Dias Ferreira: "Este momento não é para jovens e gente inexperiente"

Advogado de profissão, Dias Ferreira já desempenhou vários cargos no Sporting e foi presidente da Mesa da Assembleia Geral na era Bettencourt. Foi candidato em 2011 e agora prepara-se para um segundo<em> round</em>, aos 71 anos. Vai a votos no próximo sábado pela Lista F.
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Aos 71 anos, nada faria o futuro avô José Eugénio (Dias Ferreira) mais feliz do que ver os netos, gémeos, "nascerem netos do presidente do Sporting". Porque Dias Ferreira é "essencialmente um homem de família" e é também nesse espírito que olha para o clube. Diz-se "muito grato" pela "sorte tremenda" que tem e reconhece que deve mais ao Sporting do que pode parecer à primeira vista: "As pessoas conhecem-me da televisão, mas eu sou mais do que isso. Mas não tenho dúvida alguma de que foi o Sporting ou por causa dele que tenho essa notoriedade."

O mediatismo ganho não o envaidece, mas também não o assusta. E o cargo de presidente não será jamais encarado como um fardo. "A figura de presidente não alterará muito a minha vida. Claro que a privacidade da família será afetada, posso querer cometer um pecado ou outro e não o poder fazer. Se calhar já não posso ir fazer caminhadas como faço na rua, descansado, mas não podemos olhar para o cargo como um fardo. Também tem muitas coisas boas", lembrou o advogado, que se diz "um homem de afetos como o Presidente Marcelo", de quem foi colega na Faculdade de Direito, embora sem "tanta paciência para selfies".

O par que o fez avançar

A decisão de ir a votos foi, como "em todas as grandes decisões, um pouco solitária". "A família pensa que eu não penso nela, mas são sempre um dos fatores da minha reflexão. Desta vez a decisão tinha de ser minha", admitiu o pai de dois filhos (um advogado, que está com ele na lista, e outro economista), explicando depois os motivos que o levaram a avançar: "Sou um homem um pouco desiludido com o estado da justiça em Portugal. A justiça é muito lenta e sofre-se muito... E achei que devia abraçar uma causa, inesperada. Senti que era o momento de avançar."

Já não é a primeira vez que é candidato, mas confessa que em 2011 não avançou "com a mesma convicção de agora". E por culpa de algumas pessoas anónimas, um casal em particular, que o empurraram para ir a votos. "Na final da Taça no Jamor, uma rapariga e um rapaz, de uns 15 anos, choravam copiosamente abraçados, depois da derrota com o Desportivo das Aves. Agarraram-se a mim a dizer: "Doutor, salve o Sporting." Esta imagem ficou-me na cabeça e martelou-me durante vários dias, até que tomei a decisão quase solitária de avançar", contou o advogado ao DN.

Como é um homem de afetos, gostava que eles soubessem disso e o procurassem: "Fizeram-me pensar que se calhar tinha a obrigação de fazer mais pelo clube que me deu tanto. Sou eu que estou em dívida, com o Sporting e com eles, que me influenciaram. Mas não para salvar o Sporting, que não precisa de ser salvo, nem é o Dias Ferreira que o vai salvar. Quem salva o Sporting são os sportinguistas e já deram provas objetivas disso na última AG."

Como gosta "de se colocar nos sapatos das outras pessoas", Dias Ferreira "sabia que a decisão não agradaria muito à família", mas achou que "devia avançar e tentar prestar esse serviço ao Sporting". Ainda lhe chamaram "maluco algumas vezes", mas "não quis saber" e avançou. Mas não sem antes falar com quem já tinha apresentado candidatura ou com quem se falava que ia avançar: "Todos quiseram ir como figuras principais... Percebi que achavam que eu devia remeter-me a um papel na lista deles, como presidente da Mesa da Assembleia Geral. Isso eu já fui, já fui a figura mais importante do Sporting, mas não era isso que queria agora, não era o mais adequado às necessidades do clube. Não era uma questão de honra mas de serviço ao clube. Depois comecei a formar a minha equipa. Por isso demorei tanto a aparecer."

Passado é currículo, não cadastro...

Advogado de profissão, defende que "este momento não é para jovens e gente inexperiente", mas para quem "conhece o Sporting como a palma da mão!". Alguém que o conhece por dentro e por fora. "O meu passado é ter sido vice-presidente de João Rocha e ter estado, entre outros, na criação da Liga de clubes. Acompanho o Sporting nas viagens, fui aos congressos, vou a jogos do futebol e das modalidades. Sou do grupo Stromp e fundador dos Leões de Portugal, tenho mais de 50 anos de sócio... Por isso, o meu passado fala por mim e não pode ser visto como cadastro. Por isso digo aos mais jovens que deviam preparar-se, que é cedo para irem a votos. Esta é uma situação inédita e é preciso alguém com experiência a gerir os destinos do clube", disse, em conversa com o DN no seu escritório, que fica uns andares por baixo da sua casa e serviu de quartel-general da candidatura.

Para ele, "o passado é currículo e não cadastro", pois garante que nunca esteve ligado a algo menos correto e só por uma vez foi remunerado e porque o "obrigaram", quando foi assessor da SAD: "Como ia a muitas reuniões com a Liga, a SAD comprou um carro a leasing para mim. Só em viagens à Liga num ano fiz mais de 50 mil quilómetros. Ainda faltava muito para pagar o carro quando saí e, como fiz questão de ficar com ele, passei o leasing para o meu nome e fui eu que o paguei. O Sporting não me deve nada, mas eu também não devo nada ao Sporting." Financeiramente, claro. Porque a notoriedade "ao Sporting a deve" e não se cansa de o dizer.

"Eu recuperei o Futre para o futebol português"

Desta vez, Paulo Futre não está com ele. É uma parceria que pode retomar-se depois? "Temos uma ligação forte. Ele chama-me o grande homem, que é algo que eu aprecio, um ato de ternura. Eu recuperei o Paulo Futre para o futebol português. Neste momento é uma figura nacional e sempre o devia ter sido. As pessoas esquecem-se de que ele foi a primeira Bola de Prata deste país. Agora o Paulo está na TV, faz publicidade, voltou a ser o nosso grande Futre e isso deixa-me muito feliz. Não vale a pena dizer que está comigo para eu saber que está. Sei que o Futre é uma pessoa que sempre me vai ajudar, com cargos, sem cargos, assim ou assado, mas ele sabe que eu sei o que ele vale e do que é capaz", respondeu Dias Ferreira.

O advogado acha que se perdeu muito tempo na campanha a jogar com nomes e que as verdadeiras mensagens se perderam no meio de tanto debate. Como a sua ideia de construir novas academias pelo país fora:"Precisamos de uma academia em Lisboa e depois pelo país. Aí o clube cumprirá a missão do nome Sporting Clube de Portugal. Podemos ter um papel importante e ajudar a desenvolver o interior com as academias que formem homens e atletas que sejam futuros dirigentes. Posso até nem ver resultados disso, mas se vier a lançar a primeira pedra serei feliz e morrerei tranquilo. Para mim este projeto pode não encher o olho mas vale mais do que nomes. Isso vai tornar o clube sustentável."

Sem medo do caos financeiro

Ele não é um homem de meias-palavras. Diz o que tem a dizer, mesmo que vá contra a corrente. Como no caso do caos financeiro propagado pelos adversários. "Conheço a reestruturação que está a ser negociada e não estou preocupado. Há candidatos que falam em caos e que em novembro não haverá dinheiro para pagar salários, eu estou tranquilo. Não faço dramas. Temos soluções. Se a reestruturação não for acompanhada de outras medidas daqui a dois ou três anos, precisamos de outra e cada vez é mais difícil convencer os bancos a emprestar dinheiro para ser mal gasto. E o clube é autossustentável a partir do momento em que crie os próprios atletas. Por isso, construir uma nova academia não é custo, é investimento", defendeu o advogado, que conta com o apoio de Carlos Vieira, o ex-vice-presidente leonino para a área financeira na presidência de Bruno de Carvalho.

Uma das soluções passa por convidar os outros candidatos a fazer parte do seu conselho estratégico, para que contribuam para o futuro do Sporting. Até porque, no fundo, eles querem o mesmo, "o bem do Sporting". E se "as pessoas se derem ao trabalho de ler os programas vão perceber que não há diferenças muito grandes".

Os sportinguistas podem estar confusos com tanto candidato (seis), mas Dias Ferreira tem uma explicação: "Acho que alguns deles viram a oportunidade de ser presidente com 15% ou 16% dos votos, porque em circunstâncias normais nunca chegariam aos 50%. Eu quero ganhar e, se for eleito com 15%, no dia seguinte terei a preocupação de procurar unir os sportinguistas. E de uma coisa eu tenho a certeza. Os sócios sabem diferenciar quem serve o Sporting e quem quer servir-se dele e é esse julgamento que vai ser feito a 8 de setembro."

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