Não se pode acusá-los de correr ao poder
Sobre as coisas que nos têm espantado nestes dias, Cavaco Silva disse, no plural majestático que o cargo lhe permite: "Nós tínhamos estudado todos os cenários e também este que está a acontecer..." OK, que fique para a história como "o homem que nunca se deixou apanhar distraído"! Haja um, porque distraídos somos os restantes portugueses sobre os mistérios de se passar dum governo para outro. Os prazos lentos e absurdos, por exemplo. Neste ano, na Grécia, um governo caiu, convocaram-se eleições, fez-se campanha e, no dia seguinte a votar-se, o novo governo foi empossado. Tempo decorrido: um mês exato. A 22 de julho, um mês antes da queda do governo grego, já as eleições portuguesas tinham sido marcadas. Hoje, passaram-se quase três meses e entra-se no ciclo em que o PR ouve todos os partidos. E não, eles não estão em fila em Belém, leva dias. Prazo para a operação: não há. Rezemos: para a semana alguém será indigitado primeiro-ministro. Agora, sim? Não. Também sem prazo, o indigitado tem todo o tempo do mundo para escolher os seus ministros. Enfim, tomada de posse (já devemos estar em novembro). Só então, com o governo empossado, há um prazo imposto: dez dias para se submeter à Assembleia da República. O que, num dos cenários mais prováveis, pode significar a queda do governo. Depois de quatro meses, o fim daquilo tão longamente parido... Sinto-me um misto de rato de laboratório e cozido em lume brando. Valha-me o PAN.