O diretor do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), António Filipe Pimentel, afirmou hoje, em Lisboa, que aquela instituição está em "iminência de rutura", e defendeu que é preciso decidir com urgência o seu futuro modelo de gestão..O responsável falava à agência Lusa no intervalo do debate "MNAA do século XXI - Modelos de gestão, financiamento e recursos humanos nos museus da Europa", que decorre naquele museu até ao final da tarde, com a participação de diretores de museus congéneres de Itália, Espanha, e Luxemburgo.."O museu está na iminência de rutura, desde logo no plano dos recursos humanos. Temos menos de 50 por cento dos funcionários que tínhamos em 1998. E também precisa de crescer fisicamente, e ganhar uma nova dimensão que permita cumprir bem a sua missão", sustentou o responsável..Sublinhando que se trata de uma decisão "política", o diretor reiterou uma posição que tem vindo a defender ao longo dos últimos anos, sustentada na conclusão de que o MNAA "está num limite além do qual já não é possível avançar".."A situação atual resulta da seguinte ponderação: devemos desperdiçar todo o trabalho de consolidação de marca internacional que o museu fez nos últimos anos, e de continuar a ser o embaixador de Portugal no mundo, ou saltar em frente, protegendo tudo isso e criando as condições para que esse arranque?", questionou..Para passar essa barreira, defende um modelo de autonomia que garanta "condições administrativas, de recursos humanos, e financeiras" para o futuro.."Ou desperdiçamos tudo o que conseguimos ou saltamos em frente", reiterou, recordando que a anterior tutela da Cultura - através da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) - pediu a realização de um estudo, em 2013, com consultores externos, sobre o futuro do museu, concluído e entregue há dois anos, e sobre o qual "nunca tomou posição ou avançou com medidas"..O estudo, encomendado pela DGPC em 2013, e entregue à tutela em 2015, defende a criação de um modelo de empresa pública para o MNAA..Intitulado "MNAA2020", configura as bases de uma proposta de novo modelo de gestão, dotando o museu de instrumentos administrativos e financeiros e de um quadro de recursos humanos progressivamente proporcional, bem como a expansão e requalificação das estruturas físicas desta entidade..A propósito deste estudo, o Grupo dos Amigos do MNAA decidiu "organizar um debate entre museus públicos semelhantes, na dimensão e missão, de Espanha, Itália e Luxemburgo".."O que tem de se encontrar, é a fórmula de manter essa dimensão pública do museu, que é público, mas dando-lhe a agilidade que ele atualmente não tem", sustentou o diretor da instituição..O atual ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, tem vindo a declarar publicamente que está a ser estudado um novo modelo jurídico para dar mais autonomia a algumas entidades culturais..Pimentel defende uma maior autonomia na gestão do orçamento - que tem sido de dois milhões de euros nos últimos anos -, "mas mantendo o acompanhamento prévio [e posterior], a validação total das contas pela administração central, dando a estabilidade de poder contar com um orçamento a três anos, para poder gerar uma dinâmica construtiva".."Estamos a falar de museus que estão todos no espaço europeu, e no mesmo quadro jurídico e administrativo. O modelo autonómico é inteligente, flexível e permite bem cumprir a sua missão", advogou o responsável..Recordou ainda que, em Portugal, "o MNAA é a única instituição da sua representatividade que não tem um modelo autónomo de gestão: a Biblioteca Nacional, a Cinemateca, a Torre do Tombo, os teatros nacionais, todos têm autonomia, com limites, que sempre existem, mas foi pensado para eles esse modelo, precisamente porque sempre se sentiu essa necessidade"..Criado em 1884, o MNAA acolhe a mais relevante coleção pública de arte antiga do país, de pintura, escultura, artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão Marítima Portuguesa, desde a Idade Média até ao século XIX, e é um dos museus com maior número de obras classificadas como tesouros nacionais..Além dos Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, o acervo integra ainda, entre outros tesouros, a Custódia de Belém, de Gil Vicente, mandada lavrar por D. Manuel I, datada de 1506, os Biombos Namban, do final do século XVI, que registam a presença dos portugueses no Japão..Hieronymous Bosch, Albrecht Dürer, Piero della Francesa, Hans Holbein, o Velho, Pieter Bruegel, o jovem, Lucas Cranach, Jan Steen, van Dyck, Murillo, Ribera, Nicolas Poussin, Tiepolo, Fragonard são alguns dos mestres europeus representados na coleção do MNAA..Em 2016, o MNAA somou 175.578 visitantes, mantendo o segundo lugar na lista dos mais visitados dos museus nacionais.