"Na atual estrutura da SAD só acredito em Pinto da Costa"

<strong>Entrevista a Martins Soares</strong>. Foi o único a desafiar Pinto da Costa em eleições, por duas vezes (1988 e 1991). Agora, só admite ir a votos outra vez quando o presidente sair
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Foi o único, em 34 anos, a concorrer contra Pinto da Costa em eleições do FC Porto e vai contar a experiência em livro. Como surgiu essa ideia?

Resolvi lançar o livro porque um dia fui com o meu neto ao museu do FC Porto e, como ele sabia que eu tinha sido candidato à presidência, disse-me: "Ó avô, mas aqui não está nada que fale em ti." No museu responderam-lhe que não tinha havido mais nenhuma desde Pinto da Costa. Foi aí que decidi publicar o livro sobre e incumbi dois jornalistas para que retirassem todas as notícias que foram publicadas nos jornais da época - quer na primeira [1988], em que tive cerca de 5,4%, quer na segunda [1991], em que tive 22,6%. Foram compiladas 522 fotografias, entrevistas e notícias. Está tudo a ser editado e será publicado dentro de meses, sob o título História de Uma Candidatura. Vou entregar um ao Museu do FC Porto, porque é algo que faz parte da história do clube.

Como gostaria que os adeptos olhassem para esse livro? Acha que ele pode ser útil, na conjuntura atual, aos sócios do FC Porto?

Fiz isto para documentar uma candidatura que de facto existiu e para que ficasse como património para o futuro do clube. É uma experiência que faz parte do passado, mas foi uma experiência que marcou o FC Porto. Pinto da Costa ganhou as eleições e, felizmente, passados todos estes anos verifico que foi bom ele ter ganho. Não sei o que eu poderia ter feito, mas o que é certo é que durante estes anos Jorge Nuno conduziu bem o FC Porto. E acho que poderá ainda ter a hipótese de dar a volta a este momento mau que se vive agora no clube.

Como é a sua relação atual com o clube? É um adepto "ativo"?

O meu portismo atual é o de sócio, que sou há 65 anos, desde que nasci. O que me interessa é o bem do FC Porto e que o clube volte rapidamente às vitórias.

E com Pinto da Costa?

Tive alguma aproximação há uns tempos, mas atualmente não tenho qualquer tipo de relação.

Como vê a situação atual do clube?

Preocupa-me, como Jorge Nuno reconheceu, que o FC Porto tenha batido no fundo. Para ele ter dito isto é porque realmente algo de mal se passa dentro do FC Porto.

E porque é que acha que o FC Porto bateu no fundo?

É a realidade. O FC Porto não está bem. Acho que o problema está na SAD e em toda a sua estrutura. Na altura em que Jorge Nuno conseguir reestruturar a SAD, com pessoas diferentes, que tenham uma ideia do relacionamento com o FC Porto não para benefício pessoal mas para benefício do clube, conseguirá dar a volta à situação.

Acha que o presidente ainda é capaz de voltar a pôr o FC Porto no topo, como prometeu em recente entrevista ao Porto Canal?

Há que lhe dar o benefício da dúvida para que ele possa, ao fim destes anos todos, e depois de tudo o que fez pelo FC Porto, levantar novamente o clube e dar-nos alegrias como as que tivemos até hoje.

Já disse que não voltaria a candidatar-se contra Pinto da Costa. Mantém?

Sim. O futuro a Deus pertence, mas contra Pinto da Costa não serei candidato. Agora, penso que no FC Porto não há sucessores naturais. Neste momento há duas estruturas: uma é a SAD, em que o dinheiro fala mais alto e onde os acionistas vão na altura própria escolher a pessoa mais bem qualificada para suceder a Jorge Nuno, quando este sair. Da SAD, sou sócio mas muito minoritário, não tenho qualquer tipo de peso (umas ações que comprei logo no início e que guardo comigo). Outra coisa é o clube, com eleições decididas pelos sócios. Aqui não é possível prever o futuro nesta altura, porque não há sucessores naturais. A ideia de que alguém está a ser preparado para ser o futuro presidente... isso não acontece assim. O FC Porto é rico em pessoas que na altura exata poderão posicionar-se para se candidatarem. Quanto a mim, espero que esta era Pinto da Costa ainda dure mais uns anos, com novas alegrias, e na altura própria decidirei conforme a circunstância.

Não teme então a ideia de um vazio no pós-Pinto da Costa?

Não, não, não. A massa associativa do FC Porto é de tal forma grande que não vai haver vazio nenhum. Do que tenho a certeza é de que não há ninguém de quem se possa dizer nesta altura que vai ser o futuro presidente. A sucessão será normal e todos estarão em condição de se candidatarem, dentro das normas regulamentares, claro.

Revê-se nalgum dos nomes que são apontados como possíveis sucessores de Pinto da Costa, de António Oliveira a Vítor Baía?

Não. Muito honestamente: se me perguntar neste momento quem é que terá mais possibilidades de ser o futuro presidente da SAD do FC Porto, como é óbvio, em termos de capacidade financeira e peso na estrutura da SAD, eu acho que é António Oliveira [é o maior acionista individual]. Para o clube, relativamente a todos os nomes que vão aparecendo, Baías, Gomes ou outro jogador qualquer, são fait--divers. O FC Porto é uma estrutura que não se compadece com nomes que aparecem só porque deram tudo pelo clube enquanto jogadores. Também há sócios que se entregam tanto ou mais ao FC Porto e que são capazes de dar resposta mais adequada às exigências da estrutura.

Na atual estrutura da SAD não vê nenhum possível sucessor?

Não. Na atual estrutura da SAD só acredito efetivamente em Jorge Nuno Pinto da Costa. Todos os outros, com é óbvio, se estão na estrutura e se isto não está bem, como o próprio presidente reconheceu, não vejo que tenham capacidades para a presidência do FC Porto.

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