Autarcas e bombeiros em choque com presidente da AGIF

Em causa estão as declarações de Tiago Oliveira na comissão parlamentar de Agricultura e Pescas, na quinta-feira, quando disse que "há municípios a gastar meio milhão de euros, uma barbaridade de dinheiro, nos bombeiros, quando não gastam dinheiro a gerir a floresta".
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A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) repudiou esta sexta-feira as declarações do presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), que criticou as autarquias por gastarem mais em bombeiros do que em gestão florestal. A passagem de Tiago Oliveira pela Comissão Parlamentar de Agricultura e Pescas provocou grandes ondas de choque, com a Comunidade Intermunicipal do Algarve a pedir mesmo a demissão do presidente da AGIF e os bombeiros profissionais a acusá-lo de estar a mais no sistema.

"Os municípios são, no âmbito das suas competências próprias, os responsáveis pela proteção civil ao nível municipal e o grande financiador dos corpos de bombeiros, a par com a administração central", sublinhou em comunicado a ANMP, liderada por Luísa Salgueiro (PS), também presidente da Câmara de Matosinhos, no distrito do Porto.

Para a associação que representa as autarquias, o "investimento dos municípios nos bombeiros visa garantir a segurança e socorro da população".

Já a Comunidade Intermunicipal do Algarve veio a público anunciar que "os 16 autarcas algarvios não têm confiança e nem reconhecem competência a Tiago Oliveira para ocupar tão importante e fundamental cargo, e pedem, por isso, que o presidente da AGIF -- Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais - se demita, reconhecendo que não tem condições para se manter em funções".

A Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) manifestou esta posição conjunta em comunicado e, em declarações à agência Lusa, o presidente do organismo, António Miguel Pina, disse que o homólogo da AGIF, Tiago Oliveira, não tem condições para permanecer no cargo e mostra desconhecimento pela realidade dos territórios do interior afetados por incêndios florestais.

"O senhor presidente da AGIF, Tiago Oliveira, desde a primeira hora tem tido uma posição, no nosso entender, pouco conhecedora do que se passa no mundo rural e contrária àquilo que é a perspetiva de desenvolvimento do interior por parte de muitos dos municípios que têm esta problemática dos fogos florestais", afirmou o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve , António Pina, à Lusa.

Segundo o presidente da AMAL, "Tiago Oliveira acha que a solução para os fogos florestais é desertificar por completo e proibir qualquer atividade económica e humana nos territórios".

O representante expressou a sua discordância com esta posição: "Os municípios do interior têm uma visão completamente diferente. Há que gerir a floresta, há que gerir o território, mas a presença do homem, mantendo aquilo que são os pequenos locais, vilas e aldeias é determinante para uma boa gestão da floresta", justificou.

Para o presidente da AMAL, o posicionamento de Tiago Oliveira "promove a desresponsabilização do poder central e procura pôr sobre os ombros dos municípios e dos autarcas aquilo que o poder central não faz", porque a "gestão da floresta tem de ser feita e assumida pelo Governo".

Também os presidentes dos 11 municípios da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) manifestaram "indignação" pelas declarações do presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais no parlamento, anunciando o "corte de relações" com a AGIF.

"O senhor engenheiro Tiago Oliveira lamenta o investimento feito nos corpos de bombeiros, ao mesmo tempo que afirma que os mesmos recebem financiamento pela área ardida. O senhor engenheiro tem obrigação de saber que isso é mentira. Se não o sabe, o caso é ainda mais grave. As fontes de financiamento dos corpos de bombeiros são públicas", afirmam os autarcas em comunicado.

Para os presidentes das câmaras municipais de Almeirim, Alpiarça, Azambuja, Benavente, Cartaxo, Chamusca, Coruche, Golegã, Rio Maior, Salvaterra de Magos e Santarém, "quando um alto responsável de uma agência governamental decide espalhar notícias falsas, algo deve ser feito pela tutela".

"A CIMLT e os seus presidentes de câmara decidiram cortar todas as relações com a AGIF, estando apenas presentes em reuniões que a Lei obrigue", acrescentam.

Os 11 presidentes de câmara dos municípios associados da CIMLT "exortam o presidente da AGIF a provar o que disse" na Comissão de Agricultura e Pescas da Assembleia da República "ou a demitir-se".

Em causa estão as declarações de Tiago Oliveira na comissão parlamentar de Agricultura e Pescas, na quinta-feira, quando disse que "há municípios a gastar meio milhão de euros, uma barbaridade de dinheiro, nos bombeiros, quando não gastam dinheiro a gerir a floresta".

Os bombeiros profissionais acusaram o presidente da agência para a gestão dos fogos de "estar a mais no sistema", repudiando e considerando ofensivas as afirmações sobre gastos municipais com bombeiros e pagamentos em função da área ardida.

Em comunicado divulgado, a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais e o Sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP/SNBP) acusaram o presidente da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), Tiago Oliveira, de "estar a mais no sistema", depois de na quinta-feira, numa audição parlamentar, ter questionado o facto de os "corpos de bombeiros receberem em função da área ardida", considerando o "objetivo perverso".

"ANBP/SNBP consideram que estas palavras são ofensivas e demonstram que o responsável da AGIF desconhece por completo a realidade do setor. Os corpos de bombeiros, de todo o país, necessitam de mais financiamento para aquisição de equipamentos, viaturas, fardamentos, entre outros, e sabe-se que muitas destas verbas são desviadas para a AGIF, em verbas avultadas, tendo em conta cada instituição", acusaram os bombeiros profissionais.

"Ao longo dos séculos, os bombeiros têm demonstrado o seu valor, estando sempre presentes para qualquer ocorrência. Não podem ser tratados desta forma!", concluem no comunicado.

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