à esquerda seja à direita, não tomem o povo por parvo! Os portugueses têm revelado bom senso, paciência e muita resiliência. Têm acatado as regras de combate à pandemia e uma larga maioria tem cumprido e respeitado ora o estado de emergência ora o estado de calamidade. Mas a falta de autoridade do Estado bem como a inércia levam a que não haja legitimidade moral para lhes pedir mais. O que aconteceu em Lisboa e no Porto mina o princípio da autoridade do Estado e mina a motivação, a dedicação e o empenho dos polícias que, mesmo mal pagos, vão vestindo a camisola em nome de Portugal.

Vestir a camisola tem um preço: dar tudo, o sangue, o suor e as lágrimas. Mas, no mínimo, exige-se respeito. E nem os portugueses, em geral, nem a polícia se sentiram respeitados face ao que aconteceu na capital e na Invicta. O governo garantiu, antes do jogo, que os adeptos ingleses chegariam e sairiam em bolha. Mas qual bolha? Andaram livremente pelas ruas, encheram (e partiram) esplanadas, envolveram-se em pancadaria e prejudicaram o controlo da pandemia em Portugal, bem como a imagem e a reputação do país lá fora. Se o país precisa de turistas neste verão, como precisa de pão para a boca, não será com este tipo de cartões-de-visita que atrai visitantes nem futuros "corredores verdes", mas arrisca-se a pisar a linha vermelha da confiança dos consumidores e dos países aliados.

António Costa, primeiro-ministro, disse ontem que "não correu tudo bem". Deveria ter tido a coragem de dizer "correu tudo mal", porque os adeptos eram aos milhares, não respeitaram o estado de calamidade e a prometida bolha rebentou e com estrondo.

Pinto da Costa, ao seu jeito pouco polido, voltou a criticar o governo pela forma como está a gerir a questão dos adeptos do futebol nacional e usou o exemplo recente da final da Liga dos Campeões e outros casos, pedindo a demissão de alguns responsáveis pela gestão da pandemia de covid-19, incluindo a do primeiro-ministro. "Ver estádios quase com metade da capacidade ocupada, em jogos estrangeiros, para os estrangeiros, e os portugueses não podem, às vezes em aglomerações maiores do que se estivessem lá dentro. Mas não se pode esperar mais, quando a responsável da DGS [Direção-Geral da Saúde] veio dizer no início desta maldita pandemia que era uma gripezinha, que dificilmente chegava cá, quando depois foi à TV aconselhar que ninguém usasse máscara. (...) Deixava um conselho ao senhor primeiro-ministro António Costa: demitam-nos e, se não é capaz, demita-se o senhor", concluiu.

O que aconteceu no Porto não foi uma concentraçãozinha, tal como a covid-19 não veio a revelar-se uma gripezinha.

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