Não há melhor realidade que a fantasia da Comic Con
Na Comic Con só há uma coisa proibida: armas. Das verdadeiras claro, informação dada a todos os cosplays que ali vão; quanto às falsas era impossível fugir-lhes pois a maioria das grandes personagens das séries, jogos e arte gráfica as usam. Quanto à vestimenta, o código é tão abrangente como a capacidade de inventar, mesmo que às vezes se confunda o traje com a época. É o caso da jovem vestida como personagem do jogo Love Live School Idol Festival e que mais parece estar a evocar o Natal, mesmo que quando se lhe pergunta a razão das escolha as palavras não saiam...
O mesmo não se passa com o ator Dominic Purcell, da série Prison Break, que não tem dificuldade em se expressar e quando os fãs questionam obre o cantor que mais gosta, responde: "Justin Biber..." Avisa logo: "Estou a bicar, é Johnny Cash". Será mais sério quando querem saber o que pensa da evolução das séries após aquela em que participou: "O género está abastardado." E se tornar-se uma super-estrela de TV? "Nunca vou ser um Brad Pitt, o sistema é assim."
Os fãs ficam histéricos quando Purcell aparece para dar autógrafos: um por pessoa e não podem tirar selfies, avisa a organização. Histeria coletiva também se passa com Katherine Mcnamara quando chega o minuto disponível para os fãs a fotografarem. Posa num repente e sai a correr pela esquerda, mas ainda a verão mais uns segundos porque a saída era para a direita... Logo a seguir está no palco do grande auditório onde mais de um milhar de jovens esperam pela conversa com a atriz. É pedido um aplauso, daqueles "habituais na gente do Norte", e ouve-se a sua voz fina, à imagem do corpinho esgalgado em saltos altos. Fica espantada com tanta gente e os fãs gritam tanto que basta-lhe dizer gosh repetidamente ou beautiful ou quantas audições fez para participar num filme para ficarem contentes. Quando reponde como chegou a protagonista de Maze Runner, a plateia desfalece. Kate não, entusiasma-se e faz todo o tipo de revelações inócuas: "Todos crescemos um pouco com estes papeis" ou "é tão exciting o sucesso " ou como é estar na confusão das filmagens de Shadowhunters: "Helicópteros a caírem, tiros a serem disparados e como havia filmagens à noite passava muito frio". Mas valeu a pena porque, diz, "foi o lugar mais bonito que vi". O único problema é, explica, "não havia rede para o telemóvel. A única coisa que me restava era viver a vida. Foi tão bom!" Tem cuidado com as confissões que faz para evitar spoilers e conclui com uma lição de vida: "O mais importante é o amor."
Dois cosplay arredados do lugar onde estavam a descansar dizem o que são: "Estou de Novess e ele de 2D", personagens do jogo Nier: Automata. Óscar vestiu-se a fazer par com Ana, ambos estão com vendas nos olhos e nada veem do que se passa à volta se não levantarem a pala: "Somos androides". Como a maioria das personagens que anda pela Comic Con são de carne e osso o quiosque de Knorr onde se promovem os noodles da empresa tem a maior fila do recinto. Por li circulam inúmeras personagens, algumas estanhas de tão normais: a freira (?), a Bela da Bela e do Monstro, as que recordam a infância dos mais crescidos, como o Pikachu, a padmé Amidala, a Capuchinho Vermelho, o Godzilla, Loki, o irmão de Thor , o Super Mario, Naruto, Philia Bell, do jogo de cartas End Breaker, a Lelloo do Quinto Elemento, um Hitler... E depois há espaço Star Wars, onde uma nave e o carro de assalto dos rebeldes atraem os maníacos por Darth Vader e múltiplas figuras imortalizadas pelos episódios de uma saga infinita.
A única lei para os milhares que vão ao Comic Con é representar com muito prazer o papel dos que imitam. A exceção nesta diversão virtual são os bebés que andam pelo recinto dentro dos seus carrinhos empurrados pelos pais. A maioria está de cara assustada e tentam esconder-se, pois para eles esta ficção é mais traumatizantes que a realidade.