Nádia Carolina nasceu na Ponte da Arrábida. Só lá estavam duas bombeiras sem experiência
Três mulheres sozinhas em cima de uma ponte e uma criança a nascer. Aconteceu esta quarta-feira à tarde na Ponte da Arrábida, que liga o Porto a Vila Nova de Gaia. Nádia Carolina, assim se chama a bebé, nasceu bem, às 37 semanas. "Assim que nasceu, ouvimos logo o choro, foi o melhor som que podia ter ouvido naquele momento" conta ao DN Sara Pereira, a bombeira que largou o volante e parou a ambulância para ajudar Juliana, a mãe, a dar à luz.
A colega, também ela Sara (Pereira), tinha-a chamado aflita. "Acho que a bebé está a nascer", disse. "Não houve tempo para mais nada. Parei a ambulância mesmo ao início da ponte - foi ainda em Gaia, por isso a menina nasceu em Gaia, sublinha - e fui ajudar".
Sozinhas, do outro lado da linha o CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes), o telefone em alta voz, mas não havia nenhum médico ou enfermeira disponíveis àquela hora. "Foi talvez esse o momento mais complicado, percebermos que não teríamos nenhum médico para nos orientar", admite a bombeira.
Eram 18:19 quando Nádia nasceu, pouco tempo depois da ambulância dos Bombeiros Voluntários de Coimbrões, a corporação das duas bombeiras, ter chegado a Mafamude, uma freguesia do concelho de Vila Nova de Gaia de onde tinha chegado o alerta de uma "grávida com rebentamento de bolsa".
"Foi tudo muito rápido, nem tivemos tempo para ficar nervosas. Foi a minha colega quem cortou o cordão umbilical", recorda Sara Pereira.
Deixaram mãe e criança no Hospital de S. João, no Porto, e voltaram ao serviço: estiveram de piquete a noite inteira. Como se não tivessem feito um parto sozinhas.
Era a segunda gravidez de Juliana, o que ajudou. "Foi logo a primeira coisa que perguntámos, se era a primeira gestação", conta a bombeira de 34 anos, também ela mãe, de um rapaz de sete anos. A colega, Sara Bessa, de 28 anos, não tem filhos, nunca tinha assistido a um parto, mas se sentiu medo, não disse. Aliás, foi ela quem cortou o cordão umbilical de Nádia Carolina.
"Recebemos o alerta às 17h38. O plano era transportar a mãe para o hospital", recorda. Sara Pereira foi à frente, ao volante, a outra Sara, igualmente bombeira, atrás, com a mãe. Até que Juliana gritou: as contrações estavam a ficar mais fortes.
"Foi a primeira vez que fiz um parto. Temos formação, mas claro que uma coisa é o que se aprende e outra muito diferente o cenário real. Mas correu tudo bem. A mãe estava muito calma, foi muito corajosa", diz a bombeira, que ainda nem sequer teve tempo de contar o feito lá em casa.
"Ainda estou de serviço, não fui a casa", diz, a voz cansada, não se percebe um bocadinho de vaidade. Insistimos. "Sim, claro que é uma emoção ajudar uma criança a nascer. É algo que não conseguimos esquecer", admite Sara. Ainda lhe faltam as palavras. Ainda está de serviço. A Juliana está bem. Nádia Carolina também, a menina que nasceu em cima de uma ponte, mas "do lado de Gaia".
Em maio, uma outra bebé, Nyah, nasceu na bomba de gasolina da Avenida Gago Coutinho, em Lisboa. Dessa vez, não havia bombeiros, apenas as funcionárias da bomba e um pai assustado. Foram as empregadas que receberam a bebé, de 3,310 quilos e 50 centímetros, nos braços. A família entretanto já voltou ao local para agradecer às duas funcionárias e mostrar Nyah, a menina que, tal como Nádia, também teve pressa de nascer