Quanta garra nesta primeira longa-metragem da turco-francesa Deniz Gamze Ergüven. Nome a decorar, com certeza. Nomeado aos Óscares, na categoria de filme estrangeiro, pela França (embora se fale turco, a produção é francesa), Mustang é um objeto interessantíssimo pela sua vitalidade política, numa imagem não imediatamente política.
Cinco irmãs adolescentes presas em casa, depois de uma tarde de inocente brincadeira com rapazes (aos olhos néscios da aldeia, pecaminosa), é a conjuntura que lança as sementes do ódio. Os casamentos arranjados sucedem-se, mas o sonho de fugir para a cidade - Istambul - não esmorece completamente: esse idêntico sonho encontramos em As Três Irmãs, de Tchékhov, como lembrou a realizadora em entrevistas.
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Ao mesmo tempo que a revolta toma conta dos espíritos - o do espectador incluído - o filme de Ergüven não se desliga nunca do feitiço feminino, do simples "estar juntas" destas irmãs, atrizes não profissionais, claramente escolhidas a dedo. Até nessa naturalidade, bem longe de academismos, se respira a alma da palavra: Mustang, cavalos "sem dono", filme bravo.
Classificação: ****