Os Verdes têm conseguido os melhores resultados de sempre na Alemanha, tanto nas europeias de 26 de maio, com 20,5% dos votos, como nas sondagens, onde já foram apontados como o partido vencedor, caso as legislativas acontecessem hoje. Considera estes resultados realistas? As sondagens são muito voláteis, experimentámos uma situação semelhante em 2012, em que tivemos, durante cerca de nove meses, resultados de 20%. Mas depois, nas eleições de 2013, ficámos abaixo dos 9%. No entanto, há um valor significativo que vai além das sondagens. O melhor resultado que obtivemos foi nas legislativas, em 2009, na altura fui responsável por essa campanha, e conseguimos 4,6 milhões de votantes. Agora, para a eleição do Parlamento Europeu, 7,6 milhões de eleitores votaram nos Verdes. Isso significa um crescimento de três milhões desde o melhor resultado de sempre. Talvez as sondagens exagerem, mas a verdade é que os apoiantes dos Verdes têm crescido muito, como nunca tínhamos visto antes..Pode a desilusão do eleitorado em relação aos partidos do centro (CDU e SPD) explicar estes bons resultados, ou os alemães estão de facto mais preocupados com as políticas ambientais? Encontro três motivos que explicam estes números. Primeiro, a frustração em relação à coligação que governa a Alemanha (formada pela CDU de Angela Merkel, a CSU, partido irmão na Baviera, e o SPD). As pessoas sentem, e até pode nem corresponder à verdade, que nada está a ser feito. O segundo motivo é a falta de resposta dos partidos do governo à questão do combate às alterações climáticas (...) Num inquérito feito pela Agência de Proteção do Ambiente, apenas 3% dos inquiridos responderam que o executivo está a fazer o que é necessário nesta matéria. Apenas 3%. O terceiro motivo do sucesso dos Verdes explica-se com o fenómeno do crescimento do populismo de direita, do nacionalismo, e tanto os democratas-cristãos como os sociais-democratas não dão uma resposta clara a isso. Às vezes tentam imitar as suas políticas, o que, do meu ponto de vista, só fortalece esses partidos. Mas o único partido na Alemanha empenhado em conseguir uma Europa mais forte e em dar resposta à extrema-direita são os Verdes. Somos a clara oposição ao nacionalismo. Estas três razões - frustração em relação à "grande coligação", falhanço nas políticas de combate às alterações climáticas e a posição "antinacionalista" dos Verdes - são os motivos do nosso sucesso..Então, na sua opinião, Angela Merkel não está a fazer o suficiente em matéria ambiental? Não se trata da minha opinião, basta ver os factos. Durante os anos de governo Merkel, e já são 14, a Alemanha praticamente estagnou no que diz respeito à emissão dos gases de efeito estufa. Ora, em anos anteriores, com o executivo liderado pelo SPD em coligação com os Verdes, de 1998 até 2005, e com o governo conservador-liberal chefiado por Helmut Kohl, até 1998, a situação era diferente. Durante esses anos, a Alemanha esteve, muitas vezes, à frente na luta contra a redução de emissão destes gases, o que deixou de acontecer desde que Merkel assumiu o poder. Fizemos progressos significativos no que diz respeito à produção de eletricidade, ao incentivo das renováveis e ao fim do esquema de comércio de emissões, que levou à sua redução, mas tudo isso não chegou para compensar a emissão de gases de efeito estufa gerados pelo setor dos transportes. O governo alemão nunca foi suficientemente corajoso para atacar a indústria automóvel..A Alemanha está preparada para um governo liderado pelos Verdes? Somos realistas nesse aspeto. Mas aprendemos com a experiência, no período entre 1998 e 2005, em que fizemos parte do governo federal, e também com as várias experiências nos executivos regionais. Nada acontecerá sem os Verdes, principalmente na área ambiental. Por isso há muita gente na Alemanha que acredita que seria muito positivo se os Verdes voltassem a governar, mas isso só seria possível com uma condição, isto é, havendo eleições antecipadas. Não estou convencido de que isso vá acontecer em breve..Isso significa que acredita que a coligação que forma o atual governo vai resistir até às próximas legislativas, em 2021? O medo é um bom conselheiro..E, entretanto, o que vai acontecer aos partidos do centro que integram a coligação? É difícil fazer um prognóstico porque, por agora, não vejo ninguém que concentre o poder no SPD. O último líder foi abolido e os que expulsaram Andrea Nahles do lugar não pensaram numa alternativa. Noutros tempos, os sociais-democratas da Renânia do Norte-Vestefália ou da Baixa Saxónia teriam apresentado outro nome - estes são os dois principais estados federados para o SPD -, mas agora não conseguem. Por isso, quem será o novo líder é uma questão em aberto. Na minha opinião, eles não marcarão um congresso tão cedo. Houve propostas para que isso acontecesse em dezembro, mas acho que eles vão esperar para se poderem reorganizar. Os democratas cristãos estão a passar pelo mesmo que o SPD já passou em 2003, 2004, isto é, sabem que se quiserem uma maioria vão ter de formar uma coligação com um partido de esquerda (...) Se formarem uma coligação com o SPD terão de ceder nas políticas sociais, com os Verdes, as cedências serão nas políticas ambientais, e isso pode faze-los perder eleitorado da direita, que passa a votar no partido Alternativa para a Alemanha (AfD)..Gostaria que um futuro governo da Alemanha passasse por um entendimento dos partidos de esquerda, com uma geringonça, como em Portugal? [Risos] Não é sensato pensar nisso como um desejo. O interessante de Portugal, e também de Espanha, é que souberam encontrar uma resposta real ao crescimento dos nacionalismos emergentes no centro e leste da Europa. A crise económica de 2008-2009 fortaleceu mais os partidos de esquerda do que os de direita, mas, em última instância, é sempre necessário ter uma maioria. As eleições na Baviera são um bom exemplo, os Verdes tiveram um excelente resultado, mas se juntarmos estes votos com os do SPD, e do outro lado, os da CDU com os da AfD e dos Liberais, percebemos que a maioria dos eleitores votaram na direita. Por isso, duvido que os resultados em Berlim ou em Bremen (onde o SPD e os Verdes arrecadaram mais votos) sejam representativos do que se passa no resto do país. Claro que gostaria de ver uma maioria de esquerda no poder, mas, se não for possível conseguir essa maioria, os partidos do centro têm de se coligar com forças políticas do espectro oposto. Esse é o grande problema da CDU, do SPD e dos Verdes. Isso se a tendência se mantiver..Como antigo ministro do Ambiente, quais são para si as prioridades que um governo formado pelos Verdes deve adotar? Combater as mudanças climáticas, o que significa estabelecer metas mais ambiciosas. Por exemplo, impor limitações ao setor dos transportes. Em segundo lugar, superar a crise europeia, o que só se consegue ultrapassando a diferença económica que existe entre o sul e o norte da União Europeia, o que significa o fim da austeridade imposta por Merkel ao resto da Europa. Precisamos de mais investimento em infraestruturas, em políticas amigas do ambiente, em energias renováveis, etc., também para combater o desemprego existente especialmente no sul da Europa.