O parlamento autorizou esta terça-feira a deslocação do Presidente da República ao Qatar para assistir ao primeiro jogo da seleção nacional de futebol no Mundial 2022, na quinta-feira..O projeto de resolução apresentado pelo presidente da Assembleia da República foi aprovado com votos a favor das bancadas do PS, PSD e PCP, abstenção do Chega e votos contra de IL, BE, PAN e Livre..Os deputados do PS Isabel Moreira, Alexandra Leitão, Carla Miranda e Pedro Delgado Alves votaram contra este projeto de resolução, e abstiveram-se os deputados do PSD Hugo Carneiro, António Topa Gomes e Fátima Ramos e os socialistas Maria João Castro, Miguel Rodrigues e Eduardo Alves..Intervindo depois da votação, o líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, justificou o voto favorável da sua bancada afirmando que "o parlamento não se constitui para caucionar as opções políticas de viagens e de relações internacionais do Presidente da República".."A forma como a Assembleia da República, desde 1976, tem interpretado (...) esta anuência, este assentimento, é a de que a saída do território nacional de sua excelência o Presidente da República não coloca em causa o normal funcionamento das instituições e, por isso, mais do que razões de política externa ou razões internacionais, são questões de funcionamento das instituições", sublinhou..Por sua vez, o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, sublinhou que o seu partido decidiu abster-se porque "Marcelo Rebelo de Sousa é o Presidente da República da história portuguesa que mais viajou, já triplicou as viagens em relação a Mário Soares e Ramalho Eanes"..Pela Iniciativa Liberal, o líder parlamentar, Rodrigo Saraiva, disse que o seu partido considera que Marcelo Rebelo de Sousa "não devia viajar ao Qatar porque este campeonato do mundo está a ser usado pelo regime do Qatar como uma ferramenta de geopolítica para ter uma validação internacional de uma credibilidade que não tem"..O deputado do Bloco de Esquerda José Soeiro defendeu que "nenhuma autoridade e nenhum órgão de soberania deveria fazer a deslocação ao Qatar, fazendo-se representar neste mundial" e legitimando um regime que comete "violações reiteradas e chocantes dos direitos humanos"..A líder parlamentar do PCP, Paula Santos, salientou que o seu partido considera "inaceitável a exploração dos trabalhadores no Qatar", mas entende que "a expressão inequívoca dos direitos pode assumir diferentes dimensões e não tem de passar por ações de boicote à participação desportiva de atletas de ou equipas, nem do seu acompanhamento constitucional"..Pelo PAN, a deputada única Inês de Sousa Real salientou que o Qatar não respeita os direitos humanos, das mulheres ou da comunidade LGBTI, sendo essa a razão pela qual o "seu partido jamais poderia acompanhar com um voto favorável a deslocação do senhor Presidente da República ao Qatar"..O deputado único do Livre, Rui Tavares, criticou o facto de nenhum partido ter condenado a "corrupção na FIFA", salientando que, ao Portugal decidir acompanhar institucionalmente o Mundial do Qatar, está a ser "cúmplice de uma decisão" corrupta, numa intervenção que mereceu os aplausos das deputadas socialistas Alexandra Leitão e Isabel Moreira..O Presidente da República não pode ausentar-se do território nacional sem o assentimento da Assembleia da República, de acordo com a Constituição..No pedido de deslocação, Marcelo Rebelo de Sousa solicita autorização ao parlamento para se ausentar do país entre quarta e sexta-feira para assistir ao primeiro jogo da seleção no Qatar, e admite a possibilidade de a deslocação se efetuar via Cairo para participar numa conferência sobre o "Futuro da Educação de Qualidade", juntamente com outros chefes de Estado..Na mesma carta dirigida ao presidente do parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa refere que "foi acordada a participação das mais altas figuras do Estado nos jogos da Seleção das Quinas", estando prevista a presença do presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, no segundo jogo (28 de novembro) e do primeiro-ministro, António Costa, no terceiro (em 2 de dezembro)..Na passada quinta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa disse que "o Qatar não respeita os direitos humanos", mas pediu que o foco se concentrasse na seleção nacional, declarações que geraram críticas de vários partidos.."O Qatar não respeita os direitos humanos. Toda a construção dos estádios e tal..., mas, enfim, esqueçamos isto. É criticável, mas concentremo-nos na equipa. Começámos muito bem e terminámos em cheio", disse Marcelo Rebelo de Sousa, no final do jogo de preparação entre Portugal e a Nigéria, em Lisboa..Marcelo: "Qatar não respeita os direitos humanos". Mas vai assistir ao Portugal-Gana.Um dia depois, em Fátima, o chefe de Estado ressalvou que iria marcar presença no primeiro jogo se o parlamento o permitisse e assegurou que pretendia falar de direitos humanos..Também na sexta-feira, o primeiro-ministro, António Costa, afirmou que os responsáveis políticos portugueses estarão no Campeonato do Mundo de Futebol, no Qatar, a apoiar a seleção nacional e não a violação dos direitos humanos ou a discriminação das mulheres nesse país.."O campeonato do mundo é lá [no Qatar] e quando formos lá não vamos seguramente apoiar o regime do Qatar, a violação dos direitos humanos no Qatar e a discriminação das mulheres no Qatar. Quando formos lá, vamos apoiar a seleção nacional, a seleção de todos os portugueses, a seleção que veste a bandeira", sustentou..Notícia atualizada às 14:00