O governo israelita, liderado por Benjamin Netanyahu, encontra-se cada vez mais na situação em que vai ter de lutar em múltiplas frentes. A coligação governante está cheia de nacionalistas de direita e políticos ultrarreligiosos que tentam implementar a sua ideologia na vida quotidiana de cada israelita a qualquer custo, e isso pode tornar-se extremamente caro para todos..O aumento da violência e muitos confrontos entre o exército israelita e os palestinianos, deixando um grande número de baixas, está a chegar a um ponto em que será quase impossível para Israel deter ataques terroristas, perpetrados por pessoas isoladas, sem planeamento, tentando matar quem quer que seja que possam encontrar na rua. Não há preparativos, reuniões e organizações que possam sinalizar às forças de segurança israelitas que algo vai acontecer e por isso os ataques não podem ser evitados..Ao mesmo tempo, o número de civis mortos nos confrontos cresce e gera críticas principalmente no mundo árabe, tornando irreal o sonho do primeiro-ministro Netanyahu de estabelecer mais relações com os países árabes, principalmente do Golfo. Além disso, isso pode criar problemas nas relações com países vizinhos com os quais já existem acordos de paz, como a Jordânia e o Egipto. Isso seria um retrocesso na normalização entre os países do Médio Oriente..Em segundo lugar, as relações de Israel com o seu principal aliado, os Estados Unidos, vão tornar-se bastante problemáticas, tendo em vista as diferenças entre a política do governo israelita em relação aos colonatos judaicos na Cisjordânia e as ideias dos EUA sobre a solução dos dois Estados em relação aos palestinianos. Isso pode tornar-se um problema sério, sabendo que a política israelita também está a enfrentar várias organizações judaicas nos EUA, o que pode ser prejudicial a longo prazo..Mas a principal frente onde o governo em Jerusalém não pode vencer é na crescente divisão dentro da população judaica israelita e a resistência de pessoas insatisfeitas vai-se radicalizar. No centro deste conflito está a proposta da reforma judicial e o aumento das atividades de colonatos que o governo vai viabilizar. O problema é que, ao fazer isso, Israel está a mudar lentamente para dois sistemas jurídicos diferentes, um para judeus e outro para palestinianos, e isso não vai funcionar bem..Não há governo que consiga, ao mesmo tempo, lutar com sucesso em tantas frentes e é uma questão de tempo até que a coligação no governo entenda isso. Então, alguns dos partidos menores podem ver-se na situação de deixar a coligação e derrubar o governo, levando o país para novas eleições. Não se deve esperar que a estabilidade política de Israel seja arquivada. Isso só pode encorajar todos os inimigos do país a adicionar-lhe mais alguns problemas, políticos, de segurança e económicos. Tudo isso junto colocará em risco o futuro democrático de Israel..A posição mais difícil é a do primeiro-ministro. Ele tem de se mostrar como alguém que consegue controlar os seus ministros e decidir a política a seguir. Mas, a situação em que ele está, pessoalmente envolvido nos problemas (o processo judicial contra ele), torna-o mais fraco, torna-o alguém que tem de entrar em compromissos o tempo todo, mantendo boas relações com todos os lados. Claro que isso é quase impossível quando as posições dos lados em conflito estão tão distantes umas das outras e não há nada que ele possa fazer a esse respeito. É óbvio que ninguém na coligação do governo esperava uma reação tão forte vinda do exterior e, principalmente, do interior do país e não vai bastar chamar anarquistas a todos os manifestantes..Isso não resolve o problema, só o agiganta..Investigador do ISCTE-IUL e antigo embaixador da Sérvia em Portugal