Mussavi: primeiro-ministro de guerra que queria regressar moderado

Mir Hossein Mussavi, um conservador moderado e rival derrotado do presidente Mahmud Ahmadinejad nas presidenciais iranianas de sexta-feira, estava afastado da ribalta política depois de ter sido primeiro-ministro durante a guerra entre o Irão e o Iraque.
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A contestação ao resultado oficial do escrutínio, que dá uma vitória clara a Ahmadinejad, levou milhões de apoiantes de Mussavi às ruas de Teerão, em manifestações que fizeram pelo menos já sete mortos.

Homem discreto, que se define como um "reformador ligado aos princípios" da revolução islâmica de 1979, Mussavi regressa à cena política depois de um eclipse de 20 anos.

Durante um debate televisivo com Ahmadinejad justificou o seu regresso com o "perigo" que este último faria correr ao Irão se permanecesse à frente do país.

Embora lhe falte carisma, tornou-se uma verdadeira moda para muitos jovens das cidades, que esperam que ele liberalize a sociedade. Teve também o apoio de uma parte do eleitorado feminino depois de se ter comprometido a assegurar a igualdades dos sexos.

Nascido a 29 de Setembro de 1941, foi um dos fundadores do Partido islâmico que apoiou o ayatollah Ruhollah Khomeiny depois da partida do Xá da Pérsia.

Foi nomeado primeiro-ministro em 1981, ano que se seguiu ao ataque ao Irão pelo Iraque de Saddam Hussein.

Durante esta guerra de oito anos, é o ayatollah Khomeiny que dirige o pais, e o ayatollah Ali Khamenei, hoje Guia Supremo, que é o presidente.

Mir Hossein Mussavi ocupa-se de gerir a economia em tempo de crise. Impõe um sistema de racionamento dos alimentos e um controlo dos preços rigorosos.

Um ano depois do fim da guerra, em 1989, o cargo que ocupava é suprimido.

Deixa então a ribalta política para ser conselheiro dos presidentes Akbar Hachémi Rafsandjani (1989-1997), um conservador pragmático e depois Mohammad Khatami (1997-2005), um reformador.

Este último, que se candidatara inicialmente ao escrutínio de 12 de Junho, desistiu a favor de Mussavi, a quem apoiou. O ex-primeiro-ministo é aliás membro do Conselho de Discernimento, um órgão que arbitra instituições dirigidas por Rafsandjani.

Conservador moderado, comprometeu-se a devolver a estabilidade numa economia abalada pela política dispendiosa e inflacionista do presidente Ahmadinejad.

Em política externa, queria mudar a imagem "extremista" do país no exterior, numa referência às declarações incendiárias de Ahmadinejad, quer contra Israel, quer contra os ocidentais.

Em contrapartida, é fiel à linha oficial da República Islâmica no que toca ao dossier nuclear iraniano.

Além do apoio de Khatami, beneficia de uma boa reputação nos círculos intelectuais. Arquitecto de formação, dirige a Academia das Artes do Irão, e a mulher, Zahra Rahnavard, está à frente da Universidade Al-Zahra de Teerão.

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