Na rentrée do CDS, "Chicão" continua "religiosamente em silêncio"

Na primeira reentrada política que o CDS faz sem ter deputados eleitos, o DN tentou saber o que é feito do presidente do partido que obteve esse resultado.
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De 1 a 4 de setembro, em Espinho, o CDS-PP organiza a sua tradicional Escola de Quadros do final do verão, uma das iniciativas de rentrée do partido. Três ex-líderes foram convidados: Paulo Portas (intervirá por videoconferência no dia 1), Manuel Monteiro (que vai falar no dia 2 sobre "O dia depois do amanhã à direita") e Assunção Cristas (logo a seguir a Monteiro, sobre a direita e as políticas de sustentabilidade).

No que toca a ex-líderes é isto. Mas as presenças de ex-líderes sublinham as ausências de outros: José Ribeiro e Castro e Francisco Rodrigues dos Santos (a Adriano Moreira, quase a fazer cem anos, a saúde não aconselha grandes movimentações). Ribeiro e Castro, notoriamente adversário da candidatura de Nuno Melo à liderança do CDS-PP, tem-se mantido no ativo, com presença permanente no espaço público. Mas Francisco Rodrigues dos Santos, "Chicão" como sempre foi conhecido no partido e na Juventude Popular, remeteu-se a um profundo silêncio desde que deixou a presidência centrista, em abril passado, no congresso onde o eurodeputado Nuno Melo conquistou a liderança - e agora para gerir um partido pela primeira vez sem qualquer representação na Assembleia da República, destronado pelo Chega e pela Iniciativa Liberal.

"O que é feito de si, Francisco Rodrigues dos Santos?", perguntou-lhe há dias o DN, numa conversa por WhatsApp. Já digeriu o resultado das legislativas e procurou explicações? A direção do partido tem-no tratado bem? Admite voltar à política?

E a resposta foi a esperada. De política não diz nada, "para já", mantendo-se portanto "religiosamente em silêncio" e num "registo de absoluta discrição", o que lhe tem implicado recusar "vários convites" para "aparecer e falar".

No entanto, permanece atento, como aliás prometeu que o faria, no discurso do adeus que pronunciou no congresso do partido onde entregou a liderança a Nuno Melo: "Não vou andar por aí, porque sempre estive aqui e vou continuar por aqui, acordado para o meu partido e com a esperança de que daremos a volta por cima". E nada esquece.

Para já, o que lhe interessa, é mesmo ganhar a vida como advogado - deixou a sociedade, Valadas Coriel & Associados, que integrava antes de liderar o CDS , lançando-se por conta própria. Ao mesmo tempo, ele e a mulher, Inês Guerra Vargas, com quem se casou sendo já presidente do partido, vão-se preparando para a chegada do primeiro filho, José Pedro, que vai nascer por alturas do Natal.

É um adeus definitivo à política? Isso o próprio já não garante. A resposta é a que se pode esperar de um católico: "O futuro a Deus pertence".

- Nasce em Coimbra, no dia 29 de setembro de 1988, filho de pai militar e mãe advogada.

- Frequentou o Ensino Básico e Secundário no Colégio Militar. Licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

- Eleito líder da Juventude Popular em dezembro de 2015 e reeleito em maio de 2018.

- Em janeiro de 2020, num congresso muito renhido em Aveiro, é eleito líder do CDS-PP, batendo o candidato "portista" João Almeida. Nunca um presidente do partido tinha sido eleito por margem tão curta. O grupo parlamentar, com apenas cinco deputados, eleito nas legislativas de 2019 (Assunção Cristas presidia ao partido), é-lhe totalmente adverso.

- Casa-se em 17 de julho de 2021 com Inês Guerra Vargas. Por ocasião do próximo Natal irá nascer-lhes o primeiro filho, um rapaz, José Pedro.

- Em outubro de 2021 o Parlamento chumba o Orçamento do Estado para 2022. O país percebe então que se terá de avançar para eleições legislativas antecipadas. Em dezembro de 2021, o Presidente da República convoca essas eleições para 30 de janeiro deste ano.

- A sua liderança é marcada por um combate interno constante com dirigentes da ala "portista". Alguns demitem-se do partido (Francisco Mendes da Silva, Adolfo Mesquita Nunes ou António Pires de Lima, por exemplo).

- Recusa realizar o congresso do partido que estava marcado para finais de novembro de 2021 - e onde já se sabia que iria enfrentar Nuno Melo.

- 30 de janeiro de 2022: realizam-se eleições legislativas. Desastre absoluto para o CDS-PP, que, pela primeira vez na sua história, deixa de ter representação parlamentar. Francisco Rodrigues dos Santos demite-se da liderança. O último discurso pronunciou-o em 4 de abril, no congresso que elegeu o novo presidente do partido, o eurodeputado Nuno Melo.

joao.p.henriques@dn.pt

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