"Não queremos morrer". O cerco à igreja de Manágua
Polícia e paramilitares cercaram a Igreja da Divina Misericórdia, em Manágua, na noite de sexta-feira, onde cerca de 200 manifestantes encontraram abrigo, ao fugirem de um ataque contra a Universidade Autónoma (UNAN), onde se encontravam entrincheirados.
Segundo a 100% Noticias, há sete feridos, entre eles um em estado grave.
"Não queremos morrer", "Ajudem-nos", gritaram os jovens enquanto se ouviam tiros, segundo a transmissão ao vivo de três jornalistas nicaraguenses presos na igreja.
"Eles querem matar-nos a todos", disse um estudante ao canal 100% Noticias.
Pouco antes da meia-noite, o padre saiu empunhando a bandeira do Vaticano para se proceder à evacuação de feridos graves, bem como a saída de um repórter do Washington Post, Joshua Partlow, após uma negociação com a Igreja Católica, a Cruz Vermelha e a polícia.
Partlow estava a acompanhar os estudantes na Universidade e acompanhou a fuga para a igreja, onde foi dando também conta dos acontecimentos através do Twitter.
O jornalista norte-americano contou que o padre pediu ajuda numa emissão de rádio e denunciou o tiroteio de que foram alvo.
Uma caravana em apoio aos estudantes tentou chegar junto da Igreja da Divina Misericórdia, mas a polícia bloqueou a estrada. Os manifestantes gritaram "liberdade", "o povo unido jamais será vencido" e "ditadura não, democracia sim" exigindo o fim do cerco aos estudantes.
Na sexta-feira, duas pessoas foram mortas e dezenas foram feridas em Masaya, onde o presidente Daniel Ortega lançou um apelo à paz durante a greve geral que terá sido cumprida por 90% dos trabalhadores, segundo números da oposição.
O país mais pobre da América Central vive momentos conturbados. O presidente Daniel Ortega, ex-guerrilheiro de 72 anos, é acusado de ter reprimido duramente as manifestações e estabelecido com a mulher Rosario Murillo, vice-presidente, uma ditadura marcada pela corrupção e pelo nepotismo. A oposição exige eleições antecipadas.
Para Ortega, os manifestantes são "delinquentes" apoiados pelos Estados Unidos.
Mais de 270 pessoas foram mortas e cerca de 2000 ficaram feridas na violência que tem marcado a Nicarágua nos últimos três meses, segundo dados da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).
O secretário-geral da organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, exigiu o fim imediato das "ações de violência e repressão do Estado contra a população civil" e prometeu que os "autores destes atentados serão responsabilizados pelos crimes".
Francisco Palmieri, subsecretário de Estado para os Assuntos do Hemisfério Ocidental da administração norte-americana, também reagiu. Condenou os ataques bem como a detenção do opositor Medardo Mairena.
Para este sábado a oposição prevê realizar mais protestos em Manágua através de caravanas automóveis.