Ao empreender em 1908 um voo de resistência de 24 horas para o seu dirigível LZ 4, o conde Ferdinand von Zeppelin tinha presente a frágil saúde financeira do projeto no qual laborava desde 1874, a construção de aeróstatos dirigíveis de estrutura rígida. O oficial e inventor alemão, nascido em 1838, fizera do seu nome sinónimo de aeronaves propulsionadas por motor próprio. No início do século XIX, nomes como o francês Henri Giffard e o brasileiro Santos Dumont, povoavam os céus com aeronaves de estruturas flexíveis, alimentadas a hélio ou hidrogénio. Nenhum levou a era dos dirigíveis às conquistas de Ferdinand von Zeppelin. Em julho de 1900, Zeppelin fazia o voo inaugural do LZ 1, nas margens do lago Constança, na fronteira da Alemanha, Áustria e Suíça. Oito anos depois, em 1908, sem apoio do governo de Guilherme II, o inventor alemão elevou o seu LZ 4 acima dos picos das montanhas alpinas. Doze horas de voo e mais de 380 Km percorridos valeram a Ferdinand von Zeppelin a aclamação da população e um generoso apoio financeiro. Apoio reiterado em 1908, quando o LZ 4 se despenhou nas margens do lago Constança. Somaram-se as doações acima dos seis milhões de marcos. Zeppelin constituía a sua empresa, a Luftschiffbau-Zeppelin GmbH..Ainda antes da I Guerra Mundial, a frota de cinco dirigíveis operada pela companhia Zeppelin, somava 15 mil horas nos céus, 1.600 voos e 38 mil passageiros transportados. Ferdinand von Zeppelin almejava atingir novas latitudes com os seus dirigíveis. O oficial alemão sonhava com um voo polar, projeto adiado com o eclodir da I Guerra Mundial. Zeppelin morreu em 1917, 14 anos antes da concretização do voo que levou o gigantismo do dirigível LZ 127 Graf Zeppelin a uma nova fronteira a norte. Em agosto de 1931, a nave de 236 metros de comprimento, alcançou a latitude de 82ºN, muito acima do paralelo da latitude 66ºN, correspondente ao círculo polar ártico. A expedição científica Polarfahrt ("viagem polar" em alemão), reuniu na gôndola do dirigível uma equipa de cientistas dos Estados Unidos, da Alemanha, da União Soviética e da Suécia, numa década em que cresciam as tensões internacionais, anteriores à II Guerra Mundial..A exploração ártica do Graf Zeppelin adicionou predicados ao currículo que o dirigível acumulava desde 1928, ano do seu lançamento. Após os primeiros voos intercontinentais, o aeróstato concluiu, em 1929, um voo em redor do mundo, com 21 dias de périplo e mais de 34 mil Km percorridos. A bordo da viagem mundial, seguiam personalidades como a jornalista britânica Grace Marguerite Hay Drummond-Hay, a primeira mulher a completar uma volta ao mundo por via aérea, o explorador ártico, ornitólogo e geógrafo australiano Hubert Wilkins e o explorador polar italiano Umberto Nobile que, dois anos volvidos, em 1931, protagonizaria um dos momentos mais simbólicos da expedição Polarfahrt..A expedição polar reuniu, entre outros nomes, o meteorologista soviético Pavel Molchanov, o engenheiro alemão Aschenbrenner, o explorador polar norte-americano Lincoln Ellsworth, sob orientação do cientista soviético Rudolf Samoilovich. A anteceder a expedição, o voo preparatório foi entregue nas mãos do comandante alemão Hugo Eckener, o homem que concluíra com êxito a viagem em redor do globo terrestre. Eckener conduziu o Graf Zeppelin numa jornada de três dias até ao setentrional arquipélago de Spitsbergen, no norte da Noruega, para, depois, empreender caminho rumo à Islândia..A 24 de julho de 1931, o Graf Zeppelin partiu da cidade alemã de Friedrichshafen para a viagem de cinco dias rumo às altas latitudes polares. A bordo, o alemão Arthur Koestler fazia a cobertura jornalística da empresa ártica que levava, entre outros objetivos, a medição do campo magnético da Terra e mapear regiões remotas como a Terra de Francisco José. Naquele arquipélago, a tarde de 27 de julho reservou o encontro do Graf Zeppelin com o navio quebra-gelo soviético Malygin. Umberto Nobile, a bordo da embarcação assumiu a responsabilidade da entrega de 120 Kg de correio endereçado a partir da União Soviética. Por seu turno, no dirigível, viajavam 300 Kg de cartões e cartas, remetidos a partir da Alemanha. Uma generosa fatia da verba que suportou a expedição Polarfahrt proveio da venda de selos postais comemorativos, na Alemanha e na União Soviética..No dia 28 de julho de 1931, a viagem polar do Graf Zeppelin alcançou a latitude mais setentrional da expedição, a 910 Km de distância do Pólo Norte, antes de iniciar a viagem rumo a sul, à Alemanha, onde chegou a 31 de julho..A aventura polar de 1931 do dirigível construído pela Luftschiffbau-Zeppelin adiava um projeto nascido meses antes e que preconizava um encontro singular na calota polar. Em junho de 1931, Hubert Wilkins, que antes completara a volta ao mundo em dirigível, protagonizara notícia ao anunciar a empresa que o levaria de submarino, a partir de Nova Iorque, às frias águas árticas, numa expedição científica com encontro marcado com o Graf Zeppelin. Com o magnata da imprensa, William Randolph Hearts a adquirir por cerca de 60 mil dólares os direitos exclusivos da história, Wilkins deixou o porto de Nova Iorque a bordo do submarino norte-americano Nautilus, equipado para operações especiais sob o gelo. Porém, a missão estava fadada ao fracasso. Ainda antes de atingir águas inglesas, o submarino soçobrou a duas tempestades em alto-mar. Reparado, o Nautilus rumou à ilha norueguesa de Spitsbergen. As águas frias do ártico cobravam o seu quinhão no submarino. O sistema de água doce congelara e a estrutura revelava fissuras, o Nautilus não servia a sua função primeira, submergir. Sem contacto via rádio por vários dias, o submarino regressou a Spitsbergen a 20 de setembro de 1931. Não obstante os reveses, a missão cumprira alguns dos seus objetivos, com a recolha de dados meteorológicos e com Wilkins a entregar aos escaparates o livro Under the North Pole..A 20 de novembro de 1931, o Nautilus foi afundado nas águas de um fiorde norueguês. Nove anos mais tarde, o Graf Zeppelin conhecia o seu destino final: em 1940, o dirigível foi desmantelado, com a estrutura de alumínio reaproveitada para servir o esforço bélico alemão na II Guerra Mundial. Por seu turno, em outubro de 1940, o quebra-gelo Malygin protagonizou o seu ato derradeiro. A embarcação naufragou ao largo da Península Kamchatka, no leste da Rússia, ao regressar de uma expedição hidrográfica. Morreram os 98 tripulantes a bordo..dnot@dn.pt